No Chile, governo de esquerda de Boric diz que meta é estabilizar a dívida

Ministro das Finanças, Mario Marcel, afirma à Bloomberg Television que esforços de consolidação fiscal vão continuar em 2023, destoando do discurso do próximo governo Lula

Mario Marcel, ministro das Finanças do Chile, disse que o governo busca estabilizar a trajetória da dívida pública
Por Matthew Malinowski - Anna Edwards e Mark Cudmore
17 de Dezembro, 2022 | 09:07 AM

Bloomberg — O governo do Chile, do presidente de esquerda Gabriel Boric, pretende continuar com seus esforços de consolidação fiscal no próximo ano, quando prevê que o crescimento econômico começará a acelerar, disse o ministro das Finanças do país em entrevista à Bloomberg Television.

É um discurso que destoa do adotado pelo presidente eleito Lula (PT) no Brasil, em que declarações e o envio de uma proposta constitucional para o aumento de gastos sociais têm ampliado o risco fiscal e levado a um encarecimento do custo de capital no país, com a disparada dos juros futuros.

Apesar de uma expectativa de crescimento anual menor do que em 2022, a economia do Chile verá uma tendência ascendente trimestre a trimestre em 2023, disse Mario Marcel em entrevista nesta semana que passou. O governo está focado em reduzir os níveis de endividamento, disse Marcel, que esteve em Londres para se reunir com investidores globais em uma conferência anual.

“Pretendemos manter o caminho da consolidação fiscal nos próximos três anos para estabilizar a dívida do governo em cerca de 40% do PIB até 2026”, disse Marcel, economista formado pela Universidade de Cambridge que já atuou como presidente do banco central.

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O Chile enfrenta os efeitos de uma onda de saques antecipados de planos de aposentadoria no ano passado, que superaqueceram uma das nações mais prósperas da América Latina. O banco central elevou os juros para o maior nível em mais de duas décadas, enquanto o novo governo cortou gastos em cerca de 25%.

Marcel disse que o governo espera que qualquer proposta de novos resgates de fundos de pensão seja rejeitada pelo Congresso.

Os preços ao consumidor em novembro subiram ao dobro do ritmo esperado por analistas, informou a agência nacional de estatísticas do Chile na quarta-feira (14), moderando as apostas do mercado por reduções de juros. Uma hora depois, o banco central elevou as previsões de inflação e também alertou para uma contração econômica mais profunda em 2023.

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Confrontado com uma perspectiva econômica difícil no início do próximo ano e baixos índices de aprovação, o governo do presidente Gabriel Boric avalia outra rodada de ajuda focada nos mais vulneráveis, ao mesmo tempo em que mantém gastos sob controle.

Riscos de inflação

O Chile está longe de ser o único mercado emergente que enfrenta riscos de inflação. Os preços ao consumidor subiram muito mais do que o esperado no mês passado em Peru e Colômbia.

Embora a inflação brasileira tenha caído, os planos de gastos do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva podem provocar aumentos mais acentuados no custo de vida no próximo ano.

Daqui para frente, o Chile deve se beneficiar da flexibilização das regras para combater a covid de seu principal parceiro comercial, a China. Marcel também lidera as reformas tributária e previdenciária, ambas em discussão no Congresso.

O peso se valorizou mais de 5% no mês passado, enquanto os derivativos que protegem contra default, os chamados credit default swaps (CDS) de cinco anos, caíram em um sinal de que a incerteza está diminuindo.

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