Compensação de carbono por aéreas ainda é insuficiente, aponta estudo

Quase todas as companhias avaliadas na UE estão apostando em compensações baratas, sem qualidade e sem garantia, conforme levantamento

Emissões de carbono do setor de aviação são regulamentadas pelo sistema de comércio de emissões do bloco, atualmente sob revisão
Por Natasha White - Siddharth Philip - Lin Noueihed
11 de Outubro, 2022 | 04:44 PM

Bloomberg — De olho na execução de leis, projetos e promessas envolvendo as metas climáticas, a Carbon Market Watch, uma organização sem fins lucrativos que tem entre seus financiadores a própria União Europeia, diz em novo estudo que as principais companhias aéreas da região estão deturpando discursos para os consumidores ao alegar que podem voar sem culpa ao usar as compensações de carbono para neutralizar o impacto ambiental de suas viagens.

Sem considerar a queda temporária que aconteceu durante a pandemia, as emissões das companhias aéreas aumentaram consideravelmente nas últimas duas décadas e, se não forem controladas, podem triplicar até 2050. No mundo, a indústria gera cerca de um bilhão de toneladas de CO2 por ano – comparável às emissões do Japão, que é a terceira maior economia do mundo.

Para aliviar a consciência de quem viaja, as companhias aéreas recorreram às compensações de carbono, comercializando seus próprios investimentos e incentivando os passageiros a pagar por isso para custear seus próprios voos. Mas tais esforços não funcionam, disse o estudo da Carbon Market Watch, porque as empresas estão apostando em compensações baratas, sem qualidade e que não têm garantia.

As conclusões são baseadas em um estudo da empresa de pesquisa Öko-Institut, que avaliou a escala e a qualidade das políticas de redução de emissões de maio a julho das oito maiores companhias aéreas da Europa, coletivamente responsáveis por mais da metade das emissões totais de CO2 do setor de aviação da União Europeia no ano de 2019: Air France, British Airways, Easyjet, KLM, Lufthansa, Ryanair, SAS e Wizz Air.

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O estudo mostra que quase todas as companhias aéreas avaliadas possuem projetos de compensações florestais em países em desenvolvimento, esforços que são vulneráveis no longo prazo. As árvores podem queimar, morrer ou ser cortadas se as políticas mudarem, revertendo seu armazenamento de carbono.

“Embora não paguem por sua poluição, as companhias aéreas estão enviando sinais enganosos de neutralidade climática aos clientes com base na compra de compensações de carbono de baixa qualidade”, disse Daniele Rao, especialista em descarbonização de aviação e transporte marítimo da Carbon Market Watch. “Esta má prática deve acabar.”

As emissões da aviação são regulamentadas pelo sistema de comércio de emissões da UE, que está atualmente sob revisão, e o Carbon Market Watch diz que é preciso expandir o plano para cobrir todos os voos que partem e chegam ao espaço aéreo europeu, em vez de avaliar apenas países do bloco.

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A UE também deve exigir divulgações “claras e completas” das companhias aéreas sobre suas compensações de carbono e outras ações climáticas voluntárias, proibir anúncios enganosos e emitir orientações sobre como fazer declarações informativas, apontou a organização sem fins lucrativos.

A EasyJet se pronunciou. “A EasyJet está dando passos reais e significativos para a descarbonização de nossas operações, como demonstrado mais recentemente por nosso programa de zero emissão publicado no mês passado, que descreve como podemos chegar a zero emissões líquidas de carbono até 2050 por meio de uma combinação de renovação de frota, eficiência operacional, combustível sustentável, tecnologia de emissão zero de carbono e compensações de carbono”, afirmou em comunicado.

Tanto a EasyJet quanto a irlandesa Ryanair concordaram com a Carbon Market Watch que o esquema regulatório deveria incluir todos os voos que chegam e partem da Europa. “Isso significaria que os passageiros mais ricos, nos voos de longa distância mais poluentes, finalmente pagariam sua parte justa em impostos ambientais”, disse a Ryanair em comunicado, ressaltando que os voos de curta distância dentro da UE representam menos de metade das emissões da aviação da região.

Tanto a British Airways quanto a Air France disseram estar focadas em uma gama de medidas de descarbonização e eficiência energética de curto e de longo prazo, e que as compensações de carbono são complementares.

“A prioridade da Air France é reduzir as emissões de gases de efeito estufa o mais rápido possível, principalmente aquelas geradas diretamente por nossas operações”, disse em comunicado. A Wizz e a Lufthansa não responderam aos pedidos de comentários.

Em junho, outra companhia aérea, a KLM, foi processada por grupos ambientalistas da Holanda que dizem que a campanha “Voe com Responsabilidade” da companhia é greenwashing, uma “lavagem verde”, na tradução livre. Em abril, a agência de publicidade holandesa decidiu que a propaganda da KLM era enganosa.

A empresa contestou a afirmação do estudo de que seus projetos de compensação são de baixa qualidade. “Estamos fazendo todos os esforços para garantir que isso seja feito com o mais alto padrão possível”, afirmou em comunicado.

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“Na KLM, não usamos mais o termo ‘voar neutro em carbono’, e esclarecemos nossas comunicações sobre nossa frente de compensação de carbono e o uso de combustível de aviação sustentável porque achamos importante ser transparente sobre os impactos da aviação.”

Os autores do estudo do Öko-Institut disseram que tiveram que confiar em estimativas devido à divulgação limitada de informações das companhias aéreas, tanto em seus relatórios públicos quanto em resposta a perguntas diretas.

De acordo com a pesquisa, os preços de compensação pagos pelas companhias aéreas e seus clientes eram muito baixos para sinalizar qualquer redução significativa nas emissões.

A Carbon Market Watch chamou de “alternativa mais barata e conveniente, que não requer mudanças na maneira como funcionam ou no modelo de negócios”, e as companhias que comercializam este tipo de voo “poderiam incentivar mais viagens aéreas quando simplesmente deveríamos estar olhando para o contrário.”

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