Como a mudança no comando da Movida afeta a estratégia da empresa e da Simpar

Gustavo Moscatelli substitui Renato Franklin, que vai para a Via; Simpar, holding que controla JSL, Movida e Vamos, buscará redução da alavancagem, diz CFO Denys Ferrez

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Bloomberg Línea — Qual o caminho para a rentabilidade e o lucro no setor de transporte e logística em 2023: alugar um caminhão ou um carro de passeio? O Grupo Simpar (SIMH3), holding da família Simões, tem apostado na locação de veículos pesados por vislumbrar maiores oportunidades de ganhos de participação de mercado, de olho na demanda crescente por esse tipo de contrato, principalmente no campo. Isso significa que a companhia tende a reforçar investimentos na Vamos (VAMO3), em vez da Movida (MOVI3).

A nova estratégia passa por mudanças no comando. Nesta sexta-feira (31), a Movida anunciou que Renato Franklin deixa o cargo de CEO e que ficará na companhia até dia 30 de abril, quando seguirá para o conselho de gente. O executivo vai assumir o cargo de CEO da Via (VIIA3) em 1º de maio.

Gustavo Moscatelli, que atuou como CFO da Vamos e era o CFO da Movida, assume o cargo de CEO da companhia de locação de carros de forma interina e vai acumular a posição de diretor de relações com investidores. Para o lugar de CFO da Movida, o conselho de administração elegeu Pedro Almeida, CFO da Drive on Holidays, a unidade de negócios da companhia em Portugal.

Em entrevista à Bloomberg Línea, realizada antes dos comunicados, o CFO do Grupo Simpar, Denys Ferrez, afirmou que 2023 será o ano da priorização da Vamos, e não da Movida, que dobrou de tamanho em 24 meses e deve ter um menor volume de capex (investimento). Em 2022, a holding contratou investimento de R$ 13,5 bilhões, acima dos R$ 8,5 bilhões registrados no ano anterior.

“Entramos neste ano com um momento diferente nas empresas do grupo. Quem protagonizava a maior parte desse capex anual por muitos anos era a Movida. Neste ano, houve uma inversão: a Movida ficou com 35% disso, e a Vamos, com 55%. Quando se olha para 2023, qual o desenho dado aos investidores? A Vamos continua em um ritmo de desenvolvimento compatível com um mercado ainda inexplorado, com um posicionamento de liderança”, explicou o executivo.

Ferrez acrescentou que o serviço de locação de caminhões oferece aos clientes vantagens em um ambiente de juros elevados. “É inegável que alugar um caminhão, quando o objeto não é seu core business, gera um ganho de produtividade, pois permite ao cliente focar o capital no negócio dele.”

Na B3, a Vamos vale R$ 14 bilhões, com valorização de 7% em 12 meses e de 8% neste ano, superior à performance do Ibovespa (perda de 5%) em 2023.

A Movida tem valor de mercado de R$ 2,8 bilhões, com desvalorização de 55% em 12 meses e alta de 2% no ano. Já a holding Simpar vale R$ 6,3 bilhões, com baixa de 11% em 12 meses, mas valorização de 11% em 2023.

“A Movida entra 2023 focada em eficiência operacional, ajuste do mix da frota, e vai buscar uma melhoria do retorno sobre o capital investido. Veremos um volume de capex bem menor do que o visto no ano passado”, afirmou o CFO do Grupo Simpar.

A holding teve um crescimento na rentabilidade sobre o capital investido (ROIC), fechando 2022 em 17,7%, uma alta de 4,5 pontos percentuais em relação a 2021.

Já as despesas financeiras consumiram R$ 4,1 bilhões dos R$ 5,1 bilhões do resultado operacional no ano. No quarto trimestre de 2022, as receitas de serviços alcançaram R$ 5,9 bilhões (+80% em 12 meses), como reflexo em parte do crescimento orgânico e também da incorporação dos resultados das aquisições dos últimos 12 meses.

O Grupo Simpar espera que o agronegócio seja o principal motor para o aumento dos lucros da Vamos. O agronegócio representa 30% do faturamento da empresa, que atingiu a cifra recorde de R$ 4,9 bilhões em 2022, alta de 74%. Em três anos, a empresa investiu R$ 2,3 bilhões para ampliar sua presença no setor.

Em 2022, a Vamos colocou no agronegócio mais de 2 mil conjuntos de rodo caçamba ou rodo caminhoneiro, veículos responsáveis por escoar a safra de grãos do Centro-Oeste.

Nível de alavancagem

Entre os analistas do setor, um ponto de atenção no último balanço do Grupo Simpar foi o nível de alavancagem (medida por Ebitda/dívida líquida) da companhia em um contexto de aperto monetário e previsão de menor crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) para 2023.

“A partir dos atuais níveis de alavancagem (3,5x), a capacidade da Simpar em reduzir a alavancagem nos parece um desafio hérculeo. Seja pelo cenário de arrefecimento da atividade, no ambiente macroeconômico, que poderá penalizar o crescimento na geração de caixa, ou pelo cenário de crédito doméstico e internacional mais restritivo, que deverá manter elevado o custo de captação ao longo de 2023″, apontou o analista Renato Hallgren, do BB Investimentos, em relatório intitulado “Crescimento consistente, mas alavancagem preocupa” sobre o resultado do quarto trimestre.

O CFO da holding disse que a companhia tem sinalizado ao mercado o desejo de um nível de alavancagem abaixo de 3 vezes, mas é possível oscilação acima desse grau nos próximos trimestres.

“Nosso desejo é ir trazendo a alavancagem gradualmente para baixo. Em contrapartida, estamos inseridos em segmentos que dão muitas oportunidades de crescimento. Vamos continuar com essa ideia da redução gradual. Estou olhando o final do ano. Os períodos interinos dentro do ano podem ir um pouco mais para cima ou um pouco mais para baixo”, disse o executivo.

O CFO da Simpar descartou o plano de captação via uma oferta subsequente de ações (follow-on) da Vamos em 2023. Segundo ele, a locadora de veículos pesados já realizou compras antecipadas de novos caminhões e já tem recursos assegurados para suas necessidades.

“O que o mercado pode esperar do Grupo Simpar em 2023 é a expansão da geração de caixa e a disciplina na alocação de capital. Somos conservadores e estamos em uma situação confortável”, disse Ferrez.

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