Bloomberg Línea — Impulsionada pelo marketing das celebridades, a onda de harmonização facial atraiu o interesse de um relevante player da indústria farmacêutica brasileira. A Cimed, um dos maiores laboratórios de medicamentos genéricos do país em receitas, pretende lucrar com a demanda crescente por ácido hialurônico, usado em procedimentos para evitar flacidez e sinais do envelhecimento da pele.
A partir do segundo semestre, a companhia planeja entrar nesse segmento, fornecendo o produto às clínicas de estética. Em entrevista à Bloomberg Línea, o CEO da Cimed, João Adibe, diz ter fechado uma parceria com um sócio coreano, cujo nome não é revelado, para explorar esse nicho. O executivo também revela a ambição de continuar em 2023 crescendo acima da média do mercado.
Em 2022, a Cimed informou ao mercado que sua receita totalizou R$ 1,9 bilhão, com alta anual de 22,5%. A empresa ganhou market share em 70% de seu portfólio e elevou o tíquete médio dos produtos em 25%. O lucro líquido ajustado subiu 4,9%, representando 13,8% do faturamento. Já a geração de caixa medida pelo Ebitda ajustado atingiu R$ 479 milhões, com margem de 24,7%.
“Sou otimista: 2023 será melhor do que 2022. Vamos aumentar o portfólio, estamos abertos a analisar oportunidades de aquisição e apostamos em novos negócios, como nosso ingresso no mercado de ácido hialurônico”, afirmou Adibe.
A companhia aguarda o aval da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para o lançamento de 150 produtos, segundo o CEO. A Cimed, que se apresenta como o sexto maior laboratório de genéricos no Brasil em faturamento, encerrou 2022 com 77 moléculas em seu portfólio. O mercado de genéricos tem um total de 423 moléculas, segundo a empresa.
O CEO disse que o principal investimento em marketing da companhia neste ano será no segundo semestre para reforçar a visibilidade dos novos negócios, principalmente com publicidade na TV Globo. Estimular a demanda pelo consumo de produtos para imunidade, como vitaminas, é um dos objetivos. “Só 6% da população brasileira toma vitaminas. O potencial é gigantesco”, afirma.
Para levantar recursos, a Cimed realizou, no ano passado, uma emissão de debêntures no montante de R$ 100 milhões. O CFO da empresa, José Roberto Lettiere (ex-CFO da Natura), explicou que a captação serviu para reforçar o capital de giro, acelerar investimentos e alongar dívidas de curto prazo. “Buscamos otimizar nossa rentabilidade com uma forte geração de caixa”, disse Lettiere.
Investimento na seleção
O CEO da Cimed aposta no patrocínio do esporte, principalmente o futebol, como estratégia de divulgação da marca e incentivo ao consumo de produtos para reforço de imunidade, como vitaminas. Palmeiras e Cruzeiros são times de futebol apoiados pelo laboratório, além da seleção brasileira.
“Somos patrocinadores da CBF [Confederação Brasileira de Futebol] e estamos confiantes de que o Brasil vai parar para acompanhar a Copa do Mundo Feminina [de 20 de julho a 20 de agosto, na Austrália e na Nova Zelândia]”, afirmou Adibe.
A transformação digital do laboratório, com investimentos em sua plataforma, também deve ter avanços neste ano. Segundo o CEO, o foco é atender às redes de farmácias, e não a venda direta ao consumidor, evitando travar competição no varejo com seus principais clientes. Quando começar a importar o ácido hialurônico, o produto será vendido às clínicas de estética, disse.
Sobre a mudança de comando no governo federal, Adibe evitou fazer avaliações políticas, lembrando que a nova gestão em Brasília tem apenas dois meses. O executivo mostrou interesse pela discussão da reforma tributária, citando que o setor tem uma carga de tributos muito forte.
Com fábrica em Pouso Alegre, no interior de Minas Gerais, a Cimed fechou 2022 com cerca de 5 mil empregados. A companhia mira também o mercado externo. Em 2022, fez parceria com a cantora Anitta, que se tornou garota-propaganda do Puzzy, um perfume íntimo. Em seis meses de lançamento, o produto rendeu R$ 27 milhões com mais de 340 mil unidades vendidas. Foi o primeiro lançamento internacional da Cimed, que iniciou vendas nos EUA e planeja expandir para outros continentes.
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