Cresce oferta de venture debt a startups, mas General Atlantic faz alerta

Itaú BBA tem R$ 300 mi para investir nessa modalidade, mas tomar esse tipo de dívida requer cautela, avalia empresa global de growth equity

Rodrigo Catunda, líder da General Atlantic no Brasil, Mariana Dias, CEO e cofundadora da Gupy e Pedro Juliano, líder de investment Banking da JP Morgan no Brasil
16 de Setembro, 2022 | 08:45 AM
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Bloomberg Línea — Rodadas Série C em diante tiveram um significativo ajuste para baixo no primeiro semestre deste ano em comparação com o mesmo período do ano passado, segundo dados da LAVCA (Associação para Investimento em Capital Privado na América Latina).

Em detrimento de rodadas em equity (fatia acionária), algumas startups estão se financiando por meio de dívida tradicional, com linhas de crédito, ou pelo chamado venture debt, um modelo de financiamento que não dilui a participação de acionistas já na base. No Brasil, o Itaú BBA disse, em entrevista à Bloomberg Línea, que montou um book de venture debt com uma captação própria do banco.

Nessa estrutura separada de venture debt, o Itaú tem R$ 300 milhões para alocar em startups até o final deste ano, com o plano de investir tíquetes menores de empresas em estágio mais inicial.

“Já fizemos uma série de liberações e em duas a três semanas teremos mais uma transação para anunciar”, disse Fábio Villa, diretor comercial do Itaú BBA.

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Nos últimos dias, o banco americano Goldman Sachs (GS) concedeu uma linha de crédito de US$ 140 milhões à fintech chilena Xepelin, enquanto a mexicana Clip, de maquininhas, obteve uma linha de crédito rotativo sem garantia de três anos de US$ 50 milhões com Morgan Stanley (MS), J.P.Morgan (JPM) e HSBC (HSBC).

O Goldman Sachs também forneceu uma linha de crédito colateralizado de US$ 150 milhões para a mexicana Clara, de empréstimos e gerenciamento de gastos. Também emprestou US$ 233 milhões ao Mercado Livre (MELI) em julho, participou da linha de crédito de US$ 650 milhões do Nubank (NU) no início deste ano e forneceu US$ 160 milhões para a Konfio, do México, no ano passado.

Com a carteira própria do banco, o Itaú BBA disse ter um portfólio de crédito de R$ 5 bilhões para investir em empresas de tecnologia. “Fazemos crédito em rotativo, mas boa parte são linhas estruturantes, geralmente entre uma capitalização e outra, nesse estágio de early stage para cima”, explicou.

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“É uma linha alternativa complementar, somos bem ativos. Para a empresa que tem uma tese provada e tem um mercado endereçável grande, fazemos a nossa aposta e usamos muito o nosso balanço”, disse. O banco de investimento já financiou transações da CloudWalk, da MeuTudo e da Listo, desde a originação do crédito até a distribuição no mercado de renda fixa.

Mesmo assim, as rodadas de equity para startups Seed e early stage continuaram fortes na América Latina nos primeiros seis meses de 2022, com 113% e 48% de crescimento no ano contra ano, respectivamente, comparado ao primeiro semestre de 2021, segundo dados da LAVCA.

Por isso, Rodrigo Catunda, managing director da General Atlantic no Brasil, disse que não aconselha startups a usarem venture debt como uma estratégia agressiva.

“Se eu olho uma companhia com venture debt que quer levantar capital comigo para pagar uma dívida, vou ficar um pouco receoso”, disse durante painel sobre startups e VCs no Bloomberg Línea Summit realizado nesta quarta-feira (14) em São Paulo.

Quando a startup capta com venture debt e o mercado corrige, pode funcionar, segundo Catunda. Mas ele afirma que a crise pode durar mais do que o empreendedor imagina. “É um instrumento mais defensivo, [que funciona] quando a empresa realmente precisa tomar uma dívida cara, porque não tem equity disponível. Existem momentos e momentos. É algo arriscado, requer muita cautela e precisa ser muito alinhado com os acionistas”, afirmou.

General Atlantic disse ‘não’ para o Nubank

Catunda revelou no evento da Bloomberg Línea o seu maior arrependimento nas decisões de investimento da General Atlantic. “Ficamos até sem graça porque o David [Vélez, CEO do Nubank] trabalhou com a gente, era um investimento natural. Mas toda hora que a gente chegava às rodadas voltávamos com um grande problema: valuation”, disse Catunda. “Muitas vezes pecamos por ser conservador no valuation e às vezes erramos em oportunidades como essa.”

O Nubank é uma investida da empresa de venture capital Kaszek, que, por sua vez, se arrepende de não ter entrado no capital da dLocal - que está no portfólio da General Atlantic.

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Em evento recente da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCAP), Santiago Fossatti, sócio da Kaszek, disse que o maior erro da empresa de capital risco foi não ter investido na dLocal (DLO), startup uruguaia de pagamentos cross-border que abriu capital na Nasdaq.

“Nosso maior erro foi não investir em uma empresa que deu certo. Um caso claro foi o da dLocal. Como fomos tão burros de não entender o potencial que tinha aquela companhia. Isso é o que tira o sono, deixar passar boas empresas”, disse.

A dLocal, com um modelo de negócios similar ao da americana Stripe, tem a brasileira Ebanx como um dos principais concorrentes no processamento de pagamentos na América Latina. A fintech uruguaia fez seu IPO na Nasdaq em junho de 2021, com um valuation de U$ 6 bilhões. Hoje, a empresa tem um market cap de US$ 7,9 bilhões.

Nesse caso, a General Atlantic não errou. Hoje, a empresa de growth equity global é a maior acionista da dLocal, com 35,60% das ações em circulação.

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups