Ensino em crise? Na Afya, plano é crescer 20% organicamente e buscar aquisições

Empresa líder em educação médica no país cresce 30% em 2022 e aposta na diversificação com o segmento de serviços digitais B2B, diz o CEO Virgilio Gibbon à Bloomberg Línea

Telão da Nasdaq na Times Square, em Nova York, com a recepção à Afya por ocasião do IPO em 2019
22 de Março, 2023 | 09:00 PM

Preservação de caixa e redução ou manutenção dos níveis de alavancagem têm sido a tônica dos planos das empresas brasileiras neste começo de ano, diante do custo de capital elevado e da desaceleração dos negócios. Para a Afya (AFYA), empresa que lidera o segmento de educação médica no país, no entanto, a expectativa para o ano de 2023 é a de buscar oportunidades em ativos com preços considerados atrativos e manter o crescimento tanto das receitas como do Ebitda na casa de 20%.

“Temos uma alavancagem de 1,9x (dívida líquida/Ebitda), mas um custo da dívida equivalente a 80% do CDI, muito abaixo do de pares do mercado. E pelo menos 90% do nosso Ebitda vai direto para o caixa. Se vamos fazer R$ 1,1 bilhão, R$ 1,2 bilhão de Ebitda neste ano, vamos gerar R$ 1 bilhão de caixa”, disse Virgilio Gibbon, CEO da Afya, em entrevista à Bloomberg Línea sobre o resultado do quarto trimestre, divulgado no fim da tarde desta quarta-feira (22), depois do fechamento do mercado.

A Afya encerrou o ano com receita líquida ajustada (com aquisições) de R$ 2,32 bilhões, com crescimento de 32,3% na comparação anual (ou de 18,5% sem as aquisições). O Ebitda (métrica de geração de caixa operacional) foi de R$ 962 milhões, com alta de 27,4% e margem de 41,5%. Sem as aquisições, o Ebitda ajustado foi de R$ 829 milhões, com avanço de 9,8% e margem de 40,9%. Os números do quarto trimestre de receitas e Ebitda vieram em linha com o consenso de analistas da Bloomberg.

Apesar do resultado, as ações recuavam cerca de 3% nas negociações do after market da Nasdaq, bolsa em que a empresa é listada desde julho de 2019, depois da divulgação do resultado. Elas encerraram a sessão a US$ 10,74, o que representa queda da ordem de 30% tanto no acumulado do ano como em 12 meses - a Nasdaq composite sobe 12% e cai 16% nos mesmos intervalos de tempo.

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Em relatório há uma semana, analistas do Credit Suisse revisaram para baixo o preço-alvo para a ação da Afya para 2023 de US$ 18 para US$ 16,50, o que ainda implica um upside perto de 50%. Segundo a Bloomberg, de sete bancos ou corretoras com cobertura da empresa, cinco recomendam compra, e duas, manutenção da ação na carteira.

“Essa geração de caixa significa uma desalavancagem muito rápida. É uma situação de balanço muito confortável para que a Afya continue crescendo. E é quando a ‘maré baixa que vemos quem está vestido’: muita gente saiu do mercado, preço está baixando, taxa de juros alta, cenário complicado. Ou seja, é oportunidade para que possamos continuar expandindo”, disse Gibbon. “Vamos continuar executando nosso plano de crescimento orgânico e de busca por bons ativos para aquisição.”

Segundo ele, a aquisição concluída no começo do ano da da UNIT, por R$ 825 milhões (enterprise value), a maior da história da Afya, atesta que a empresa segue com apetite por ativos do mercado.

A Afya também apresentou o guidance (projeção) para 2023: receita líquida ajustada no intervalo entre R$ 2,750 bilhões e R$ 2,850 bilhões e Ebitda ajustado entre R$ 1,1 bilhão e R$ 1,2 bilhão. No ponto médio do intervalo, isso representaria um crescimento aproximado de 20% nas duas métricas.

“Nos sentimos confortáveis em ter essa visão de endividamento e de geração de caixa por causa da resiliência que o nosso principal segmento, de educação com foco em medicina, nos traz, em que não vemos perspectiva de mudança. Ele responde por 86%, 87% da receita e nos dá segurança quanto à previsibilidade do setor”, disse Luis André Blanco, CFO da Afya.

O CEO da Afya apontou que, sob a perspectiva de execução, o grande desafio vai ser o crescimento e a maturação do negócio de oferecer serviços B2B no segmento digital. “Temos expectativas muito altas. É a nossa grande aposta e já temos um crescimento orgânico de 25% no ano contra ano. Mal começamos e já estamos com 100 contratos e pode ser uma boa surpresa para os resultados neste ano.”

Do ponto de vista da graduação, ele disse que as informações até aqui indicam que o viés de manutenção do incentivo à formação e à permanência de médicos no interior do Brasil, onde há maior carência, vai ser mantido pelo novo governo, o que vai em linha com a estratégia de negócios da Afya.

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Marcelo Sakate

Marcelo Sakate é editor-chefe da Bloomberg Línea no Brasil. Anteriormente, foi editor da EXAME e do CNN Brasil Business, repórter sênior da Veja e chefe de reportagem de economia da Folha de S. Paulo.