Corrida para ativos mais seguros não se trata de bancos, mas sobre próxima recessão

Reposicionamento começou há cerca de duas semanas, quando os problemas no sistema bancário americano ficaram claros com o colapso do SVB

Riscos já existem há algum tempo e vão além dos problemas do sistema financeiro
Por Jan-Patrick Barnert
26 de Março, 2023 | 12:30 PM

Bloomberg — O medo de um aperto nas condições financeiras levar a uma recessão está fazendo com que traders repensem sua exposição ao risco e busquem segurança no mercado de ações.

“O cenário não está muito bom lá fora”, disse Charlie McElligot, estrategista de ativos da Nomura Securities International. “A ‘crise de lucratividade’ dos bancos tornou-se uma ‘crise de solvência’ e atuará como um catalisador para um impulso substancial de aperto nas condições financeiras.”

O reposicionamento começou há cerca de duas semanas, quando os problemas no sistema bancário americano ficaram claros com o colapso do Silicon Valley Bank (conhecido como SVB).

A mudança pode parecer e ser mais violenta às vezes, não apenas porque o setor financeiro está no centro de tudo, mas também porque o mercado de ações se recuperou no início do ano. Isso agora está sendo rapidamente desenrolado.

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No entanto, os riscos já existem há algum tempo e vão além dos problemas do sistema financeiro.

Quedas de dois dígitos em empresas como Deutsche Bank ou Société Générale, da França, no mês passado refletem principalmente o impacto nos lucros dos bancos se a atividade de empréstimos encolher e as empresas tiverem que aumentar suas provisões para perdas com empréstimos.

Juntamente aos bancos, outros setores sensíveis ao crescimento caíram na sexta-feira (24) na bolsa, com queda nos estoques de energia, e o petróleo tipo WTI recuando abaixo de US$ 70 o barril. Ações de automóveis e mineradoras estavam entre os piores desempenhos, e os papéis de real estate despencaram.

Em vez disso, os investidores correram para setores considerados mais resilientes a crises econômicas, incluindo alimentos, produtos farmacêuticos e telecomunicações.

Esse tipo de posicionamento está entre os motivos pelos quais os mercados de ações testarão novas mínimas nos próximos três a seis meses, escreveram analistas do Bank of America (BAC) liderados por Michael Hartnett em nota na sexta.

Mais evidências são encontradas em modelos de fatores, onde os gestores de recursos estão evitando empresas com altos níveis de alavancagem e volatilidade do patrimônio.

Eles também estão se desfazendo de ações que buscam dividendos e recompras, um sinal claro de que os investidores esperam que as empresas economizem dinheiro no futuro, em vez de distribuí-lo aos acionistas.

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Enquanto isso, o ouro chegou a ser negociado brevemente acima de US$ 2.000, à medida que os investidores buscam portos seguros para enfrentar qualquer tempestade à frente.

Fundos de alta liquidez e baixo risco também registraram suas maiores entradas de recursos desde março de 2020 na semana até 22 de março, com mais de US$ 300 bilhões sendo resgatados ao longo do mês passado, de acordo com uma nota do Bank of America que cita dados da EPFR Global.

A volatilidade do mercado de ações ainda não está perto dos níveis vistos na semana passada, com o índice Cboe VIX negociando em 23.

No entanto, a volatilidade implícita para índices de ações e ETFs dos EUA permanece “bastante tensa”, de acordo com McElligot, enquanto o chamado índice VVIX, que mede a volatilidade da volatilidade, mostrou demanda por hedge “proteção” de risco de cauda (eventos raros e inesperados que normalmente causam perda considerável de patrimônio).

“Na falta de melhores palavras, nossa perspectiva é negativa”, disse Marko Kolanovic, estrategista-chefe de mercados globais do JPMorgan (JPM) em uma conferência em Frankfurt, na Alemanha, na quarta-feira.

Quanto ao posicionamento, Kolanovic aconselha os investidores a buscarem ativos de maior liquidez (caixa) e títulos de curto prazo, onde você é “pago para esperar que a situação se esclareça”.

-- Com a colaboração de Michael Msika

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