BNDES e o gasoduto Néstor Kirchner na Argentina: qual o status do empréstimo

Governo da Argentina afirmou que terá financiamento do BNDES e do CAF para o segundo trecho da obra; o crédito ainda não foi confirmado pelos bancos

Por

Bloomberg Línea - Buenos Aires — Em um evento em comemoração aos 115 anos da descoberta de petróleo na Argentina, a secretária de Energia, Flavia Royón, fez um anúncio: o governo argentino obteve financiamento de um total de US$ 1,2 bilhão de organizações internacionais, incluindo o BNDES, para avançar na construção da segunda seção do gasoduto Néstor Kirchner, um projeto fundamental para reverter a balança comercial de energia.

Entretanto, de acordo com a Bloomberg Línea, os empréstimos com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF) não foram confirmados e, no caso do primeiro, nem sequer foram formalmente solicitados.

Como o gasoduto Néstor Kirchner será financiado?

“Quanto ao segundo trecho do gasoduto Néstor Kirchner, obtivemos financiamento de US$ 689 milhões do BNDES e US$ 540 milhões do CAF”, disse a secretária de Energia esta semana em um evento organizado pelo Instituto Argentino de Petróleo e Gás (IAPG). E ela garantiu que a obra, com cálculos conservadores, “permite projetar uma economia de U$ 20 milhões por dia, com a qual o investimento pode ser recuperado em um ano”.

Uma fonte da Secretaria de Energia, que pediu para não ser identificada, reconheceu à Bloomberg Línea que o empréstimo do BNDES ainda não está firmado e disse que seria confirmado em breve, pois ainda estão resolvendo detalhes.

Em consulta com o BNDES, o banco brasileiro afirmou que “não há nenhum pedido formal de financiamento apresentado ao BNDES”, apesar de reconhecer que “o governo argentino, através de sua embaixada em Brasília e empresas brasileiras, entrou em contato com o BNDES e o Ministério da Economia em consulta sobre eventual financiamento”.

A secretária de Energia também anunciou que o governo conseguiu US$ 540 milhões em financiamento do CAF. Este empréstimo está sujeito à aprovação da diretoria.

Sergio Díaz-Granados, presidente do CAF, disse na semana passada, juntamente com o ministro da Economia argentino, Sergio Massa, que estava satisfeito em ver progressos no gasoduto “porque faz parte da estratégia do CAF para a América Latina e o Caribe de transição justa”, e acrescentou que “o uso do gás na região é um imperativo para reduzir a pobreza e diminuir o déficit fiscal”.

“Tenho certeza de que a diretoria do CAF estudará e avaliará este projeto”, disse Díaz-Granados após uma reunião na qual foi assinado o desembolso de US$ 50 milhões para o Programa de Apoio ao Plano de Gestão de Incêndios no âmbito da emergência de incêndios na Argentina.

O que é o gasoduto Néstor Kirchner?

O primeiro trecho do gasoduto Néstor Kirchner, que ligará a região extrativa Vaca Muerta à província de Buenos Aires, está atualmente em construção. A obra deve ser concluída até 20 de junho de 2023 e permitirá a economia de 11 milhões de metros cúbicos, de acordo com especialistas.

O primeiro trecho é financiado pelo Estado: US$ 60 bilhões arrecadados através da Contribuição Solidária à Grande Riqueza, outros US$ 118 bilhões em Contribuições do Tesouro Nacional e outros US$ 60 bilhões em Fundos do Artigo 7, parágrafo 5 da Lei 27.605 da Argentina.

O segundo trecho, da província de Buenos Aires a San Jerónimo (província de Santa Fé), aumentará em 25% a capacidade de transporte dos dutos da Argentina, mas o financiamento deve ser privado e o governo afirma que já tem esses fundos, mas na verdade ainda há várias medidas a serem tomadas.

Segundo a Energia Argentina (Enarsa), a empresa responsável pelo projeto, a primeira etapa do gasoduto economizará US$ 1,4 bilhão por ano, e as duas etapas US$ 2,69 bilhões.

Leia também

O que esperar da Lei das Estatais, que derrubou ações da Petrobras, no Senado