Bloomberg — Fernando Haddad estuda uma série de medidas para impulsionar o crédito na maior economia da América Latina, dizendo que o mercado de capitais ficou “paralisado” sob o peso de altas taxas de juros.
O ministro da Fazenda, que se juntou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao criticar a política monetária restritiva do Banco Central, disse que discutir uma agenda de crédito com o BNDES será sua próxima prioridade depois de aprovar um plano fiscal destinado a fortalecer as finanças públicas.
“Quem busca o mercado de capitais no Brasil hoje é quem realmente precisa de capital de giro, até mesmo dinheiro para folha de pagamento”, disse Haddad nesta terça-feira (4) durante uma entrevista à Bloomberg News em seu gabinete em Brasília. “Eles [empresários] estão pegando empréstimos e olhando para o passado em vez de fazer investimentos e olhar para o futuro.”
Entre as medidas em estudo, disse o ministro, está um proposta da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) para um programa de crédito subsidiado semelhante ao chamado “plano safra” que existe para o setor agrícola. O plano atenderia empresas que buscam capital para investimentos de longo prazo e para projetos de transição ambiental.
Haddad disse que está analisando o pedido, ainda que acredite que uma reforma tributária seria a melhor contribuição que o governo pode dar à indústria brasileira. Um porta-voz da Fiesp confirmou que seu presidente Josué Gomes teve uma reunião com Haddad, quando a ideia foi discutida, mas não deu detalhes sobre o plano.
O mercado de capitais brasileiro está se recuperando da campanha agressiva de aperto monetário do Banco Central, que elevou a taxa de juros de referência para 13,75% ao ano, a partir de uma baixa histórica de 2% ao ano no começo da pandemia.
O colapso da varejista Americanas (AMER3) no começo deste ano aumentou a incerteza, já que os investidores se preocupam com o risco de quebras corporativas adicionais. Haddad disse anteriormente que os banqueiros centrais não parecem entender totalmente a situação do crédito no país e expressou a expectativa de que seu plano fiscal abra espaço para taxas de juros mais baixas.
No entanto o ministro disse que tem uma linha aberta com presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, com quem está “buscando convergência em fatos econômicos.” Também houve reconhecimento mútuo dos esforços das autoridades fiscais e monetárias, acrescentou.
Haddad disse que apresentou a Lula cinco candidatos para substituir dois diretores do banco central cujos mandatos terminaram (Bruno Serra, de Política Monetária, e Paulo Souza, de Fiscalização). Embora não tenha revelado os nomes, ele disse que as escolhas ideais devem ter perícia e conhecimento de política monetária, e não necessariamente ser alguém que simplesmente apoiaria o governo.
Nomear membros pró-governo para o Copom, por si só, “seria um erro”, disse Haddad. Ele acrescentou que mesmo os atuais membros do comitê têm visões diferentes sobre a situação econômica e que geralmente decisões consensuais sobre taxas de juros são uma questão de construção política.
Veja mais em Bloomberg.com
Leia também
Brasília em off: a resposta do BC de Campos Neto à pressão política de Lula
Brasília em off: Como o BNDES reagiu ao recado do Banco Central na ata do Copom