Mercadante no BNDES: o que significa a escolha de Lula para o banco estatal

Presidente eleito disse que país precisa de ‘alguém que pense em desenvolvimento’, em evento de encerramento dos trabalhos da transição

Fernando Haddad e Aloizio Mercadante vão ocupar cargos-chave do governo na área econômica (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
13 de Dezembro, 2022 | 04:37 PM

Bloomberg Línea — O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou na tarde desta terça-feira (13) que o ex-ministro da Casa Civil Aloizio Mercadante será presidente do BNDES em seu governo. A confirmação aconteceu no discurso de encerramento dos trabalhos do gabinete de transição. Ele substituirá o atual presidente Gustavo Montezano.

“Aloizio Mercadante, eu vi algumas críticas sobre boatos de que você vai ser presidente do BNDES. Eu quero dizer pra vocês que não é mais boato: Mercadante será presidente do BNDES”, disse Lula.

Minutos depois da confirmação do nome, o Ibovespa (IBOV), que operava perto da estabilidade, passou a cair e logo a queda superou o patamar de 1%. O índice fechou o pregão em queda de 1,71%, aos 103.539 pontos, enquanto o dólar avançou 0,22%, a R$ 5,30.

Modelo com Guedes e Montezano

No governo de Jair Bolsonaro (PL), com Paulo Guedes como ministro da Economia, o BNDES reduziu a atuação no mercado de capitais, propiciando o desenvolvimento de operações financiadas por instituições privadas. E se dedicou a projetos em áreas estratégicas, como inovação, saneamento e concessões de ativos para estimular o desenvolvimento regional.

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O banco de desenvolvimento também se notabilizou pela venda de participações em empresas de capital aberto, como a Vale (VALE3), um caminho para reduzir a interferência do Estado na economia e no setor privado.

Tudo isso agora fica em xeque e provavelmente será suspenso, dado que o governo do PT provavelmente usará o BNDES como um dos principais atores para sua política de orientação da economia pelo estado.

Geração de emprego

O presidente eleito tratou do tema de forma genérica nesta terça ao justificar a escolha: “estamos precisando de alguém que pense em desenvolvimento, que pense em reindustrializar este país, de alguém que pense em inovação tecnológica, de alguém que pense na geração de financiamento ao pequeno, grande e médio empresário, para que este país volte a gerar emprego”.

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A informação de que Mercadante seria presidente do BNDES já circula pelo menos desde a semana passada em Brasília, mas ainda não havia sido confirmada pelo PT ou por Lula.

O ex-ministro foi um dos coordenadores dos grupos de trabalho da transição e do programa de governo durante a campanha, mas não havia recebido a promessa de fazer parte do governo.

Sua nomeação para trabalhar na transição, inclusive, era tratada como uma concessão ao grupo político de Mercadante dentro do PT - o futuro presidente do BNDES é presidente da Fundação Perseu Abramo, o braço acadêmico do PT.

Durante a campanha, Mercadante foi um dos grandes defensores do uso dos bancos públicos como indutores de investimentos para alavancar o crescimento econômico por meio do gasto público. Quando falava sobre isso, citava sempre o BNDES, a Caixa e o Banco do Brasil (BBAS3).

Sua nomeação para o banco de desenvolvimento não agrada o mercado, que vê o ex-ministro como um representante das teses intervencionistas na economia, defendidas pelo governo de Dilma Rousseff (PT).

Mercadante foi ministro da Casa Civil, da Educação e de Ciência e Tecnologia do governo Dilma. Ele é economista de formação e é fundador do PT. Já foi também senador e deputado federal por São Paulo.

Com a confirmação do nome do ex-ministro para o BNDES, o mercado deve observar os impactos das mudanças impostas pela gestão de Mercadante. “O BNDES é um player importante a ser monitorado de perto, pois uma potencial agressividade poderia criar distorções na dinâmica do crédito e na evolução do mercado de capitais”, apontaram os analistas Gustavo Schroden (Bradesco BBI) e José Cataldo (Ágora Investimentos) em nota enviada aos clientes.

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Sem privatizações

Durante o discurso desta terça, o presidente Lula disse que não haverá privatização de estatais durante seu próximo governo, conforme amplamente esperado pelo mercado, dado que o tema havia sido tratado na campanha abertamente. “Vão acabar as privatizações neste país. Já privatizaram quase tudo”, disse.

“Queremos dizer ao mundo inteiro: quem quiser vir para cá, venha. Tem trabalho, tem as coisas para fazer, tem projeto novo para fazer investimento, mas não venha aqui para comprar as nossas empresas públicas, porque elas não estão à venda”, discursou.

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*Texto atualizado às 17h24 para acréscimo de informações e às 18h30 com o fechamento do mercado

Pedro Canário

Repórter de Política da Bloomberg Línea no Brasil. Jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero em 2009, tem ampla experiência com temas ligados a Direito e Justiça. Foi repórter, editor, correspondente em Brasília e chefe de redação do site Consultor Jurídico (ConJur) e repórter de Supremo Tribunal Federal do site O Antagonista.