Por que o Bradesco decidiu comprar 51% da gestora do BV?

Negócio revela aposta do segundo maior banco privado do país no segmento de clientes de alta renda e em fundos imobiliários

Ao comprar 51% da asset do BV, Bradesco aposta em novas oportunidades de crescimento no segmento de alta renda e na oferta de produtos de maior valor agregado
24 de Agosto, 2022 | 10:18 AM

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Bloomberg Línea — O Bradesco (BBDC4) anunciou nesta quarta-feira (24) a compra de 51% da BV DTVM, do banco BV (Banco Votorantim), que é a 9ª maior gestora de fundos imobiliários do país, com mais de R$ 41 bilhões de ativos sob gestão. Com a transação, o segundo maior banco privado do país vai criar uma nova gestora de investimentos, que terá marca própria, a ser definida, e terá R$ 22 bilhões sob custódia no private banking. O valor do negócio não foi divulgado.

O movimento do Bradesco marca a aposta do banco no segmento de clientes de alta renda, um público que busca a diversificação de seus investimentos e é menos vulnerável à inadimplência -- uma das principais preocupações do setor bancário num contexto de juros elevados (com Selic a 13,75% ao ano) e de migração de recursos da renda variável para a renda fixa.

Na última temporada de balanços, referentes ao segundo trimestre, instituições financeiras com maior exposição aos clientes de alta renda, como o Itaú (que teve 20,8% de retorno sobre patrimônio no trimestre) e o BTG (21,6%), tiveram rentabilidade melhor do que o Bradesco (18,1%).

O BV Private oferece soluções financeiras e patrimoniais para clientes de alta renda, ocupando o 9º lugar entre os private bankings do país, informou o Bradesco, em fato relevante divulgado na manhã desta quarta-feira (24).

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O Bradesco trata a transação como uma “parceria estratégica”. Na transação, o banco irá adquirir, por meio de uma de suas subsidiárias, 51% do capital da BV DTVM, sociedade que concentra a gestão de recursos de terceiros e a atividade de private banking do banco BV. A conclusão da transação estará sujeita ao cumprimento de aprovações legais e regulatórias.

“Com estrutura independente, a nova asset oferecerá aos investidores produtos inovadores e compatíveis com a realidade de mercado”, comentou Roberto Paris, diretor executivo do Bradesco, em comunicado à imprensa.

Investimentos sofisticados

Em entrevista à Bloomberg Línea, o executivo citou a expectativa de o negócio ter aval regulatório no fim deste ano ou até o início de 2023. Ele disse ainda que já há sugestões para nomear a nova asset, mas evitou revelar as opções. Sobre a ausência do valor da transação na divulgação, Paris justificou citando o compromisso das partes de manter os termos do contrato confidenciais.

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Quanto à decisão de separar a nova asset como um veículo independente da BRAM (Bradesco Asset Management), o executivo explicou que a nova gestora terá um foco em investimentos mais sofisticados, de alto valor agregado, exigindo equipes e abordagens diferentes.

“A nova asset vai oferecer fundos de participação em geral, de operações de crédito de longo prazo, além de private equities. Vemos novas oportunidades também no segmento de créditos de carbono. Quanto a criptoativos, não estão em nosso plano inicial, demanda ainda regulamentação, mas estamos atentos também”, disse Paris.

O diretor do Bradesco também enfatizou a participação relevante dos fundos imobiliários da asset do BV, estimando-a entre 20% e 25% da gestora. “O segmento de empreendimentos imobiliários deve ser explorado pela nova asset. Também vemos oportunidades em infraestrutura, saneamento, setor agrícola”, comentou.

O setor de infraestrutura tem atraído a atenção de fundos de investimentos. Na semana passada, um fundo da XP arrematou a concessão por 30 anos de dois aeroportos icônicos da aviação executiva no país (Campo de Marte, em São Paulo, e Jacarepaguá, no Rio de Janeiro), de olho na valorização de terrenos e no potencial de expansão de terminais VIP.

Indagado se há a possibilidade de o Bradesco ampliar a participação acionária na asset do BV, Paris respondeu que essa eventual opção pode ser avaliada no futuro. Outras instituições, como BTG, XP e Itaú, compraram fatias minoritárias em outras gestoras, mas o Bradesco preferiu comprar o controle.

“Há vários modelos de negócios no mercado, mas para o Bradesco essa decisão estratégica de adquirir 51% do capital fazia mais sentido”, disse o executivo.

Ele reforçou que a parceria com o BV se soma aos esforços do Bradesco de complementar sua oferta de produtos e serviços aos clientes com outro perfil de crédito e de investimentos. A corretora Ágora e a área do private banking (Prime) não serão, segundo ele, afetadas pela nova asset.

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Brasil e exterior

O Bradesco informa já contar com uma plataforma local de asset management, com mais de R$ 544 bilhões sob gestão, e de private banking, com mais de R$ 380 bilhões sob gestão, sendo o 3º e 2º maior gestor em cada segmento respectivamente.

“A gestora será independente e com filosofia própria de investimentos, com completo portfólio de fundos de investimentos destinados ao mercado em geral e a todo perfil de investidor. No private banking o modelo será de arquitetura aberta com a oferta dos melhores produtos de investimentos disponibilizados pelo mercado, além de serviços bancários oferecidos pelo Bradesco e pelo BV, no Brasil e no exterior”, declarou Gabriel Ferreira, CEO do banco BV.

(Atualiza às 10h30 com declarações exclusivas do executivo do Bradesco)

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.