SoftBank vai cortar até 20% da equipe do Vision Fund

O fundo tinha cerca de 500 funcionários incluindo a América Latina, mas ‘nada foi decidido’ sobre os impactos na região

O conglomerado japonês deve demitir no mínimo 100 pessoas e pode anunciar os cortes ainda este mês.
02 de Setembro, 2022 | 01:21 PM

Leia esta notícia em

Inglês ou emEspanhol

Bloomberg Línea — Read in English

Leer en español

O conglomerado japonês SoftBank Group planeja cortar pelo menos 20% da equipe global responsável pela operação do Vision Fund, fundo de investimento do grupo para empresas de tecnologia de alto crescimento e que tem um capital alocado total de aproximadamente US$ 140 bilhões. O fundo foi responsável por fazer grandes aportes em startups no mundo, que adquiriram valuations bilionários.

Sob o guarda-chuva do Vision Fund, o SoftBank tem seu próprio veículo de investimento na América Latina, o LatAm Fund I e II, que nos últimos anos investiu nos unicórnios Rappi, Creditas, Kavak, Vtex, Olist, MadeiraMadeira, entre outras empresas. Um porta-voz do SoftBank na região afirmou que “nada foi decidido ainda” sobre mudanças na operação latino-americana. “Conforme o Masayoshi Son disse na apresentação dos últimos resultados, estamos revendo o tamanho da nossa organização e a estrutura”, disse o SoftBank, em resposta à Bloomberg Línea.

PUBLICIDADE

Desde a fundação do LatAm Fund em 2019, o SoftBank gerenciou cerca de US$ 8 bilhões nos dois fundos, dos quais US$ 7,68 bilhões já foram alocados. Segundo o SoftBank, a região ainda tem à disposição um pool de US$ 2 bilhões (em reserva) que ainda não foi mexido. Contados os quase US$ 400 milhões remanescentes dos fundos LatAm, o SoftBank ainda tem aproximadamente US$ 2,4 bilhões para investir na região.

O conglomerado japonês deve demitir no mínimo 100 pessoas da equipe do Vision Fund e pode anunciar os cortes ainda este mês, segundo pessoas familiarizadas com o assunto que pediram para não serem identificadas porque as discussões são privadas, reportou a Bloomberg News.

Os cortes serão principalmente nas operações do Reino Unido, Estados Unidos e China, que têm o maior número de funcionários, disseram essas pessoas. A unidade do Vision Fund tinha cerca de 500 funcionários, incluindo a equipe do SoftBank Latin America Fund, que tinha sido incorporado ao Vision Fund neste ano.

PUBLICIDADE

O fundo I do SoftBank para a América Latina tinha US$ 5 bilhões para investir. Quando a empresa anunciou o fundo II de US$ 3 bilhões em setembro do ano passado, o primeiro já estava praticamente investido. Segundo o SoftBank, os Vision Funds não aportam na América Latina por meio dos fundos LatAm. São administrações diferentes, lógicas diferentes e sócios diferentes. Mas existem empresas da região que receberam aportes do SoftBank via LatAm Funds e Vision Funds junto, que é o caso da Creditas.

Como ficará a América Latina?

O boliviano Marcelo Claure foi peça-chave para o ecossistema de venture capital na América Latina quando convenceu Son a olhar para região liderando um fundo específico para a expansão de empresas: o SoftBank Latin America Fund.

Mas quando Claure deixou o conglomerado japonês no início do ano por discordância sobre sua remuneração, o SoftBank passou por uma dança das cadeiras nos principais cargos executivos que se relacionam com as operações do SoftBank na região.

Claure acabou posteriormente acertando o recebimento de US$ 94 milhões em acordo de saída do SoftBank, mas sua saída causou um efeito dominó.

Uma das consequências foi a cisão com o fundo voltado aos investimentos em early-stage. O ex-Redpoint eventures Rodrigo Baer e seus sócios foram para o SoftBank para montar o fundo voltado a investimentos de startups em estágio inicial na América Latina, uma área em que o conglomerado japonês não tinha o costume de investir na região. Baer disse à Bloomberg Línea que o fundo early-stage operava um pouco distante do grupo principal do SoftBank, já que os sócios do early tinham um acordo especial com Claure.

“Tinha algumas coisas que a gente conseguia fazer no early-stage que não era a regra do SoftBank mãe. Era um acordo que a gente tinha com o Marcelo. Quando o Marcelo saiu, a gente pensou que as pessoas tendem a esquecer os acordos, então aproveitamos que já era um pouco separado e separamos de vez”, disse Baer. A Bloomberg Línea apurou que o SoftBank não paga o “carry” (comissão) aos gestores de fundos, mas que Claure tinha garantido esse pagamento ao fundo early-stage.

A decisão pela cisão das empresas foi tomada em janeiro e, em abril, o fundo se separou do conglomerado japonês, embora ainda o tenha como maior LP (Limited Partner), além de family offices, bancos e outras instituições que garantem o dinheiro gerenciado pela Upload Ventures.

PUBLICIDADE

Com a saída do COO do SoftBank, Marcelo Claure, o conglomerado transferiu a responsabilidade de seus fundos da América Latina para o executivo indiano Rajeev Misra, que gerenciava o Vision. Mas em julho Misra anunciou que estava deixando parte do seu cargo para montar seu próprio veículo de investimentos.

Misra, que ajudou Son a criar o Vision Fund inicial com quase US$ 100 bilhões em 2017, está deixando seus cargos como diretor corporativo e vice-presidente executivo do SoftBank, informou a empresa em comunicado nesta quarta-feira. Ele continuará supervisionando os investimentos existentes do primeiro Vision Fund, enquanto Son disse que assumirá a gestão de novos investimentos sob o segundo Vision Fund.

Com a saída de Claure e do ex-diretor de estratégia Katsunori Sago, que renunciou em 2021, Son, que completou 65 anos em agosto, vem assumindo cada vez mais responsabilidades na empresa que fundou há 40 anos.

A Bloomberg Línea questionou o SoftBank sobre a gestão dos fundos para a América Latina com a saída de Misra. O conglomerado disse que não tinha definição de quem faria o papel do indiano e que a saída dele pouco impacta no dia a dia da operação da América Latina. De acordo com um representante do fundo, Alex Szapiro e Juan Franck lideram América Latina e a palavra final é de Masayoshi Son.

PUBLICIDADE

Szapiro e Franck também são novas figuras nos cargos de liderança do SoftBank desde que os executivos seniores Paulo Passoni e Shu Nyatta, contratados por Marcelo Claure, que administravam os fundos para a América Latina, deixaram o fundo. Hoje, Passoni diz que está em um período sabático pelos próximos 240 dias.

Prejuízos de US$ 23,4 bilhões

Son, o bilionário fundador do grupo, disse em agosto que planeja cortar custos generalizados em seu conglomerado e no braço de investimentos do Vision Fund após uma perda recorde de US$ 23,4 bilhões. A maioria das perdas veio de uma queda nas avaliações das empresas do portfólio, incluindo a sul-coreana Coupang e a americana de delivery DoorDash. O SoftBank também reportou uma perda cambial de US$ 6 bilhões por conta do iene mais fraco.

Os executivos ainda estão debatendo a extensão das demissões, com alguns pedindo cortes de até 50%, de acordo com uma pessoa familiarizada com as discussões.

Funcionários seniores e juniores nos escritórios de front e back estão sendo examinados em uma extensão nunca vista antes, disseram essas pessoas. O SoftBank tem 200 funcionários nos Estados Unidos - incluindo os que trabalham com os fundos da América Latina - o Reino Unido tem 150 pessoas, enquanto a China tem 50 pessoas, segundo outra pessoa.

PUBLICIDADE

Son havia dito no mês passado que revisaria “tudo” para possíveis cortes sem nenhuma “vaca sagrada”.

“O prejuízo é o maior da nossa história corporativa e levamos isso muito a sério”, disse ele na época. “Temos que recorrer a grandes esforços de corte de custos no Vision Fund. Os esforços de corte de custos terão que incluir uma redução no número de funcionários – algo que decidi fazer.”

PUBLICIDADE

Masayoshi Son disse aos investidores que está tomando medidas defensivas para navegar por uma desaceleração brutal da tecnologia. O SoftBank disse no mês passado que levantou mais de US$ 17 bilhões com a venda de contratos futuros do Alibaba Group, a empresa chinesa de comércio eletrônico que fez Son ser um investidor em startups.

Ele também disse que o mi, adquirido por US$ 3,3 bilhões em 2017. Para aumentar o preço das ações do SoftBank, Son lançou um novo programa para recomprar até 400 bilhões de ienes de suas próprias ações.

Son está tentando esperar a queda da tecnologia para poder realizar uma oferta pública inicial bem-sucedida da Arm, a designer de chips que o SoftBank comprou por US$ 32 bilhões. O CEO está planejando uma oferta pública inicial da Arm no próximo ano e disse que pretende tornar a oferta a maior de todos os tempos para uma empresa de chips.

PUBLICIDADE

--Colaboraram Giles Turner e Takahiko Hyuga

-- Com informações da Bloomberg News

Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups