Os 5 desafios mais importantes de startups em novo ano com capital escasso

A Bloomberg Línea conversou com especialistas e empresas inovadoras da Europa com presença na América Latina para descobrir o que devem enfrentar

Demissões em massa no setor de tecnologia, além de uma perspectiva macroeconômica desafiadora, gerarão uma escassez de financiamento
07 de Fevereiro, 2023 | 04:21 AM

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Bloomberg Línea — Empresas inovadoras e emergentes, tanto as que estão começando (startups) como aquelas com produtos ou serviços mais maduros (scaleups), têm pela frente um ano desafiador. As demissões massivas no setor tecnológico em escala global, além de um ambiente com juros mais altos, inflação elevada e menor demanda, culminarão em menores níveis de financiamento.

À medida que os investidores pisam no freio, essas empresas terão de montar uma estratégia que deixe bem clara a viabilidade de seus projetos. Nesse sentido, a Bloomberg Línea conversou com especialistas e empresas inovadoras da Europa que também têm presença na América Latina para descobrir os cinco desafios mais importantes e os fundamentos que determinarão se uma empresa tem o potencial para levar parte do bolo.

1. Ambiente volátil e instável

Este é um desafio e, ao mesmo tempo, uma oportunidade, de acordo com Joan Riera, presidente da consultoria Active Development e professor da escola de negócios Esade. “Não há momento melhor para criar uma empresa. Em um ambiente como este, as startups são muito mais flexíveis e ágeis do que as empresas tradicionais quando se trata de tomar decisões, elas se adaptam mais facilmente às mudanças”, diz Riera, que criou 12 empresas durante sua carreira, “muitas delas em plena crise”.

A mesma visão é compartilhada por Alejandro Gutiérrez-Bolivar, cofundador e CEO da Ladorian, fornecedor de publicidade digital em pontos de venda na Europa e na América Latina. “Este será um ano muito importante para aqueles com DNA empreendedor, para quem sabe como navegar pela incerteza”, observa.

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2. Capital caro e menos investimentos à vista

Diz um ditado que os peixes grandes aparecem quando as correntes são fortes. Mas agora a maré dos investimentos parece baixa e sem vigor: o cenário macroeconômico não é dos mais favoráveis. As recentes altas dos juros pelos bancos centrais de todo o mundo, além da erosão do poder de compra dos consumidores ante a elevada inflação, fizeram minguar o capital disponível para investimento. O bom funcionamento das cadeias de abastecimento são outro desafio para 2023.

Segundo o Crunchbase, o financiamento global de capital de risco em 2022 atingiu US$ 445 bilhões, uma queda de 35% frente aos US$ 681 bilhões levantados pelas startups em 2021. Esse declínio é mais acentuado do que o ocorrido após a crise financeira de 2008 ou da bolha das “ponto-com”, de acordo com dados da consultoria Preqin.

3. Capacidade de rentabilizar e escalar

“Com mares mais agitados, mais ventos e águas menos calmas, os empresários terão que aproveitar suas vantagens competitivas de uma maneira mais robusta do que nunca”, diz o sócio da Ladorian. “O desafio de demonstrar modelos de negócios com impacto positivo na conta de resultados - e a curto prazo - será imperativo.”

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Albert Nieto, sócio-fundador da Seedtag, que oferece soluções de publicidade contextual baseadas em Inteligência Artificial (IA) e Machine Learning (ML), prevê uma “situação global ruim, muitíssimo pior que a de 2021″, mas garante que “sempre haverá dinheiro para bons projetos bons”.

De acordo com Nieto, o principal desafio para as startups é “ganhar o direito de existir”, o que depende de encontrar o ajuste perfeito do produto em seu mercado e da capacidade da empresa de fidelizar e reter clientes. “Para que um negócio seja digno de investimento, é preciso focar em ideias que permitam um crescimento exponencial, para poder multiplicar o valor investido por 20, 30 ou 40 vezes”, reitera.

No caso das scaleups, a chave é “demonstrar que o produto pode ser vendido em escala internacional”, segundo o fundador da Seedtag, que conseguiu um dos últimos grandes acordos na Europa, recebendo mais de 250 milhões de euros em investimentos da Advent International em 2022 - entre capital primário e secundário, ou seja, novos recursos e a compra de participação acionária de um sócio que deixou a empresa.

A capacidade de medir resultados é uma necessidade que se converte em um desafio. É essencial ser capaz de validar o modelo de negócios, de medir muito bem os KPIs e atuar rapidamente diante dos erros, segundo Alejandro Gutiérrez-Bolivar da Ladorian, observando que os valuations inflados das empresas podem dificultar essa avaliação.

4. Dispauta por talentos

O mundo da tecnologia vem fazendo demissões massivas ao mesmo tempo em que a sociedade está testemunhando uma acelerada disrupção tecnológica. Reter talentos em um contexto de crise e alta competitividade é outro desafio identificado pelos especialistas.

O consultor e acadêmico Joan Riera também destaca a mudança de comportamento depois da pandemia. “Depois da covid, o conceito de liberdade tomou forma, portanto, reter talentos tornou-se tanto um desafio e uma oportunidade”, diz ele.

Para o executivo da Ladorian, a retenção de talentos é crucial porque afeta as empresas em um nível tático e estratégico. “É necessário integrar o talento de maneira produtiva, adaptando-o ao cenário misto de trabalho remoto e presencial.” No entanto, ele observa que o novo ecossistema “não facilita a tarefa de manter o espírito de equipe. “Por isso a gestão de talentos é fundamental, as pessoas querem trabalhar com profissionais de quem podem aprender”.

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Juan de Antonio, sócio fundador da Cabify, observa que o ecossistema de startups e scaleups está constantemente buscando aperfeiçoar suas ferramentas para melhorar a gestão de talentos. Nesse sentido, o executivo observa que a nova Lei de Startups da Espanha, país onde nasceu o unicórnio, que melhora as condições de tributação das stock options, evoluiu de forma a valorizar seus profissionais.

5. Inovação acima de tudo

O capital está tentando identificar as companhias capazes de anunciar uma tecnologia disruptiva, mas que não sacrifiquem a rentabilidade e a escalabilidade. “Os mercados, do ponto de vista comercial, devem estar muito atentos aos setores que estão indo bem, que têm uma posição mais forte”, segundo o executivo da Ladorian.

Joan Riera, por sua vez, acredita que as inovações na área da saúde terão muitos resultados, “principalmente no que diz respeito à saúde mental”, além de todas as questões exponenciais de tecnologia – transformação digital, IA, 5G, Internet das Coisas (IoT). “Os clientes estão pedindo mais experiências, estão conectados e querem aprender com tudo”, afirma o professor.

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Michelly Teixeira

Jornalista com mais de 20 anos como editora e repórter. Em seus 13 anos de Espanha, trabalhou na Radio Nacional de España/RNE e colaborou com a agência REDD Intelligence. No Brasil, passou pelas redações do Valor, Agência Estado e Gazeta Mercantil. Tem um MBA em Finanças, é pós-graduada em Marketing e fez um mestrado em Digital Business na ESADE.