Bancos de Wall Street devem cortar bônus em até 30% com a queda do mercado

Receitas com operações de Investment Banking (IB) nos cinco maiores players caíram quase 50% de janeiro a setembro; profissionais mal avaliados podem não receber nada

Ano mais duro para bankers e outros profissionais
Por Jenny Surane - Hannah Levitt - Katherine Doherty
03 de Dezembro, 2022 | 07:56 AM
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Bloomberg — Em Wall Street, as expectativas sombrias para os bônus deste ano estão se tornando verdadeiras, à medida que a queda nos negócios põe fim à guerra do setor financeiro por talentos e as empresas recuperam a vantagem na negociação de pagamentos.

O JPMorgan Chase (JPM), o Bank of America (BAC) e o Citigroup (C) avaliam cortar os bônus para seus executivos de Investment Banking (IB) em até 30%, de acordo com pessoas com conhecimento das discussões internas que falaram com a Bloomberg News.

Alguns bancos planejam não dar nenhuma recompensa aos funcionários de baixo desempenho. As propostas ainda estão em discussão e podem mudar nas próximas semanas, disseram as pessoas.

Esses são os primeiras retratos do que podem ser os bônus de fim de ano, depois que as negociações corporativas e as vendas de novos títulos diminuíram em meio à queda do mercado em 2022.

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A receita com a área de Investment Banking nos cinco maiores bancos dos Estados Unidos despencou 47% - um declínio colossal de US$ 18,8 bilhões - nos primeiros nove meses. No Goldman Sachs (GS), mesmo os traders que ganharam mais não estão imunes a cortes de bônus.

Para legiões de bankers e traders, os bônus anuais podem chegar a milhões de dólares e muitos múltiplos do salário anual. Wall Streeters - a versão original dos Faria Limers - passam meses aguardando e apostando em seus bônus para pagar escolas particulares para os filhos, comprar casas de veraneio e ingressar em clubes privados.

Menos de um ano atrás, as empresas do setor financeiro travavam uma guerra feroz por talentos, com algumas companhias renunciando às demissões quase inteiramente enquanto lutavam para manter um quadro pessoal adequado.

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As demissões recomeçaram há alguns meses e agora, com um número crescente de Wall Streeters recém-desempregados, os bancos têm mais força para manter os salários mais equilibrados. Muitos funcionários carecem de outras opções viáveis.

“As estrelas de desempenho serão cuidadas”, disse Anthony Keizner, sócio-gerente da empresa de executive search Odyssey Search Partners. “Mas, em vez de compensar altamente alguns banqueiros e dispensar outros, parece que a estratégia mais comum será cortar os bônus de forma mais ampla.”

Representantes do JPMorgan, do Citigroup e do Bank of America se recusaram a comentar.

Nem tudo é melancolia

Nem tudo é desgraça e melancolia. Traders de juros e commodities ajudaram a impulsionar a receita de negociação de renda fixa para US$ 53,7 bilhões em Wall Street, o segundo melhor desempenho já registrado.

No Bank of America e no Citigroup, isso significa que os executivos podem manter pools de bônus para traders nos níveis do ano passado, disseram algumas das pessoas. E os executivos desses bancos estão discutindo recompensar os melhores operadores de juros, moedas e commodities com pacotes de remuneração mais altos.

O Goldman deve romper com os rivais reduzindo o conjunto de bônus para os traders para um percentual na casa baixa de dois dígitos, disseram pessoas com conhecimento do assunto na sexta-feira (2).

O banco está sob pressão especial para limitar os salários depois de gastar mais do que o previsto em uma expansão para o setor de serviços bancários ao consumidor. Os executivos reduziram essa iniciativa em outubro.

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Quatro meses atrás, o Goldman também se destacou quando sinalizou planos para retomar cortes periódicos de funcionários de baixo desempenho. Mas, desde então, Morgan Stanley (MS), Citigroup e Barclays seguiram o exemplo.

Nos últimos meses, algumas empresas valorizaram o discurso, com o Bank of America dizendo que não há planos para demissões “nesta fase”. Mas a prática comum de selecionar aqueles de baixo desempenho deve ser retomada no ano que vem, disseram as pessoas.

“Algumas pessoas serão demitidas”, disse o CEO do Morgan Stanley, James Gorman, na quinta-feira (1º) na conferência Reuters NEXT. “Estamos fazendo alguns cortes modestos em todo o mundo. Na maioria das empresas, é isso que você faz depois de muitos anos de crescimento.”

Em Wall Street, bônus e outros incentivos são notoriamente voláteis à medida que o setor passa por altos e baixos. Nos últimos meses do ano, os bancos avaliam o desempenho de seus funcionários e estabelecem pools de bônus que podem compartilhar, com as porções mais generosas para aqueles que só faltam fazer chover.

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A perspectiva para pools de bônus vem diminuindo há meses. Advisors de negócios podem ver seus bônus caírem até 20%, enquanto os prêmios para suas os profissionais da área de subscrição despencam 45%, estimou a consultoria de remuneração Johnson Associates no mês passado.

“Esta será uma temporada de compensação mais difícil”, advertiu o CEO da Jefferies, Rich Handler, e o presidente, Brian Friedman, a seus funcionários nesta semana, “assim como será para todas as empresas do nosso setor”.

Neste ano, bancos como Citigroup, Bank of America e Barclays consideram não dar nenhum bônus a dezenas de seus profissionais de pior desempenho: é algo conhecidos como “zerar” ou receber um “ovo de ganso”, uma “rosquinha” ou um “bagel”, em alusão ao formato. No Goldman, o número de banqueiros que não recebem nada pode ultrapassar 100.

Um porta-voz do Barclays se recusou a comentar.

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A decisão de não pagar bônus a um funcionários costuma ser um precursor de uma demissão, mas também uma espécie de desafio: se uma empresa deseja reduzir o número de funcionários, pode descartar um monte deles e ver se um número suficiente de pessoas recebe a mensagem para acelerar o desgaste.

Ou, com o aumento das rescisões em outras empresas, alguns gerentes podem apostar que os destinatários desse recado continuarão aparecendo em suas mesas de trabalho por um preço baixo.

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“Para onde mais esses banqueiros irão?” disse Keizner. “Os bancos querem que suas equipes permaneçam por perto porque, quando as coisas voltarem, os bancos não querem ficar sem pessoal e lutando novamente.”

Limite para as contratações

De fato, algumas empresas menores podem resistir ao impulso normal de atrair talentos com as perspectivas de Wall Street agora tão incertas. A Evercore, por exemplo, está limitando as contratações de substitutos para os banqueiros que saem.

Os pagamentos mais baixos aos banqueiros podem não inspirar muita simpatia fora do setor financeiro.

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Na cidade de Nova York, o pool geral de bônus do setor de valores mobiliários cairá 22% em relação ao ano passado, quando o pagamento médio foi de US$ 257.500, segundo estimativas do chefe da Controladoria do Estado, Thomas DiNapoli.

Isso ainda seria mais de quatro vezes maior do que um funcionário típico do setor privado ganha na cidade.

- Com colaboração de Sridhar Natarajan, Harry Wilson, Gillian Tan e Dan Reichl.

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