Em cenário mais sombrio para 2023, US$ 5 tri seriam eliminados do PIB mundial

Economistas da Bloomberg Economics projetam que os Estados Unidos poderão entrar em uma recessão em 2023, assim como a Europa

Mundo agora enfrenta inflação nos maiores patamares em várias décadas e perdas no mercado financeiro na casa dos trilhões de dólares
Por Tom Orlik (BI Economist) e Enda Curran
16 de Novembro, 2022 | 09:10 AM

Bloomberg — Tem sido um ano difícil para a economia global – mas as coisas sempre podem piorar.

A história mostra que aumentos rápidos de juros pelo Federal Reserve, o banco central americano, podem muito bem levar os Estados Unidos a uma recessão em 2023. Poucos ficarão surpresos se os preços crescentes do gás natural fizerem o mesmo na Europa. Na China, a situação não é muito melhor: a combinação de uma política de “zero covid” e de crise imobiliária ameaça paralisar a potência asiática.

Em um cenário extremo, todas essas coisas aconteceriam ao mesmo tempo. Isso eliminaria cerca de US$ 5 trilhões da economia global, em comparação com previsões mais otimistas no início deste ano, segundo a Bloomberg Economics.

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O fato de que uma perspectiva tão sombria está longe de ser implausível sugere que muita coisa deu errado, e já há muitas evidências disso em 2022.

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Dinheiro barato, demanda turbinada da China e geopolítica de baixo atrito – os ingredientes de décadas de crescimento e preços estáveis – se foram. O mundo agora enfrenta inflação nos maiores patamares em várias décadas e perdas no mercado financeiro na casa dos trilhões de dólares.

Confira os principais riscos econômicos para o próximo ano:

O grande aperto monetário

A taxa de juros do Fed deverá atingir 5% no início de 2023. O aperto monetário mais agressivo em décadas já está prejudicando a economia dos EUA e do mundo. Há, contudo, mais dor pela frente.

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Com os custos de empréstimos mais altos para setores sensíveis a juros, de imóveis a automóveis, a Bloomberg Economics prevê uma recessão nos EUA no segundo semestre de 2023. Mais de 2 milhões de americanos provavelmente perderão seus empregos.

Um mercado de trabalho pós-pandemia deverá empurrar os juros nos EUA para 6%dfd

Dívidas infladas

Enquanto as taxas de crescimento econômico eram maiores do que o custo do dinheiro, o endividamento público parecia barato e os países ricos abaixaram a guarda. O total devido pelos países do G7 subiu para 128% do Produto Interno Bruto (PIB) este ano, de 81% em 2007.

Taxas de juros mais elevadas este ano apontam para maior peso da dívidadfd

Agora, com a desaceleração econômica e juros em alta, o cálculo mudou – e a conta chegou. Várias grandes economias podem se encontrar em uma trajetória de dívida insustentável, a menos que façam ajustes fiscais dolorosos.

Em alguns mercados emergentes, o dilema é pior ainda. O Sri Lanka seguiu o Líbano e a Zâmbia em um default histórico. Por enquanto, pelo menos, o problema parece contido.

  Modelo da Bloomberg Economics sugere que o risco de default em emergentes é muito menor do que o visto nas décadas de 1980 e 1990dfd

O modelo da Bloomberg Economics sugere que os riscos iminentes de default estão concentrados em pequenas economias que representam apenas 3% do PIB global, com os maiores países em desenvolvimento provavelmente fora de risco de uma crise de dívida.

Mercado imobiliário

Dinheiro mais caro significa aperto para os mercados imobiliários em todo o mundo. Países como Canadá e Nova Zelândia – que estão entre os mercados imobiliários mais inflados – podem se encontrar na linha de frente.

Os EUA não estão no topo do ranking de risco, mas não estão longe. Será necessária uma queda de 15% nos preços em todo o país para alinhar os pagamentos de hipotecas à renda das famílias, estima a Bloomberg Economics.

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Na China, também há problemas no mercado imobiliário, que representa cerca de 40% da economia.

Lá, o cenário base é que a reabertura da economia após a políitca de “zero covid” – um processo que já começou e provavelmente ganhará impulso após o Congresso Nacional do Povo em março – compensará os problemas no setor imobiliário, e o efeito líquido será crescimento ligeiramente mais forte. A Bloomberg Economics prevê uma expansão de 5,7% para 2023.

Mas quando – e como – o governo encerrará as restrições impostas pela covid ainda não está claro. Os cálculos da Bloomberg Economics sugerem que a construção de imóveis precisa cair 25% para se realinhar com a oferta cada vez menor.

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Além disso, a aposentadoria iminente das principais autoridades econômicas pode deixar o presidente Xi Jinping com uma equipe com pouca experiência no combate a crises.

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O fracasso em ambas as frentes pode levar o crescimento chinês a 2,2%. Se o colapso imobiliário se transformar em crise financeira, até mesmo esse número será difícil de alcançar.

Uma desaceleração tão acentuada enviaria ondas de choque ao redor do mundo. O maior golpe recairia sobre os vizinhos asiáticos da China, da Coreia ao Vietnã, e grandes produtores de commodities como Austrália e Brasil.

Europa na corda bamba

A peça final do quebra-cabeça do risco global é a polarização do mundo em campos rivais, que já impôs custos altos à Europa.

O apoio à Ucrânia após a invasão russa deixou o continente com escassez de gás natural e aumento dos preços da energia. O caso base da Bloomberg Economics é que os altos custos de energia e os aumentos de juros do Banco Central Europeu levarão o bloco à recessão, com o PIB encolhendo 0,1% em 2023.

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Laços globais desgastados

O impasse com a Rússia que deixou a Europa sem energia é apenas um exemplo de fratura geopolítica. As relações entre os EUA e a China também continuam a se deteriorar.

O presidente Joe Biden manteve as tarifas impostas por seu antecessor, Donald Trump, e deu um passo adiante com um embargo às vendas de semicondutores de ponta – uma medida que ameaça transformar a China em uma espécie de comunidade Amish, com seu desenvolvimento tecnológico congelado no tempo.

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A decisão da Apple de iniciar a produção do iPhone 14 na Índia é um sinal de que empresas gigantes estão protegendo sua exposição ao risco geopolítico. Países como Vietnã e México se beneficiam.

-- Com a colaboração de Anna Wong, Bjorn Van Roye, Maeva Cousin, Ziad Daoud, Eric Zhu, Chang Shu, Scott Johnson e Jamie Rush.

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