Ibovespa sai vencedor em ano terrível para os mercados de ações

Bolsa brasileira foi uma das poucas do mundo a terminar 2022 no azul, superando ganhos das bolsas da Índia e do Reino Unido

Os investidores estrangeiros foram os principais impulsionadores do rali deste ano, comprando um valor líquido de US$ 19 bilhões em ações
Por Matt Turner
30 de Dezembro, 2022 | 04:20 PM

Bloomberg — O Brasil conquistou a coroa do mercado de ações com melhor desempenho deste ano, depois de vencer os concorrentes com uma recuperação tardia, em 12 meses brutais para as ações globais.

O índice Ibovespa (IBOV) subiu 4,7% em termos de moeda local, tornando-se uma das poucas bolsas com mais de US$ 500 bilhões em valor de mercado a terminar no azul, superando os ganhos das bolsas da Índia e do Reino Unido, segundo dados compilados pela Bloomberg. O MSCI All-Country World Index caiu cerca de 20% no mesmo período, enquanto os investidores enfrentavam o aumento da inflação e a rápido alta das taxas de juros em todo o mundo.

Enquanto a inflação do Brasil atingiu um pico de mais de 12% em abril, o Banco Central iniciou um ciclo de alta agressiva no início de 2021 que ajudou a reduzir a inflação pela metade até o final do ano, possivelmente abrindo espaço para cortes nas taxas no próximo ano. Isso, juntamente com as avaliações que estão entre as mais baratas do mundo, ajudou a estimular a demanda pelas ações do país, mesmo quando a incerteza política continua a aumentar.

As ações brasileiras permanecem baratas em uma base histórica com um preço a termo combinado de 12 meses para uma taxa de lucro de 6,7, em comparação com uma média de 10 anos de 10,8 vezes. As taxas dos DIs estão precificando cortes na Selic a partir do segundo trimestre do ano que vem.

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Os traders estão nervosos há quase dois meses após a vitória presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva em meio à preocupação de que o aumento dos gastos fiscais reacenderá a inflação, levando o BC a manter as taxas de juros mais altas do que o esperado anteriormente.

“A maioria dos investidores pode esperar pela garantia de que a política fiscal de Lula é suficientemente responsável antes de mergulhar, mas avaliações baratas sugerem que eles também estão sendo compensados por esse risco”, disse Hasnain Malik, estrategista da Tellimer em Dubai.

Os investidores estrangeiros foram os principais impulsionadores do rali deste ano, comprando um valor líquido de US$ 19 bilhões em ações brasileiras, o maior valor já registrado em dados compilados pela Bloomberg desde 2009. Isso interrompe um período de quatro anos de vendas e inclui cerca de US$ 3 bilhões nos dois meses desde que Lula foi eleito.

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Sem surpresa, o desempenho superior do Brasil vem acompanhado de um ano de recuperação para a Vale (VALE3), a maior ação do Ibovespa com quase 20% de peso. As ações da gigante de minério de ferro subiram 14%, recuperando-se de seu pior ano desde 2015, graças em grande parte ao aumento dos preços dos metais básicos desde que a Rússia invadiu a Ucrânia e, mais recentemente, ao otimismo de que o fim da política Covid Zero na China estimulará a demanda.

O peso descomunal da Vale no benchmark brasileiro ajudou a disfarçar as perdas vistas por muitos de seus outros membros. Das 91 ações do índice, cerca de dois terços terminaram o ano no vermelho, incluindo a petrolífera estatal Petrobras (PETR3; PETR4), que fracassou nas últimas semanas em meio a preocupações com interferência política.

Apesar desse desempenho distorcido e das preocupações políticas, muitos esperam que os ganhos vistos pelo Ibovespa continuem no próximo ano. No início deste mês, os estrategistas do JPMorgan (JPM) liderados por Emy Shayo disseram esperar que o Ibovespa termine 2023 perto de um recorde histórico de 130.000, em parte devido à reabertura econômica da China. Isso se compara ao fechamento de quinta-feira de 109.734. Enquanto isso, o Bank of America espera que o índice feche o próximo ano em 135.000.

“Ainda há muito risco precificado”, disse Bradford Jones, gerente de portfólio da Sagil Asset Management Ltd. em Londres. “Se o barulho político se dissipar, as ações brasileiras podem ter mais um ano forte.”

Mas nem todo mundo está convencido. O Morgan Stanley (MS), que vinha recomendando aos clientes posição overweight no Brasil desde outubro de 2018, rebaixou o mercado de ações do país no final de novembro, citando a incerteza em torno das políticas do presidente eleito.

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