Trabalho informal dificulta a tarefa dos BCs de reduzir a inflação, diz Ilan Goldfajn

Ex-presidente do Banco Central e diretor do FMI para o Hemisfério Ocidental afirma que a informalidade é um desafio para os bancos centrais na América Latina

'É crucial olhar para a informalidade e como ela pode afetar a inflação neste momento'
21 de Setembro, 2022 | 07:30 AM

Bloomberg Línea — Desde que assumiu a diretoria do Fundo Monetário Internacional (FMI) para o Hemisfério Ocidental no começo do ano, o economista Ilan Goldfajn tem se dedicado a chamar a atenção para os temas econômicos que desafiam os governos da região. Um desses pontos na visão dele é o alto grau de informalidade do mercado de trabalho da América Latina.

Para Goldfajn, que foi presidente do Banco Central do Brasil entre 2016 e 2019, uma das consequências da alta informalidade é que ela dificulta a tarefa dos bancos centrais de combater a inflação elevada e reduz a efetividade das políticas de juros na região.

O economista afirmou em um evento em São Paulo nesta terça-feira (20) que essa contrariedade ocorre por duas razões principais. A primeira é que empresas informais e trabalhadores por conta própria não têm acesso ao mercado de crédito formal e, portanto, são menos sensíveis ao aumento de custos com a elevação das taxas de juros.

A segunda razão é que, nos momentos de inflação alta, como agora, o trabalho informal mantém a demanda mais elevada porque oferece uma alternativa de renda para os trabalhadores que perdem o emprego em crises econômicas.

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“As pesquisas têm mostrado que a informalidade do mercado de trabalho está relacionada com a capacidade de reduzir a inflação numa situação de desemprego”, afirmou Goldfajn, que foi um dos painelistas do evento “Informality and Wage Setting Policies in Latin America”, organizado pelo Insper.

“Para a inflação cair é crucial saber o quanto as taxas de juros mais altas vão afetar o emprego. E a informalidade parece ser um fator relevante para isso. É crucial olhar para a informalidade e como ela pode afetar a inflação neste momento”, afirmou o ex-presidente do BC.

Em toda a América Latina, os bancos centrais aumentaram as taxas de juros no último ano para enfrentar a escalada de preços, que continua afetando a região. No México, os juros básicos estão em 8,5% ao ano (ante 4% em junho de 2021). Na Colômbia, a taxa é de 9% (ante 1,75% em novembro de 2021). No Brasil, a taxa Selic está atualmente em 13,75% ao ano e uma nova decisão do Banco Central será conhecida nesta quarta-feira (21).

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Goldfajn chamou a atenção para o fato de que os países com maior informalidade no mercado de trabalho tendem a ter uma inflação mais alta mesmo nos momentos em que o desemprego está muito elevado – uma relação que os economistas chamam de “Curva de Phllips”. Em países com menor informalidade, a inflação tende a ser menor nesses casos.

“Basicamente nós estamos tendo a maior inflação dos últimos 15 a 20 anos. As taxas de juros estão subindo. Se as taxas de juros realmente vão fazer diferença, é algo crucial. Porque com as taxas de juros nós podemos mudar a demanda, mas o efeito na inflação vai depender de quão íngreme é a Curva de Phillips”, disse Goldfajn.

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Filipe Serrano

É editor da Bloomberg Línea Brasil e jornalista especializado na cobertura de macroeconomia, negócios, internacional e tecnologia. Foi editor de economia no jornal O Estado de S. Paulo, e editor na Exame e na revista INFO, da Editora Abril. Tem pós-graduação em Relações Internacionais pela FGV-SP, e graduação em Jornalismo pela PUC-SP.