O plano de Facundo Guerra para revitalizar uma das casas mais famosas da noite paulistana

Após comprar a antiga boate Love Story, empresário projeta um lucro anual de R$ 15 milhões com o novo empreendimento

Mesmo layout, disposição, cores e estruturas "melhoradas"
10 de Setembro, 2022 | 07:31 AM

Bloomberg Línea Brasil — Um “upgrade” na experiência das artes do corpo. É assim que o empresário Facundo Guerra descreve o Love Cabaret, projeto que rebatizou o Love Story, boate inaugurada em 1991 e conhecida por reunir, por anos, diferentes públicos na madrugada paulistana.

O ponto foi arrematado por Facundo e Cairê Aoas, do grupo Fábrica de Bares, por R$ 200 mil em agosto de 2021. À época, a boate já tinha entrado em recuperação judicial e acumulava uma dívida de quase R$ 2 milhões. Pouco mais de um ano depois, as cifras - e as expectativas - são completamente diferentes.

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Com valuation estimado em R$ 7 milhões pelos proprietários, baseado em premissas de mercado, a expectativa de lucro para o primeiro ano de funcionamento da casa é de R$ 15 milhões - nas contas dos sócios.

A nova casa tem capacidade para 260 pessoas e quatro andares, dos quais três serão ocupados pela marca Lush, um motel vertical com 27 quartos. O ticket médio estimado é de R$ 150, e a programação dará “destaque para as minorias que normalmente não encontram palco para se apresentar na cidade”, nas palavras de Facundo.

“Não tem nada a ver com sexo ou pornografia, tem a ver com dança, com desejo, e até algo teatral. São artes do corpo que não podem mais ser marginalizadas. Uma arte potente, que incomoda, que tem história”, contextualiza.

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Do próprio bolso

Ainda que a estrutura tenha passado por uma mega reforma, Facundo conta que a ideia é manter a história do que um dia foi o Love Story. Ao contrário, o layout foi preservado, numa reforma que custou R$ 4 milhões. A expectativa, de acordo com Facundo, é recuperar o valor líquido do investimento em três anos.

A maior parte da quantia investida veio de recursos próprios, e uma parte menor foi levantada por meio de um processo de equity crowdfunding, um mecanismo que possibilita investimento coletivo em startups e empresas em expansão.

Mas a intenção do crowfunding não era exatamente apenas captar recursos. Era principalmente chamar a atenção para o negócio.

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“O grupo quis utilizar a opção não para captar dinheiro, mas sim para trazer mais gente para o projeto e engajar o lançamento”, diz Ricardo Wendel, CEO da plataforma DiviHub, responsável pelo processo de equity crowdfunding, uma modalidade de financiamento aprovada pela CVM.

O crowfunding levantou R$ 1 milhão em arremates que duraram pouco mais de 40 minutos. Ao todo, 62 investidores levaram cotas que variam de R$ 10.000,00 a R$ 100.000,00, conta Wendel.

O contrato assinado pelos compradores das cotas é chamado de SCP, ou Sociedade em Conta de Participação, que um modelo contratual de investimento coletivo.

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Um documento da DiviHub enviado à Bloomberg Línea mostra uma projeção de lucro bruto para o período de um ano, considerando a data de captação do crowfunding como o primeiro dia (julho de 2022), de R$ 3.445,52. Já para o ano seguinte, a estimativa bruta salta para R$ 13.724,700.

O ‘upgrade’

Antes esperada para novembro deste ano, a casa agora deve ser reaberta em janeiro do ano que vem e sob uma proposta bastante diferente. Desta vez, focada em um público mais nichado.

“Definitivamente o público não será o mesmo de antes. Estou fazendo um negócio para mim e para os meus sócios”, diz Facundo, que é CEO do Grupo Vegas, que possui sob seu guarda-chuva empreendimentos de peso na noite paulistana, como o Cine Joia, Club Yacht, Lions Nightclub e Riviera - todos na região central da cidade.

“Com essa desigualdade social não posso falar que será para a Classe B. O drink vai custar R$ 30, quem é que pode pagar isso num drink no Brasil de hoje?”, diz.

Um dos bares do 'Love Cabaret', nova versão da 'Love Story'

Ao lado de Cairê, seu sócio, a dupla é conhecida por apostar em projetos no centro de São Paulo, área muitas vezes marginalizada por causa da grande concentração de moradores de rua e usuários de droga. Um exemplo é o Bar dos Arcos, localizado nas fundações do Teatro Municipal, do qual os dois são sócios.

“Não enxergamos o Centro como um problema, muito pelo contrário. Mesmo porque vamos fazer um negócio que as pessoas não vão encontrar nem no exterior”, afirma.

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Melina Flynn

Melina Flynn é jornalista naturalizada brasileira, estudou Artes Cênicas e Comunicação Social, e passou por veículos como G1, RBS TV e TC, plataforma de inteligência de mercado, onde se especializou em política e economia, e hoje coordena a operação multimídia da Bloomberg Linea no Brasil.