Mais medidas de estímulo podem ser necessárias para apoiar o setor industrial
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Bloomberg Opinion — A recuperação da China não está sofrendo de um excesso de otimismo. Em vez de um boom que redefiniria a perspectiva de crescimento global e daria um impulso à Ásia, a expansão chinesa pode ser apenas uma subida modesta.

O desempenho mediano é melhor do que nenhum crescimento quando estamos falando de uma economia de US$ 18 trilhões, a segunda maior do mundo e ainda com chances de ultrapassar os Estados Unidos nesta década. Mas a recuperação está longe das grandes esperanças que acompanharam o fim da política de covid zero em dezembro.

Talvez a recuperação da China seja mais bem definida em duas áreas: de um lado, há um setor industrial em dificuldades, com ganhos limitados para além da costa do país, e, do outro, um cenário doméstico robusto dominado pelos gastos do consumidor.

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Alguns dos dados mais recentes e comentários oficiais não são boas notícias para a primeira dessas duas áreas. O país requer um apoio importante do governo e de taxas de juros, declarou o Politburo do Partido Comunista, o principal órgão de tomada de decisão, na sexta-feira (28).

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As referências da liderança à necessidade de uma política “enérgica” para sustentar o crescimento foram um pouco diferentes do quadro que o grupo de elite descreveu no final do ano passado.

Isso significa que a recuperação chinesa acabou a seis meses depois de começar? Dificilmente. O Federal Reserve injetou dinheiro na economia dos Estados Unidos durante anos após o fim da crise financeira global em 2009; várias ondas de programas de estímulo monetário do chamado quantitative easing (afrouxamento quantitativo) continuaram até serem reduzidas no final de 2014.

Assim como ocorre com a China agora, a baixa inflação dos Estados Unidos deu ao banco central liberdade para lubrificar a expansão econômica.

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Não vamos julgar a China com muita severidade por querer garantir os ganhos depois do fim de medidas draconianas para controlar a pandemia. A intenção está correta.

As fábricas são um dos elos mais fracos. Os índices de manufatura dos gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) mostraram um declínio surpreendente na atividade em abril. “Resumindo: a recuperação provavelmente é estreita demais para ser sustentável – e corre o risco de perder força”, escreveram os economistas da Bloomberg Chang Shu e David Qu. Eles antecipam que o Banco Popular da China cortará os juros ainda neste mês.

A menor produção industrial tem uma qualidade circular. Embora os números não ajudem muito a impulsionar a economia mundial, eles também refletem uma desaceleração em andamento globalmente.

Os consumidores, ao contrário, mostram um apetite voraz por gastar. Os PMIs que não são vinculados à manufatura caíram, mas ainda permaneceram firmemente em território positivo. Os retornos antecipados de um feriado de uma semana na China são animadores. Cerca de 19,7 milhões de viagens ferroviárias foram feitas no sábado, o maior número já registrado em um único dia, informou a mídia local, citando dados oficiais. O tráfego deve ser 20% maior do que em 2019, antes da pandemia.

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O consumo também subiu no fim de semana, com grandes empresas de varejo vendo as vendas aumentarem 21% em relação ao ano anterior, de acordo com dados do Ministério do Comércio citados pela emissora estatal CCTV. O setor imobiliário continua se recuperando após a queda do ano passado.

As famílias estão consumindo mais dentro da China, e menos no exterior. Em um relatório na sexta-feira, o banco Nomura previu uma longa espera até que as viagens internacionais da China retornem ao nível pré-pandemia. O turismo ao exterior é limitado pela oferta menor de voos e a menor capacidade de aeroportos fora da China, além dos requisitos de teste de covid em alguns países e a demora na emissão de passaportes e de vistos. Isso no curto prazo.

Em um horizonte mais longo, a geopolítica e como os chineses se sentem em relação ao mundo também tendem a afetar as viagens internacionais. “O resultado é que pode levar mais dois a três anos para que o turismo internacional da China se recupere totalmente aos níveis pré-pandemia” e “é improvável que retorne à tendência pré-covid”, escreveram os analistas do Nomura.

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Uma definição cativante e depreciativa para a recuperação da China ainda não pegou. Lembre-se de como a expansão econômica após o fiasco do subprime nos EUA foi inicialmente ridicularizada como a “recuperação sem empregos”?

Da mesma forma, descrições nada lisonjeiras foram feitas sobre o crescimento econômico que se seguiu a uma desaceleração no início dos anos 1990. Ambos os ciclos acabaram sendo elogiados nos livros de história por sua resiliência e, em última análise, pela capacidade de geração de empregos.

É possível ser muito pessimista em relação à China. Há benefícios consideráveis para o país de um crescimento baseado em uma recuperação doméstica. A velha ideia de que a China é onde está todo o crescimento global parece menos convincente do que durante as altas do passado.

Quando ouvimos as pessoas falarem sobre a economia da China, podemos agora perguntar: qual?

Daniel Moss é colunista da Bloomberg Opinion e escreve sobre economias asiáticas. Anteriormente, foi editor executivo da Bloomberg News para economia global e liderou equipes na Ásia, Europa e América do Norte.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

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