CEOs agora culpam também o home office por queda nas vendas e nos lucros

Executivos atribuem resultados à demanda menor por produtos e serviços em regiões com escritórios e não conseguem prever quando haverá normalização

Escritórios vazios afetam a demanda por produtos e serviços relacionados ao trabalho presencial, apontam empresas
Por Matthew Boyle
07 de Agosto, 2022 | 11:29 AM

Bloomberg — Clima, guerra, taxas de câmbio voláteis: empresas há muito tempo culpam fatores além de seu controle pela redução dos lucros e desaceleração das vendas.

O novo bode expiatório é o trabalho remoto.

A rede americana de lanchonetes Shake Shack disse na última quinta-feira (4) que o ritmo de retorno aos escritórios em cidades como Nova York ficou estagnado no último trimestre, fazendo com que o crescimento das vendas da empresa ficassem atrás das previsões de Wall Street. Suas ações chegaram a registar a maior queda desde os primeiros dias da pandemia.

A rede de hambúrguer não está sozinha: uma análise das recentes teleconferências de balanços trimestrais revela empresas de todos os setores atribuindo um desempenho medíocre à lenta taxa de retorno de trabalhadores aos escritórios. Isso inclui empresas financeiras, de consumo e até seguradoras.

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A Clorox, fabricante de lenços desinfetantes e alvejantes cujas vendas dispararam durante a pandemia, disse que “baixas taxas de ocupação de escritórios” prejudicaram a demanda por seus produtos comerciais de limpeza.

A Kimberly-Clark, que fabrica lenços e papel higiênico para banheiros de escritórios, também sofreu, levando o CEO Michael Hsu a dizer: “acho que toda essa demanda de escritórios não vai voltar tão rápido.”

As mesas de trabalho podem não ficar cheias por um bom tempo. A ocupação média de escritórios em dez grandes áreas metropolitanas dos Estados Unidos foi de 44% na semana encerrada em 27 de julho, segundo dados da empresa de segurança Kastle Systems. O percentual está consistentemente abaixo desse nível em grandes centros de escritórios como Nova York e São Francisco.

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Nicholas Bloom, um professor de economia da Universidade Stanford que conduz uma pesquisa mensal sobre os padrões de trabalho em casa nos Estados Unidos, descobriu que as cidades americanas estão experimentando o que ele descreve como efeito “donut”, em que os distritos comerciais centrais ficam vazios enquanto os bairros residenciais ao redor da cidade ficam mais cheios.

Trabalhadores em escritórios na cidade de Nova York, em média, pretendem reduzir seu tempo em suas mesas quase pela metade e cortar os gastos anuais na cidade para até US$ 6.730, estima Bloom, contra estimados US$ 12.561 despendidos antes da pandemia.

Raj Choudhury, um professor da Harvard Business School (HBS), que também estuda trabalho remoto, espera que esses padrões continuem, o que se traduz em menos pedidos de ShackBurgers duplos, batatas fritas e milkshakes.

A Shake Shack disse que o movimento na hora do almoço ainda está “bem abaixo” dos níveis de 2019 em cidades como Nova York, onde a queda chega a 40%. Questionado sobre quando isso pode se recuperar, o CEO Randy Garutti simplesmente deu de ombros.

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