Por que a bolsa argentina teve o maior avanço no mundo em 2022

S&P Merval da Bolsa de Valores de Buenos Aires acumulou um aumento de mais de 30% na medição em dólares neste ano

O Merval em dólares está bem abaixo de sua média histórica e os investidores esperam que um catalisador faça subir os preços
28 de Dezembro, 2022 | 03:43 PM

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Bloomberg Línea — O final de 2022 veio com grandes novidades para a Argentina. A menos que ocorra uma catástrofe financeira de última hora, a vitória da Copa do Mundo do Catar 2022 será acrescentada a outro fato marcante: o S&P Merval fechará o ano como o índice de melhor desempenho do mercado acionário medido em dólares.

A Bolsa de Valores de Buenos Aires acumulou, desde o início do ano, um aumento de 30,5% medido à taxa de câmbio à vista (CCL). No mesmo período, o Dow Jones caiu 8,6%, o S&P 500 (SPY) caiu 19,3% e o Nasdaq (CCMPDL) despencou 32,9%.

Não foram apenas os três índices de referência de Wall Street que acumularam grandes perdas. A Europa e a Ásia também viram declínios significativos em 2022. O índice Euro Stoxx 50, que agrupa as 50 empresas mais importantes da zona euro, caiu 17%, o alemão Dax contraiu 18%, o francês Cac cedeu 15% e o londrino FTSE caiu 9,7%. O Nikkei, do Japão, por sua vez, acumulou um deslize de 20,6%, e o Hang Seng de Hong Kong somou uma deterioração de 16,3%.

As bolsas de valores na Argentina, Brasil e Chile se destacam em meio a um ano de grandes perdas

Merval como ‘safe heaven’?

Nos mercados financeiros, o termo “safe heaven” é frequentemente usado para descrever um ativo que se torna um refúgio – um porto seguro – para investimentos durante períodos de turbulência e perdas significativas. Neste contexto, e considerando os retornos acumulados durante o ano, não pareceria totalmente irrazoável perguntar se o S&P Merval da Bolsa de Valores de Buenos Aires foi um “safe heaven” neste ano de perdas globais.

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No entanto, para entender este aumento de 30,5% é preciso primeiro olhar para o ponto de partida. O S&P Merval medido em dólares tinha começado o ano em 416,3 pontos, 76% abaixo de seu máximo histórico de 1759 pontos, alcançado em janeiro de 2018.

Quando 2022 começou, a bolsa também estava abaixo da média histórica, que um relatório da Quantum Finanzas revelou, há quase quatro meses, que era de 584 pontos para o período 1997-2022.

Isso implica que, mesmo após o forte aumento acumulado durante este ano, o S&P Merval em dólares continua abaixo de sua média histórica, pois está encaminhando para fechar 2022 ligeiramente acima de 543 pontos. Ele também permanece 69% atrás de seu teto de 2018.

Motivos do rali

Maximiliano Donzelli, chefe de pesquisa da IOL invertironline, diz que é verdade que o mercado argentino teve um dos melhores desempenho em dólares durante o ano. Para o analista, isso é explicado por dois fatores-chave.

Primeiramente, o mercado argentino acompanhou a dinâmica de vários países emergentes exportadores de commodities, como o Brasil, que também teve um excelente desempenho. “A guerra na Ucrânia gerou um aumento muito forte das commodities, e os países exportadores dessas matérias-primas foram beneficiados”, lembrou ele.

Em segundo lugar, e em contraste com o bom desempenho do mercado americano no ano passado, ele acrescentou, “os mercados brasileiro e argentino tinham ficado com valuations muito baixos”. A Bolsa de Valores de Santiago do Chile, com uma melhoria de 17,5% ao longo do ano, também foi destaque no desempenho.

“Este é um dos anos mais difíceis para o mercado norte-americano, mas o Merval e a B3 tiveram um desempenho muito bom porque não participaram do movimento otimista do ano passado. Embora o Merval tenha tido um retorno positivo de 15% em dólares em 2021, ele veio de uma queda acentuada de mais de 50% entre 2019 e 2020. Algo parecido aconteceu com a B3, que caiu 15% em 2021″, disse ele. Em ambos os casos, ele lembrou, estes são índices que tinham valuations muito baixos. “Mesmo com estes aumentos, elas estão em níveis historicamente baixos”, disse ele.

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Por fim, Donzelli acrescentou: “Em um contexto de fraco desempenho dos mercados desenvolvidos, como os Estados Unidos, e o contexto ruim das economias desenvolvidas, como a Europa ou o Japão, que foram afetadas pelo custo crescente da energia, o fluxo de fundos foi para economias que estavam mais bem preparadas para suportar os custos crescentes”.

Para os analistas da Portfolio Personal Inversiones (PPI), é claro que o Merval foi um bom investimento. Mesmo assim, eles indicaram que nem todas as empresas que compõem o índice eram ideais para 2022. A maioria das empresas do setor financeiro, por exemplo, não conseguiu superar a inflação. Por outro lado, disseram que as empresas ligadas ao setor de energia e serviços públicos eram as ideais para se manterem em ascensão.

Quanto aos motivos que impulsionaram as ações do setor energético, a corretora firma que o aumento do preço internacional dos hidrocarbonetos, as notícias positivas sobre a produção em Vaca Muerta e o progresso parcial em termos de tarifas impulsionaram as ações do setor.

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Tomás Carrió

Tomás Carrió, jornalista especializado em economia e finanças. Trabalhou para os jornais El Cronista e La Nación e é colunista de economia da Radio Milenium. Licenciado em Comunicação Social (Universidad Austral) e Mestre em Jornalismo (Universidade Torcuato Di Tella).