Exclusivo: CEO do Airbnb destaca riscos da IA e o ‘efeito SVB’ para startups

Em entrevista à Bloomberg Línea, Brian Chesky compartilhou seus pensamentos sobre o futuro da indústria tech e os ventos contrários que ela enfrenta

Brian Chesky, cofundador e CEO do Airbnb
06 de Maio, 2023 | 04:24 PM

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Bloomberg Línea — Para o CEO do Airbnb (ABNB), Brian Chesky, a próxima revolução tecnológica será impulsionada pela inteligência artificial (IA), à medida que as empresas do setor se adaptam a um cenário de volatilidade nos mercados em que “terão que racionalizar seus negócios”. Ele também considera que, após a crise do Silicon Valley Bank (SVB) – que abalou a indústria financeira – , “as pessoas em geral podem ser mais cautelosas ao guardar seu dinheiro em bancos locais”.

Considerado um dos executivos mais influentes da atualidade, o empresário avalia que o mundo dos negócios será impulsionado pela inteligência artificial, que “mudará tudo” e deverá liderar o que ele considera que será a próxima revolução tecnológica, em meio ao boom global que já gera ferramentas como o ChatGPT, desenvolvido pela OpenAI.

“Acredito que a IA será tão profunda para o mundo quanto a Internet. Algumas pessoas dizem que será tão grande quanto a Revolução Industrial (...). Vai mudar a vida de todos, de todas as empresas”, disse Brian Chesky em entrevista por vídeochamada com a Bloomberg Línea.

Ele antecipou que o Airbnb deverá usar o poder desta tecnologia para ser mais produtivo, referindo-se às atividades dos engenheiros.

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Mais que isso, ele vê a inteligência artificial como útil para tornar o atendimento ao cliente mais eficiente e, principalmente, para conectar os consumidores com recomendações ainda mais precisas por meio de novos algoritmos.

“A IA pode fazer coisas que os algoritmos básicos de aprendizado de máquina não podem. Vejo que a mudança que vem da IA é apenas o começo”, disse.

Para Brian Chesky, de 41 anos, a situação atual só é comparável ao momento em que surgiram inovações como a câmera fotográfica, que deixou de ser um bem ao qual poucos tinham acesso para se tornar uma ferramenta cotidiana.

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“Eventualmente, todo mundo será capaz de desenvolver software porque ele pode ser comandado pela linguagem natural, ou seja, a que você fala. Com o tempo, você não precisará aprender as linguagens de programação de computador e quando isso acontecer, poderá usá-lo para fazer muitas outras coisas.”

Assim, “o software será significativamente mais ubíquo”, impulsionando, por sua vez, um negócio milionário que, segundo estimativas da International Data Corporation (IDC), alcançou quase US$ 450 bilhões em 2022, superando os US$ 383,3 bilhões registrados em 2021.

“Acredito que o próximo passo será um grande equalizador. Todo mundo terá acesso ao que jamais imaginamos. Teremos pessoas criativas com ferramentas que exigiriam laboratórios muito caros para serem capazes de produzir”, disse.

Mas, por outro lado, ele também está ciente de que a inteligência artificial traz desafios em múltiplos aspectos: “Um dos riscos iniciais não é que as máquinas nos destruam, mas que nos imitem e não saibamos a diferença”.

Ele mencionou que atualmente existem imagens que são geradas pela IA e que nem todo mundo percebe a diferença entre elas e as imagens reais. Isso pode desencadear “uma crise em que não saberemos o que é artificial e o que é autêntico”.

“Acredito que as pessoas ansiarão por coisas mais autênticas e teremos que equilibrar tudo isso. Portanto, acredito que essas são algumas das coisas com as quais lutaremos na sociedade.”

Silicon Valley: o que vem para a indústria tecnológica?

Nos últimos meses, as empresas de tecnologia têm sido afetadas pela volatilidade global dos mercados e apesar dos recentes ganhos, estrategistas como Michael Wilson, da Morgan Stanley (MS), acreditam que a tendência não é sustentável e que os índices voltarão a atingir patamares mínimos.

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O primeiro trimestre foi marcado pelo colapso do Silicon Valley Bank, o que desencadeou pânico entre os investidores e principalmente as startups com fundos alojados lá diante de um possível efeito dominó.

A crise no Vale do Silício, centro global de empreendedorismo e investimento de capital de risco, levou o Federal Reserve a analisar um plano para fortalecer a supervisão bancária nos EUA, segundo informou a Bloomberg News.

Toda essa situação foi ambientada pelos desafios das empresas em um contexto econômico adverso marcado por altas taxas de juros para conter a grande onda inflacionária gerada após a pandemia.

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A consequência foi uma redução de pessoal em várias das maiores empresas do setor, incluindo a plataforma de hospedagem Airbnb, que havia se mantido como uma das poucas empresas de tecnologia a evitarem demissões em massa.

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Em março, a companhia demitiu 30% de sua equipe de RH ou 0,4% de sua força total de trabalho. Mesmo assim, a empresa registrou seu primeiro ano rentável em 2022, com um lucro de US$ 1,9 bilhão.

Segundo o CEO da plataforma, o Airbnb não tinha feito até agora nenhum grande corte de pessoal desde 2020. No contexto atual, os planos também não incluem novas reduções no quadro de funcionários, disse.

“A empresa é muito rentável. Geramos US$ 3 bilhões em fluxo de caixa livre (2022). Estamos muito enxutos. Temos 5% menos de funcionários e 75% mais de receita do que antes da pandemia”, destacou.

No início deste ano, a empresa informou que as reservas dentro da plataforma na América Latina aumentaram no quarto trimestre de 2022 em termos anuais, superando as expectativas dos analistas de Wall Street e refletindo uma forte demanda por viagens.

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De forma geral, Chesky avalia que os mercados estão se sacudindo e que “há muitas empresas privadas em estágios avançados que não serão capazes de arrecadar dinheiro nos valuations anteriores. Elas terão que racionalizar seus negócios”.

Chesky disse que a queda do SVB “diz mais sobre o banco do que sobre a tecnologia”, referindo-se às possíveis lições que esse caso deixaria para o setor.

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“Eu acho que foi uma falha do banco, não da indústria tecnológica. (...) As pessoas, em geral, podem passar agora a ser mais cautelosas ao guardar dinheiro em bancos locais”.

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Os problemas do turismo

Sobre o turismo, o executivo destacou a grande oportunidade para a América Latina na próxima década, principalmente para mercados como a Colômbia, onde o presidente Gustavo Petro disse que este setor tem o potencial de gerar um fluxo de divisas tão significativo quanto o das indústrias extrativas.

Entre os desafios, ele mencionou que para poder obter lucros do turismo, um país tem que fazer investimentos significativos e que geralmente as empresas que se beneficiam são multinacionais e não empresas locais.

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Um terceiro desafio é que “muitas vezes o turismo se concentra em determinados distritos, especialmente os dos hotéis”. Por isso, ele defendeu as mudanças que estão ocorrendo na economia colaborativa na indústria do turismo em sua luta contra os modelos tradicionais.

Os custos da habitação: efeito Airbnb?

O empresário americano também falou sobre as acusações do suposto efeito do Airbnb no aumento dos preços das casas em mercados emergentes como a América Latina, onde compradores mais endinheirados estão comprando casas em áreas estratégicas para investir e gerar renda extra por meio dessas plataformas.

“Os aumentos nos preços das casas são resultado da demanda de um grupo econômico de alta renda que está interessado em viver no setor ‘gentrificado’”, explicou à Bloomberg Linea o arquiteto urbanista e professor da Faculdade de Arquitetura e Design da Universidade Javeriana, David Burbano.

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Questionado sobre o assunto, Chesky voltou aos primórdios do negócio em 2007, quando ele e seu parceiro Joe Gebbia alugaram seu próprio apartamento em São Francisco para as pessoas que chegavam à cidade para o Congresso Mundial de Design Industrial, em um momento em que os hotéis estavam lotados.

“A razão pela qual conto essa história é porque queremos que a habitação seja mais acessível quando possível”, defendeu na entrevista.

Ele justificou que frequentemente as cidades “adotam regulamentações que incluem sistemas de registro que normalmente limitam a quantidade de noites que se pode alugar em um Airbnb” e, nesses casos, tentam encontrar soluções.

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“Queremos ser parte da solução, não do problema. Queremos fortalecer as comunidades. O Airbnb começou como uma forma de ajudar as pessoas comuns a obterem renda adicional com o maior ativo que têm em suas vidas: sua casa. Tenho a esperança de que o Airbnb esteja ajudando as pessoas a pagarem suas contas”, disse ele.

A empresa também foi questionada recentemente por relatos de câmeras ocultas em locais registrados na plataforma, algo que Brian Chesky considerou “um assunto muito sério”. “Temos tolerância zero para câmeras ocultas. Se alguma vez encontrarmos alguém, o removeremos da plataforma e o denunciaremos às autoridades”.

A empresa anunciou recentemente mudanças na plataforma (Airbnb Rooms) em Nova York, incluindo a exibição do preço total (antes de impostos), instruções de check-out, mapas e novas funções de privacidade.

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Daniel Salazar

Profissional de comunicação e jornalista com ênfase em economia e finanças. Participou do programa de jornalismo econômico da agência Efe, da Universidad Externado, do Banco Santander e da Universia. Ex-editor de negócios da Revista Dinero e da Mesa América da Efe.