Americanas: em vídeo, Rial expõe visão para os próximos passos na crise

Ex-CEO da rede varejista fala em dívida bruta de ‘R$ 30 bi a R$ 35 bi’, diz que capitalização vai acontecer e sinaliza fase com crescimento mais baixo

Americanas possui uma base com cerca de 146 mil investidores pessoas físicas e 2.000 institucionais
12 de Janeiro, 2023 | 08:04 PM

Bloomberg Línea — “O tamanho do que tem que ser feito não era necessariamente aquilo que eu queria em um primeiro momento, de ir para a Americanas e enveredar em um projeto muito forte de crescimento.”

Assim Sergio Rial respondeu a um investidor que o questionou na conferência desta quinta-feira (12) sobre por que não quis seguir no comando da empresa se acredita na sua recuperação. A resposta do executivo, que disse que irá assessorar a nova gestão, deu o tom do que os cerca de 150 mil acionistas devem esperar da gigante varejista que protagoniza o maior escândalo contábil do país em muitos anos.

Isso significa que o caminho para a normalização do negócio e do crescimento será complexo e que o investimento em ações da companhia se tornará uma decisão de alocação de longo prazo. Alguns analistas preferiram cancelar a estimativa de preço-alvo enquanto não houver clareza sobre os números.

A queda de 77,33% da ação (AMER3) nesta quinta (12), com o preço despencando de R$ 12,00 para R$ 2,72, reflete não só a desconfiança de investidores como a percepção de que o valor justo da companhia é outro, dado que a dívida será maior do que até então apresentado, e o patrimônio líquido, menor.

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Depois da conferência com analistas e investidores pela manhã, Rial deu explicações em vídeo gravado e disponibilizado no site de RI da Americanas: ele apontou medidas que serão necessárias e o que o investidor pode esperar e o que não deve aguardar dos próximos passos - sempre com a ressalva de que muitas das respostas ainda estão para serem definidas com a auditoria externa.

“Boa parte da conta fornecedor da Americanas era essencialmente dívida bancária que, portanto, terá que ser recatalogada como tal, dada a estrutura e o desenho”, disse Rial.

Segundo o executivo, que renunciou ao posto de CEO na quarta-feira (11), os balanços de exercícios anteriores provavelmente terão que ser republicados.

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“Vai haver um impacto na conta de resultado, que eu não sou capaz de precisar, ou impairments, redutores da estrutura de balanço, impactando claramente o patrimônio líquido da empresa”, disse.

No vídeo, Rial disse que a Americanas tem hoje uma dívida bruta da ordem de “R$ 30 bilhões a R$ 35 bilhões”, um caixa de R$ 8 bilhões a R$ 9 bilhões e um patrimônio líquido na casa de R$ 16 bilhões.

São números que hoje apresentam grandes diferenças daqueles apresentados no terceiro trimestre, em que o caixa estava em R$ 14 bilhões, e a dívida bruta, em R$ 19,3 bilhões. A rubrica Contas a Receber totalizava R$ 5,2 bilhões.

Os números atualizados serão conhecidos em tese apenas no fim de março, com a divulgação do resultado do quarto trimestre de 2022.

“Claramente isso [os números citados] denota uma necessidade de capitalização, e os acionistas de referência permanecem comprometidos com o futuro da companhia”, destacou Rial.

“A empresa segue vendendo e é absolutamente viável, [mas] tem um nível de dívida incompatível para que possa prosseguir e, portanto, vemos a capitalização acontecer [...] Nos próximos trimestres, muito tem que acontecer na sua estrutura patrimonial”, disse Rial.

Segundo ele, a empresa começou o ano com uma reação nas vendas das lojas físicas e expansão acima de 17%, o que seria uma comprovação da capacidade de crescimento.

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Um dos “grandes riscos”, disse o executivo, seria a interrupção das linhas de financiamento a fornecedores providas pelos bancos, mas ele disse esperar uma “postura de equilíbrio” dos mesmos.

Analistas de bancos e corretoras que fazem a cobertura do setor de varejo formaram um consenso de revisão da recomendação para as ações depois da revelação das tais “inconsistências contábeis” da ordem de R$ 20 bilhões, número que pode aumentar conforme o trabalho da auditoria externa.

A preocupação recorrente é sobre potenciais novas descobertas e a extensão do impacto das “inconsistências”, dado o alerta dado por Rial sobre o diagnóstico ainda impreciso. Outro ponto de atenção é o risco de ações judiciais contra a empresa, em especial de investidores nos Estados Unidos.

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