Frio fora de época atrapalha vendas e Renner tem resultado misto para analistas

Apesar de lucro 50% maior na comparação anual, o inverno prolongado levou a um faturamento menor do que o esperado

Inverno prolongado atrapalhou coleção de primavera-verão da Renner
04 de Novembro, 2022 | 11:55 AM

Bloomberg Línea — O frio fora de época atrapalhou os resultados do terceiro trimestre das Lojas Renner (LREN3). Em documento divulgado na quinta-feira (3), a varejista afirma que “o inverno mais rigoroso e prolongado do segundo trimestre transferiu cerca de 5% do volume do terceiro trimestre para o segundo”. “Por sua vez, o terceiro trimestre, caracterizado pela transição da coleção primavera-verão, foi marcado por temperaturas abaixo do esperado, impactando as vendas do período”, explicou a companhia.

Segundo analistas do BB Investimentos, o balanço da Renner foi neutro. O resultado divulgado mostrou um crescimento de 10% nas vendas e de 35% na receita líquida de varejo quando comparado ao mesmo trimestre de 2021 e de 2019.

O lucro registrado foi de R$ 257,9 milhões, representando uma alta de 50% ano a ano. O endividamento bruto ficou na casa dos R$ 3,4 bilhões, com uma posição de caixa de R$ 4,4 bilhões. O EBITDA foi de R$ 459,5 milhões, com um crescimento de 5% no mesmo período.

“Na comparação anual, observamos um incremento de vendas, diante da normalização das atividades nos últimos 12 meses após as circunstâncias enfrentadas por ocasião da covid-19 em 2021″, explicam os analistas do BB. “Entendemos que o cenário vivenciado pelo setor de vestuário no terceiro trimestre foi mais adverso do que projetávamos, o que implicou em maiores desafios às Lojas Renner e em um resultado menos ‘empolgante’”, continuam.

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Apesar de classificar o resultado como neutro, o BB Investimentos recomenda a compra dos ativos da Renner, com preço-alvo de R$ 39,80. “Os papéis da Renner acumulam alta de 27,1% em 2022 até o dia 3, ocupando posição de destaque em um ano em que o setor de varejo enfrentou um cenário bastante desafiador, com a escalada da inflação e consequente alta de juros para contê-la”, afirmam os analistas.

“Ao nosso ver, dado o bom histórico de execução da Lojas Renner, que se destaca entre seus pares no setor de vestuário, combinado com a sua exposição a um setor varejista mais sensível à renda do que ao crédito, entendemos que a companhia deve seguir no radar dos investidores”, completam.

A recomendação de compra também é mantida pelo Goldman Sachs (GS), que entende os resultados da Renner como “mistos”, “embora melhores” do que o previsto”. Para o banco americano, o mesmo inimigo observado pelo BB atrapalhou a varejista de moda: o frio.

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“Mesmo que as vendas de mercadorias tenham sido impactadas negativamente por temperaturas adversas, as margens brutas se recuperaram para os níveis de 2019 e alguma alavancagem operacional começou a aparecer. Os resultados da operação de financiamento ao consumidor permaneceram fracos, mas acreditamos que isso era amplamente esperado”, dizem os analistas. O Goldman coloca as ações da Renner com um preço-alvo de R$ 37.

A Genial Investimentos define os resultados da Renner como “sem surpresas”, mantendo a recomendação de compra do ativo, com preço-alvo de R$ 34. “As temperaturas mais frias que a média histórica para o período fez com que a varejista perdesse inclinação de crescimento de seu top line nesse 3º trimestre. Em seu release de resultados, a companhia ainda reforçou a sua previsão para o 4º trimestre. A despeito de temperaturas mais frias em outubro, a Renner espera que o 4T22 seja similar ao crescimento do 3T22 em relação à 2019 (na faixa de 35%~40% de crescimento vs. 2019)”, dizem os analistas.

O Itaú BBA, por sua vez, discorda, e coloca os papéis da Renner como neutros por acreditar que os resultados foram “poluídos” por “uma série de eventos pontuais”. “Apesar do impacto negativo de um inverno prolongado, a Renner registrou crescimento de 10% nas vendas do varejo [...] A expansão da margem bruta e as despesas mais baixas do programa de participação nos lucros compensaram as despesas operacionais mais altas (especialmente em despesas vinculadas ao novo CD)”, afirmam os analistas do banco.

Para o Itaú BBA, o destaque negativo dos resultados da varejista para o terceiro trimestre ficou com o braço financeiro da Renner, o Realize. Apesar de o faturamento da divisão ter crescido 46% na comparação anual, a inadimplência também aumentou — vencido sobre a carteira total de 27,3% no 3T22 versus 19,4% no 3T21. Isso, segundo o banco, “resultou em perdas líquidas acima do estimado de R$ 237 milhões, embora a empresa tenha vendido sua carteira de crédito baixada por R$ 24 milhões”.

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Tamires Vitorio

Jornalista formada pela FAPCOM, com experiência em mercados, economia, negócios e tecnologia. Foi repórter da EXAME e CNN e editora no Money Times.