Apesar de alívio atual, inflação em 2023 começa a se descolar, diz Campos Neto

Presidente do BC diz que pressão inflacionária pode superar inércia positiva gerada por redução de tributos e que não deve continuar no cargo ao fim do mandato

Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central desde 2019, disse que não deve aceitar uma eventual recondução ao cargo ao fim do seu mandato, em 2024
18 de Agosto, 2022 | 02:13 PM

Bloomberg Línea — O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta quinta-feira (18) que o Brasil está em um momento de alívio na inflação que pode ser passageiro e se dissipar em 2023. Segundo ele, os preços administrados, como os de combustíveis e de energia, têm caído por causa das recentes medidas do governo de redução de tributos, mas a alimentação domiciliar e os serviços continuam em alta.

“Os preços administrados caem com medidas do governo, mas temos que ver no prazo mais longo. Os núcleos de inflação estão em níveis muito altos e, por isso, estamos vigilantes”, disse em evento Macro Day, promovido pelo BTG Pactual (BPAC11), na manhã desta quinta em São Paulo.

Campos Neto comentou que, embora a redução de impostos sobre os combustíveis tenham ajudado a controlar a inflação, é difícil prever o cenário para 2023 e 2024 (ano em que ele disse que deixará o comando do BC com o fim do seu mandato, previsto na lei de autonomia). “As medidas do governo ajudam, geram inércia positiva, mas é importante qualificar o que é inflação de médio prazo.”

Em sua apresentação, o presidente do BC disse que “quase todos os países” têm inflações acima de suas metas, o que, segundo ele, “mostra que o cenário é desafiador”.

PUBLICIDADE

Campos Neto exibiu um gráfico que mostrava a curva do IPCA, índice oficial de inflação ao consumidor calculado pelo IBGE, em queda, mas com uma “média móvel ainda bastante alta”.

Para julho deste ano, o IPCA foi de -0,68%, o que indica deflação. Mas esse índice foi puxado para baixo justamente pelas categorias de combustíveis e energia, cujos preços são administrados pelo governo federal.

O grupo de alimentação e bebidas, por exemplo, teve alta de 1,3% no mês e de 9,83% em 12 meses. Já a alimentação no domicílio teve alta de 11,84% em 12 meses.

PUBLICIDADE

“As inflações do ano que vem estão subindo”, reconheceu o presidente do BC. Para 2023 e 2024, disse, “o índice tem descolado das nossas projeções.”

Mais cedo, em outro evento, Campos Neto disse que a pressão inflacionária dos elementos que estão em alta deve superar a “inércia positiva” gerada pelas medidas do governo, o que deve resultar em aumento da inflação nos próximos anos.

“É como se você tivesse as medidas do governo pressionando a inflação para baixo, mas os componentes dos anos subsequentes são mais fortes do que a inércia que gera da queda do próprio ano corrente”, disse, segundo o jornal Folha de S.Paulo.

Leia também:

Economia brasileira cresce mais do que o esperado no segundo trimestre do ano

Criptoativos, influencers e agilidade: as prioridades do novo chefe da CVM

Pedro Canário

Repórter de Política da Bloomberg Línea no Brasil. Jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero em 2009, tem ampla experiência com temas ligados a Direito e Justiça. Foi repórter, editor, correspondente em Brasília e chefe de redação do site Consultor Jurídico (ConJur) e repórter de Supremo Tribunal Federal do site O Antagonista.