Santander Brasil amplia provisões em 19% e diz que Americanas é caso isolado

Filial do banco espanhol teve ROE (retorno sobre patrimônio) de 8,3% no 4º trimestre, abaixo das expectativas de analistas, com margens financeiras mais fracas

Santander Brasil reportou lucro líquido recorrente de R$ 1,689 bilhão no 4º trimestre de 2022, quedas de 45,9% no comparativo trimestral, e de 56,5% no anual), 39,4% abaixo do consenso Bloomberg
02 de Fevereiro, 2023 | 05:03 PM
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São Paulo — A operação brasileira do Santander (SANB11), que tem uma dívida a receber de R$ 3,65 bilhões do grupo varejista Americanas (AMER3), em recuperação judicial, vendeu uma carteira de crédito inadimplente de pessoa física estimada em cerca de R$ 1,4 bilhão no quarto trimestre de 2022, segundo analistas.

O CFO do Santander Brasil, Angel Santodomingo, confirmou nesta quinta-feira (2) a venda de carteira provisionada, mas evitou dimensionar o valor. Ele tentou tranquilizar o mercado sobre a evolução dos indicadores de inadimplência da instituição durante entrevista sobre o balanço de 2022. Os dados trouxeram uma queda anual de 56,5% no lucro (R$ 1,689 bilhão) no quarto trimestre.

As provisões subiram 18,6% do terceiro para o quarto trimestres, para R$ 7,364 bilhões.

O CEO do Santander Brasil, Mário Leão, não quis informar aos analistas e aos jornalistas o percentual da provisão feita pela instituição para a inadimplência da Americanas. No mercado, comenta-se que teria ficado na ordem de 30%, o que possivelmente deve exigir novos acréscimos adiante.

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Relatório do BTG Pactual estimou anteriormente que os principais bancos expostos à dívida da varejista deveriam apresentar provisão de 30%. Safra (R$ 2 bilhões) e Daycoval (R$ 600 milhões) anunciaram que vão provisionar 50% de sua exposição à dívida da Americanas, segundo relatório do BTG.

Na Espanha, a matriz do Santander informou ter elevado suas provisões em valor equivalente a R$ 1,43 bilhão, fazendo alusão indireta, mas não nominal, ao colapso da Americanas.

“Os NPLs [Non Perfoming Loan, métricas de empréstimos bancários não pagos pelos clientes] estão saudáveis. Devemos separar as coisas. Foi a venda de uma carteira de Pessoa Física. Todo mundo vende carteira”, disse Santodomingo.

Já o CEO do banco espanhol no Brasil fez referência indireta ao caso Americanas, que tratou como “um evento subsequente no atacado”, citando que a instituição financeira adota uma política de evitar comentários públicos sobre casos específicos de clientes.

Entre os analistas, há uma preocupação de que o colapso da Americanas provoque um efeito dominó na cadeia de fornecedores da varejista, em especial dos bancos que os financiam.

“Não estou vendo um deterioração adicional da qualidade de crédito em Pessoa Jurídica. É um ponto de preocupação, pois ainda teremos juros altos por um período mais longo. Mas não vejo hoje um efeito cumulativo de alavancagem. Também estamos mais seletivos na concessão de crédito”, disse Leão, minimizando a extensão do impacto da crise da Americanas, sem citar a companhia.

O aumento em indicadores de inadimplência no Santander Brasil preocupa o mercado desde o início do ano passado. As units do banco sobem 0,5% na B3 por volta das 16h40.

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“O índice de créditos inadimplentes foi novamente distorcido por volumes significativos de renegociação e uma venda de carteira ativa de, aproximadamente, R$ 1,4 bilhão”, apontaram os analistas Gustavo Schroden (Bradesco BBI) e José Cataldo (Ágora Investimentos), em relatório a clientes.

‘Provisões poderiam ser maiores’

“Embora as provisões tenham tido um aumento representativo, acreditamos que as provisões adicionais poderiam ter sido maiores, devido à exposição de crédito do banco no caso Americanas”, observou a dupla de analistas do BBI e da Ágora, que manteve a recomendação “neutra” para a unit do Santander.

O índice de inadimplência do Santander deteriorou-se mais 0,1 ponto percentual no quarto trimestre, para 3,1%. Segundo os analistas, o dado só não foi maior por causa dos “volumes consideráveis” de renegociação e de uma venda de portfólio.

Na B3, não foi só a Americanas que entrou em processo de recuperação judicial neste começo de ano. A Flex (FLEX3), empresa de teleatendimento e telecobrança, também seguiu o mesmo caminho no mês passado, tendo também o Santander como um dos seus credores.

ROE fica abaixo do esperado

Apesar de ter reportado um ROE (retorno sobre patrimônio) de 8,3% no 4º trimestre, abaixo das projeções de mercado, a administração do Santander Brasil manteve a abordagem otimista para melhorar seus indicadores de rentabilidade das suas operações em 2023. Destacou planos de ganhos de eficiência, redução de custos, expansão de franquias para o cliente de alta renda e de melhores desempenhos em cartões, seguros, consignados, consórcios e investimentos.

“O ROE do Santander ficou abaixo da nossa estimativa de 14,1% e dos 15,6% do terceiro trimestre de 2022. A frustração foi impulsionada, principalmente, por tendências de margens financeiras sequencialmente mais fracas, com outra perda significativa em tesouraria, enquanto a margem com clientes continuou a ser impactada por um mix conservador e uma política de crédito seletiva”, avaliaram os analistas do Bradesco BBI e da Ágora Investimentos.

O CEO do Santander Brasil colocou ênfase nas dimensões do banco no Brasil, que fechou 2022 com 60 milhões de clientes, acima dos 57,7 milhões em setembro de 2022. “Somos o maior banco de câmbio do país, temos a maior financeira e a maior mesa de commodities do Brasil”, disse Leão.

Substituto de Sergio Rial, que revelou o rombo nas Americanas após renunciar ao cargo de CEO da varejista e deixar a presidência do conselho de administração do Santander Brasil, Leão completou um ano no comando da filial brasileira do banco espanhol.

Apesar do aumento de provisões, o Santander Brasil também apresentou números positivos, segundo analistas.

“A expansão das receitas de tarifas foi positiva, impulsionada por cartões de crédito, taxas e receitas de administração de ativos, enquanto as despesas operacionais cresceram em linha com as expectativas. Como resultado, o lucro antes de impostos caiu 53% entre trimestres (queda de 72,1% de ano para ano), 61% abaixo da nossa estimativa, enquanto o lucro líquido se beneficiou de um imposto de renda menor, atingindo R$ 1,7 bilhão”, citou a nota do Bradesco BBI e da Ágora.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.