A visão de Carlos Kawall, ex-secretário do Tesouro, sobre o efeito da PEC na Selic

Para ele mesmo um plano intermediário de gastos de R$ 150 bilhões além do teto elevaria o endividamento do país

'Não faz sentido colocar mais dinheiro na economia quando o mercado de trabalho já está apertado'
Por Josue Leonel
04 de Dezembro, 2022 | 05:32 PM

Bloomberg — A PEC da Transição ainda terá efeito fiscal negativo e adiará o ciclo de corte de juros mesmo se for desidratada para um valor em torno de R$ 150 bilhões durante a tramitação no Congresso, diz o ex-secretário do Tesouro Carlos Kawall, em entrevista à Bloomberg News.

Para ele, uma redução do valor e do prazo dos gastos fora do teto para ampliar o Bolsa Família trariam alívio apenas parcial. De acordo com a proposta original, estima-se que cerca de R$ 200 bilhões ficariam acima do teto em 2023 e a permissão continuaria por quatro anos.

Mesmo um plano intermediário, com ao menos R$ 150 bilhões de espaço no Orçamento e a redução do prazo para dois anos, como admitem lideranças ligadas ao novo governo, elevaria o endividamento do país, atualmente já acima de 70% do PIB, afirma Kawall.

Com a piora fiscal, o Banco Central terá de manter os juros elevados por mais tempo, diz o economista, que deixou a ASA Investments em fevereiro e lançou com sócios a gestora de fortunas Oriz Partners, em outubro.

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Ele afirma que um waiver (licença temporária de gastos além do teto) de dois anos ainda representaria despesas muito além do teto até 2024, que é justamente o horizonte atual da meta de inflação.

“Não faz sentido colocar mais dinheiro na economia quando o mercado de trabalho já está apertado”, afirma. “Isso seria jogar gasolina no fogo, tornaria mais difícil a inflação convergir para a meta.”

Desde o anúncio da equipe de transição do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a PEC que tornará possível cumprir a promessa de elevar o Bolsa Família para R$ 600, o mercado passou a precificar alta de juros, numa mudança expressiva do cenário antes da eleição.

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Até então, havia uma queda de cerca de 1 ponto percentual embutida na curva de juros, que foi revertida para uma alta de 0,50 ponto porcentual em 2023.

“A torcida é para que o Congresso coloque um limite. Não dá para entender uma proposta que permite ao governo gastar R$ 800 bilhões em quatro anos”, disse Kawall.

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