Verão passado no Hemisfério Norte foi o mais quente em 2.000 anos, aponta estudo

Estudo publicado na revista Nature reforça como as mudanças climáticas e o El Niño têm elevado as temperaturas e favorecido temperaturas e secas extremas

Turistas em Paris no verão de 2023
Por Coco Liu
14 de Maio, 2024 | 04:31 PM

Bloomberg — O verão de 2023 no Hemisfério Norte foi mais quente do que qualquer outro nos últimos dois milênios, segundo um estudo publicado nesta terça-feira (14) na revista Nature. E o próximo verão neste ano pode ser ainda mais quente — em grande parte devido ao aquecimento do planeta causado pela humanidade, somado aos efeitos do El Niño.

Cientistas determinaram anteriormente que 2023 foi o ano mais quente desde 1850, quando os registros de temperatura global começaram a ser feitos. Os pesquisadores conseguiram estabelecer um registro de 2.000 anos combinando medições instrumentais com reconstruções climáticas.

Eles descobriram que o calor extremo do último verão não apenas quebrou recordes recentes mas também superou em mais de meio grau Celsius o verão mais quente antes dos registros instrumentais — no ano de 246 —, levando em consideração as variações climáticas naturais. A temperatura média do verão de 2023 foi quase 4°C mais quente do que o verão mais frio (em 536).

“Quando você olha para a história, você pode ver o quão dramático é o aquecimento global recente”, disse Ulf Büntgen, co-autor do estudo da Universidade de Cambridge, no Reino Unido. “2023 foi um ano excepcionalmente quente, e essa tendência continuará a menos que reduzamos drasticamente as emissões de gases de efeito estufa.”

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Büntgen e seus colegas limitaram a análise aos locais entre o paralelo 30° norte e o Polo Norte, porque é onde a maioria das estações meteorológicas mais antigas do mundo está localizada. Eles também reconstruíram as condições climáticas históricas nessa área, estudando milhares de anéis de árvores de nove regiões do Hemisfério Norte.

O clima influencia como as árvores formam as camadas de madeira em seus troncos, então os anéis de árvores contêm pistas importantes sobre as temperaturas passadas. Dada a forte correlação entre os anéis de árvores e as temperaturas de verão, os pesquisadores se concentraram nos meses de junho a agosto.

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Eles encontraram uma falta de consistência entre as reconstruções climáticas baseadas em anéis de árvores e medições baseadas em instrumentos durante a segunda metade do século 19, levantando a questão de se termômetros mais antigos produziram leituras de temperatura imprecisamente mais elevadas.

A consequência disso, segundo os pesquisadores, é um “viés sistemático de calor” nas observações instrumentais iniciais, que são amplamente utilizadas como referência para a ciência climática global.

Os dados dos anéis de árvores também revelam que a maioria dos períodos mais frios nos últimos 2.000 anos ocorreu após grandes erupções vulcânicas, que lançaram enormes quantidades de aerossóis na estratosfera e provocaram um resfriamento rápido da superfície.

Enquanto isso, a maioria dos períodos mais quentes pode ser atribuída ao El Niño, uma das três fases de um ciclo climático plurianual que altera os padrões climáticos em todo o mundo e eleva as temperaturas de verão no Hemisfério Norte.

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O El Niño é um fenômeno climático natural, mas os cientistas dizem que o aquecimento global causado pela queima de combustíveis fósseis e outras atividades humanas intensifica sua força. Isso, por sua vez, acarreta verões mais quentes.

Uma fase de El Niño começou em junho de 2023 e está em curso, embora se espere que termine nas próximas semanas.

“É verdade que o clima está sempre mudando, mas o aquecimento em 2023, causado pelos gases de efeito estufa, é amplificado pelas condições do El Niño. Portanto, temos ondas de calor mais longas e severas e períodos prolongados de seca”, disse Jan Esper, autor principal do estudo e professor de geografia do clima na Universidade de Mainz, na Alemanha.

O estudo observa que o objetivo do Acordo de Paris de 2015 de limitar o aumento da temperatura a 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais “já foi ultrapassado” no Hemisfério Norte.

Embora a conclusão não possa ser aplicada em escala global, já que a taxa de aquecimento varia entre latitudes e altitudes, as descobertas da pesquisa “demonstram claramente a natureza sem precedentes do calor atual em larga escala”, escrevem os autores.

Isso também reafirma o que alguns cientistas têm alertado: à medida que a mudança climática é amplificada por um El Niño, 2024 provavelmente deve registrar novos recordes de temperatura.

Nas últimas semanas, ondas de calor excepcionais têm assolado muitos países da Ásia. Myanmar, por exemplo, teve a temperatura mais quente em abril de todos os tempos, de 48,2 °C.

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