Para conter a sangria, a HSBC Holdings do Reino Unido comprou braço britânico do SVB por uma libra (US$ 1,22)
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Bloomberg Opinion — Se você é um fundador de uma empresa de tecnologia nos Estados Unidos ou na Europa, pode ter passado um pouco mal na última sexta-feira (10), mas acordou na segunda-feira (13) bastante aliviado.

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Durante o fim de semana, bancos, órgãos reguladores e governos se apressaram para conter as consequências do colapso do Silicon Valley Bank (SVB), banco de escolha de startups de tecnologia nos EUA, no Reino Unido, de algumas partes da Europa e até do Brasil.

Incapazes de acessar fundos, muitos depositantes temiam não poder pagar faturas ou até mesmo salários nas próximas semanas. Além do contínuo declínio no setor de tecnologia e do maior escrutínio que as empresas de capital de risco vêm dando às startups, este seria o maior problema de todos.

Mas na noite do domingo (12), o Federal Reserve afirmou que garantiria os depósitos das startups americanas que depositavam no SVB. E no início da manhã de segunda-feira, a HSBC Holdings afirmou que compraria o braço britânico da SVB por uma libra – ou US$1,22. A velocidade com que ambos os governos se moveram para impedir o pânico ou facilitar um negócio deixou muitos fundadores de pequenas empresas surpresos (e gratos).

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Cerca da metade das startups de tecnologia ativas no Reino Unido detinham dinheiro com a unidade britânica do SVB, muitas vezes porque era considerado um banco “amigável para startups” que não tentava sobrecarregar os clientes com taxas ocultas. Ironicamente, o efeito de rede que tornou o Silicon Valley Bank tão bem sucedido no ecossistema de startups de tecnologia também levou à sua queda.

Na quinta-feira (9), em Londres, quando se espalhou a notícia de que o SVB precisava sustentar sua base de liquidez, os fundadores de startups que estavam em grupos de WhatsApp começaram a dizer que “só para serem cautelosos” eles iriam retirar seu dinheiro do banco e colocá-lo em outro lugar. As empresas de capital de risco tentaram acalmar os nervos, mas sem sucesso. Durante o fim de semana, alguns fundos de capital de risco ofereceram financiamento ponte sem juros para ajudar a sustentar as startups que estavam nervosas com o pagamento de salários. Agora parece que essas medidas não serão necessárias.

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Mas o desespero do fim de semana ensinou uma lição para o longo prazo: diversifique suas alocações.

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Um dos fundadores de uma empresa de tecnologia de educação de Londres disse que 85% dos ativos monetários de sua empresa estavam no SVB, o que o fez pensar se sua empresa ainda estaria ativa nas próximas semanas. O colapso do banco “nos ensinou uma valiosa lição sobre diversificação de caixa a longo prazo e monitoramento da exposição de risco de nossos bancos”, disse Toby Mather, cofundador e CEO da Lingumi.

Por sua vez, Dev Amratia, cofundador e CEO do nPlan, uma startup que usa software de machine learning para fazer projetos de construção, disse que o dinheiro de sua empresa foi depositado em 11 bancos diferentes no Reino Unido e nos EUA. Apenas cerca de 12% dos ativos da nPlan foram mantidos no Silicon Valley Bank. Amrati disse ter usado um serviço de administração de caixa chamado Akoni Hub para ajudar a abrir várias contas ao mesmo tempo.

Startups vivem e morrem com dinheiro que conseguiram levantar das empresas de capital de risco. As rodadas de financiamento normalmente acontecem a cada um ou dois anos e, em cada rodada, a empresa recebe uma grande parcela de capital. Pode-se argumentar que as corridas bancárias e até mesmo a tentação de startups usarem todo seu dinheiro poderiam ser evitadas se as empresas de capital de risco não fornecessem todo esse dinheiro de uma só vez. Elas poderiam, por exemplo, distribuí-lo como e quando as empresas startups precisassem, como uma linha de crédito.

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Mas imagine uma empresa de capital de risco fazendo isso para seu portfólio com 50 ou até mesmo 100 startups e você encontrará o problema se essa empresa não puder dar às startups a liquidez de que elas precisam. O sistema atual funciona bem, mas as startups de tecnologia precisam pensar em diversificar suas alocações. O colapso do SVB deve ajudá-las nisso e servir como um alerta para os bancos centrais sobre os riscos de continuar com o aumento das taxas de juros depois de tantos anos de taxas próximas de zero.

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O colapso do SVB também ressalta os prós e os contras de fazer parte de um mundo insular. O Silicon Valley Bank ficou tão bem sucedido entre startups e empresas de capital de risco porque ambas o recomendavam frequentemente umas às outras. Esse efeito de rede cria um contágio social que também ajudou a quebrar o banco. No Reino Unido, muitos fundadores fazem parte dos grupos de WhatsApp para compartilhar ideias e dicas para administrar suas empresas. Muitos dizem que se assustaram porque viram as mensagens dos outros sobre tirar dinheiro do SVB.

Na manhã da segunda-feira, os participantes desses grupos passaram a oferecer um forte apoio ao SVB e se comprometendo a não movimentar seu dinheiro. Isso é bom, mas eles não deveriam agir como se nada tivesse acontecido. O próximo banco a quebrar pode não ter um final tão feliz. Diversifique suas alocações enquanto pode.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

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Parmy Olson é colunista da Bloomberg Opinion e escreve sobre tecnologia. Já escreveu para o Wall Street Journal e a Forbes e é autora de “We Are Anonymous.”

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