André Esteves: ‘qualquer estagiário’ teria visto o risco do SVB

Sócio sênior do BTG Pactual disse que a quebra do banco americano foi resultado de ‘má administração grosseira’ causada pela complacência de 15 anos de juros baixos

Experiente investidor espera que as taxas de juros globais permaneçam altas por mais tempo
Por Daniel Cancel e Valentina Fuentes
28 de Março, 2023 | 01:51 PM
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Bloomberg — O bilionário André Esteves, sócio sênior e presidente do conselho do BTG Pactual (BPAC11), disse que “qualquer analista júnior” da América Latina teria sabido administrar o risco de taxa de juros no balanço do Silicon Valley Bank (SVB) a tempo de evitar seu colapso.

Durante participação em um evento do BTG Pactual em Santiago, no Chile, Esteves disse que a volatilidade que agita os mercados globais é resultado de 15 anos de complacência com taxas de juros próximas de zero que levaram a excessos generalizados.

Segundo ele, as pessoas foram pegas desprevenidas quando as taxas subiram repentinamente e não tiveram a experiência da realidade sobre como administrar esses riscos.

“É uma gestão de ativos e passivos muito básica que qualquer analista júnior trabalhando em um banco no Chile, Brasil, Colômbia ou qualquer outro país que apresente um pouco mais de volatilidade saberia”, disse Esteves.

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“Foi uma má administração grosseira de sua incompatibilidade de taxas de juros e qualquer estagiário do BTG, do Banco do Chile ou de qualquer outro grande banco chileno aprendeu nos primeiros três meses de trabalho que você não deveria fazer isso — mas aparentemente eles não aprenderam”, completou.

Aperto monetário

Esteves, de 54 anos, disse que espera que as taxas de juros globais permaneçam altas por mais tempo, já que reduzir a inflação para 2% ao ano, a meta do Fed, será uma tarefa difícil. Ele criticou o Federal Reserve por suas mensagens que considerou conflitantes sobre o aperto monetário, dizendo que os diretores do banco central americano precisam manter o rumo mesmo que isso leve à recessão.

“Isso significa que o avião está voando, mas o piloto não está necessariamente dirigindo”, disse ele sobre o Fed.

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Ainda assim, Esteves foi claro ao diferenciar entre o momento atual e a crise financeira global de 2008 e 2009.

“Depois de 15 anos de taxas zero, você tem toda uma geração de traders, gestores de carteiras, economistas, analistas que não conhecem esses conceitos básicos”, disse ele. “Eles só conhecem a inflação pelo livro-texto. As pessoas nunca viram um banco central hawkish [rigoroso] ou taxas reais positivas, e é com esse deslocamento que estamos lidando”, afirmou.

O banqueiro disse que o colapso do Credit Suisse Group (CS) foi um evento isolado e que o “plano C” dos reguladores conseguiu conter as consequências.

“Outro dia, um regulador me perguntou por que o Credit Suisse faliu e eu disse ‘primeiro lentamente, depois de repente’”, afirmou. “Houve vários sinais ao longo de muitos anos e, de repente, você não consegue sustentar essa situação.”

Esteves, que possui cerca de 25% do capital do BTG Pactual, tem um patrimônio líquido de US$ 5,4 bilhões, segundo o Bloomberg Billionaire Index.

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