Onde investir R$ 10 mil: as estratégias diante dos juros altos e das incertezas

A Bloomberg Línea conversou com gestores de patrimônio e especialistas para entender como alocar os investimentos no cenário atual de instabilidade

Ambiente de juros elevados tem atraído para a renda fixa investidores de outras classes de ativos em busca de bons retornos e maior segurança
03 de Abril, 2023 | 04:48 AM

Bloomberg Línea — O ambiente de juros elevados tem atraído para a renda fixa os investidores de outras classes de ativos em busca de bons retornos e maior segurança, dadas as incertezas domésticas e externas. Mas quais as melhores oportunidades hoje e como diversificar para além dos produtos mais conservadores, preparando o portfólio para o cenário de maior turbulência?

A Bloomberg Línea conversou com gestores de patrimônio e especialistas para entender onde alocar um montante de R$ 10 mil. A ideia é considerar um dinheiro “novo” e um investidor que já montou sua reserva de emergência, isto é, aquela fatia de maior liquidez, para necessidades de curto prazo.

Rodrigo Sgavioli, head de alocação e fundos da XP, reforça que diante da democratização dos investimentos, com cada vez mais plataformas oferecendo um leque de produtos variados com diferentes mínimos de investimento, o volume do dinheiro não reflete mais a quantidade de risco a ser tomada no portfólio.

“O que vai ditar a exposição será o quanto esse montante é representativo frente à reserva de emergência e frente ao que a pessoa ganha e gasta”, destaca. “Se tiver um peso grande, de fato é preciso um zelo muito maior com a alocação desse patrimônio, porque uma perda seria muito representativa”, diz.

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Confira, a seguir, as diferentes “caixinhas” de investimento e as principais oportunidades hoje, segundo os especialistas consultados, para perseguir ganhos acima do CDI:

Renda fixa: crédito privado

Feita a reserva de emergência com títulos de renda fixa pós-fixados e de alta liquidez, caso dos papéis Tesouro Selic, por exemplo, o investidor pode destinar de 50% a 80% do portfólio para produtos de renda fixa de mais risco, afirma Sgavioli, pensando em um investidor de perfil conservador/moderado.

Nesta fatia, o especialista cita produtos de crédito privado, cujo investimento pode ser feito diretamente via debêntures e Certificados de Recebíveis Imobiliários e do Agronegócio (CRIs e CRAs), caso o investidor tenha conhecimento ou conte com uma assessoria para escolher os melhores papéis.

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Caso contrário, fundos de crédito privado “high grade”, buscando liquidez até D+30, podem ser uma opção, além de fundos D+15 em que é possível encontrar retornos de CDI mais 2%, destaca o alocador da XP. Vale reforçar que produtos de crédito privado não são investimentos para montar caixa.

Renda fixa: IPCA+

Do total alocado em renda fixa, cerca de 15% a 25% podem ser destinados a títulos públicos e privados atrelados à inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

Nesta fatia, Sgavioli destaca os títulos públicos Tesouro IPCA+, que chegam a pagar nesta quarta-feira (29) até inflação mais 6,30% ao ano, caso do papel com vencimento em 2045.

Quanto aos prazos, um “mix” de vencimentos mais curtos e longos pode ser interessante diante da incerteza atual, com reforma tributária e arcabouço fiscal no radar, avalia Sgavioli. Para os mais curtos, os papéis de 2025 e 2026 podem ser uma boa escolha, enquanto no médio prazo, 2035 e 2040 podem compor o grupo.

Caso o investidor opte por papéis privados, a sugestão é não concentrar os ativos, escolher bem o emissor e saber que no meio do caminho, por conta da marcação a mercado, o papel pode vir a ter rentabilidade negativa, mas que no prazo final pagará o contratado.

Os papéis atrelados à inflação são os preferidos de Flavio Byron, sócio do escritório Guelt Investimentos, que diz gostar do carrego de juros reais e, ainda, de uma possibilidade de saída antecipada com “ganho turbinado”.

Ele alerta, contudo, que quanto maior o prazo de vencimento, maior o risco. “Quando o investidor escolhe uma NTN-B longa, acima de 2040, é como se ele estivesse comprado em bolsa. Mas se o investidor tiver perfil de longo prazo, aguentar o tranco e gostar de juros reais, esse é um bom momento para investir nesses papéis.”

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Renda fixa: prefixados

Ainda na renda fixa, uma “pimentinha” na carteira, segundo Sgavioli, são os títulos prefixados.

Esses papéis, contudo, são mais arrojados e o ideal é ter uma parcela maior apenas quando o investidor tiver maior clareza sobre o rumo da taxa de juros. Para Sgavioli, ter uns 5% (da parcela de renda fixa) nesses papéis pode ser interessante, de forma a captar o corte dos juros no longo prazo.

Vinícius Teixeira, sócio do escritório Messem Investimentos, também diz gostar de títulos prefixados curtos, de dois anos. “Se os juros não têm muito espaço para subir e a economia tende, no longo prazo, a cortar as taxas, o investidor pode tentar capturar esse movimento.”

Já Byron, da Guelt, diz não ver um prêmio de risco que justifique a alocação nesses títulos no momento.

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“O prefixado curto já está precificado, ou seja, não tem prêmio a ser ganho e, se der errado, o investidor só tem a perder”, diz. Ele conta que, por ora, prefere esperar o anúncio de cortes surfando em um pós-fixado ou IPCA+ a Selic de 13,75% ao ano.

Fundos multimercados

Considerados os “camaleões” do mercado, por permitirem exposição a diferentes classes de ativos, de renda fixa a ações, câmbio, entre outros, os fundos multimercados também contribuem para diversificar o portfólio, destaca Sgavioli. Na XP, a fatia sugerida aos clientes varia de 10% a 20% nas carteiras moderadas.

O especialista destaca que o investidor precisa gastar tempo para entender quem é o time de gestão por trás da estratégia, analisar o histórico e track record, mesmo que retorno passado não seja garantia de retorno futuro. O horizonte de investimento, destaca, deverá ser de no mínimo três anos, de forma a captar o melhor resultado.

Dado o cenário de maior incerteza global, Sgavioli, da XP, diz gostar de uma composição de fundos multimercado macro, quant sistemático e “long & short” (que pode apostar tanto na alta quanto na queda dos ativos).

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Alocação internacional

Para completar a diversificação, Byron, da Guelt, chama a atenção para a alocação internacional.

“A fatia offshore não pode ser desprezada. Uma parte da carteira dolarizada faz bem, é um hedge [proteção] que pode não dar lucro em um primeiro momento, mas não é um ativo que deve ser ignorado, principalmente em carteiras médias e grandes.”

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Ele chama a atenção para a democratização desses produtos, com fundos acessíveis a pequenos investidores.

Sgavoli, da XP, destaca fundos de renda fixa global de gestoras como a Oaktree Capital e a Pimco, por exemplo, que podem ser acessados pelos investidores pessoa física via plataformas de investimento no Brasil.

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Mariana d'Ávila

Editora assistente na Bloomberg Línea. Jornalista brasileira formada pela Faculdade Cásper Líbero, especializada em investimentos e finanças pessoais e com passagem pela redação do InfoMoney.