Analistas se dividem sobre possível fim de ciclo após comunicado do Copom

Entre apostas de fim de ciclo e de altas mais leves na próxima reunião, especialistas analisam sinalizações do texto do Banco Central

Novo estímulo fiscal deve postergar a parada dos juros, defende ex-diretor do BC
Por Josue Leonel - Maria Eloisa Capurro e Felipe Saturnino
04 de Agosto, 2022 | 07:18 AM

Bloomberg — O Banco Central decidiu por elevar a taxa Selic em 0,50pp, para 13,75% ao ano, e indicou que irá avaliar a necessidade de novo ajuste de menor magnitude na próxima reunião, em setembro. Para os economistas, o Copom deixou a porta aberta para encerrar o ciclo de aperto com uma alta de 0,25 ponto percentual no próximo mês.

A principal novidade do comunicado foi a mudança no horizonte relevante: o BC passou a enfatizar a inflação acumulada em doze meses no primeiro trimestre de 2024, estimada em 3,5%, abaixo dos 4,6% previstos para o final de 2023.

Dessa forma, o Copom suaviza os efeitos diretos das desonerações tributárias feitas pelo governo.

A decisão foi ao encontro da precificação da curva de juros. Operadores financeiros vinham inclusive reduzindo as apostas em aperto adicional ao longo dos últimos pregões.

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O comitê reforçou, ainda, que é apropriado que o aperto siga avançando “significativamente em território ainda mais contracionista” e que irá perseverar em sua estratégia até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.

O que dizem os analistas:

Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs

  • "Copom jogou no campo seguro, mantendo-se conservador"
  • Para a reunião de setembro deu sinalização explícita e inequívoca para uma alta residual de menor magnitude (leia +0,25pp)
  • Setembro provavelmente marcará o fim do longo ciclo com uma Selic em 14,0% altamente restritiva
  • "Esperamos que o Copom espere até o final do segundo semestre de 2023, ou possivelmente do terceiro trimestre de 2023, para começar a cortar a taxa"

Fabio Kanczuk, ex-diretor do BC e chefe de Macroeconomia da Asa Investments

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  • Vê alta de 0,25 pp em setembro
  • "Meu cenário não mudou, de que vai continuar inflação alta e atividade alta"
  • "Eles estão vendo também um mercado de trabalho ainda forte, aquecido e sem sinais da politica monetária afetando a atividade"
  • Novo estímulo fiscal deve postergar a parada dos juros

Gustavo Pessoa, gestor da Legacy

  • "Copom sinalizou intenção de acabar o ciclo. Deixou a barra alta para, caso as coisas piorem, subir 25 bps"
  • "Sinalização do BC foi bem em linha com o que o mercado espera. Caminhando para encerrar o ciclo"
  • "Cenário recessivo global dá conforto para BC caminhar para parar. Commodities estão arrefecendo bastante, então as últimas notícias têm sido boas para a inflação"

Fernando Gonçalves, superintendente de pesquisa econômica do Itaú Unibanco

  • BC termina o ciclo de juros em 13,75% se não houver piora de expectativas
  • Copom não fechou completamente a porta, poderia haver mais uma alta de 0,25pp, mas não parece ser o cenário base
    • BC diz que consegue influenciar nesse horizonte, dada a defasagem da política monetária

Tatiana Nogueira, economista da XP

  • "Embora reconhecendo o risco de uma alta final da taxa em setembro, mantemos a expectativa de que a taxa Selic se mantenha inalterada em 13,75% até meados de 2023"
  • "Não acreditamos que esse patamar seja suficiente para trazer o IPCA para a meta no próximo ano, mas certamente ajudará a aumentar a probabilidade de um IPCA dentro da meta em 2024"

José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator

  • "Quanto à reação do mercado, se BC disse que talvez tenha mais alta, mercado vai achar que tem mais"
  • "Depois de muito tempo não falaram de surpresa negativa na inflação. Foram usadas algumas descrições menos ruins, ou mais benignas. Isso dá um contorno geral que ajuda a sinalizar que ciclo acaba na próxima reunião"
  • Banco Central foi mais otimista ao tratar das incertezas em jogo
  • Fator espera Selic em 14% no fim do ciclo

Marco Caruso, economista-chefe do Banco Original

  • "Minha sensação é de que o cenário básico do Copom é de não fazer nada em setembro, sendo a alta de hoje a última do ciclo"
  • "Principal sinalização foi o Copom começar a colocar 2024 no horizonte relevante, com a inflação projetada abaixo do centro da meta, já incorporando os efeitos fiscais das últimas medidas que o governo trouxe e que são inflacionárias"

Gino Olivares, economista-chefe da Azimut Brasil Wealth Management

  • "Novidade foi olhar projeção de inflação em 12 meses até primeiro trimestre de 2024"
  • "Essa projeção estaria em 3,5% e com isso ele está sinalizando que a inflação nas contas do BC cairia de 4,6% no final de 2023 para 3,5% no primeiro trimestre de 2024"
  • "Medidas apenas atrasam um pouco a convergência de metas que o BC já está enxergando"

Debora Nogueira, economista-chefe da Tenax Capital

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  • "Copom subiu a taxa Selic em 0,50pp como o esperado, e a sinalização foi de ajuste adicional de 0,25pp na próxima reunião"
  • Mudança de foco do horizonte relevante, ao destacar que a inflação acumulada até o primeiro trimestre de 2023 de 3,5%, se encaixa no quesito "em torno da meta" e viabilizará a parada dos juros após a reunião de setembro
  • Ciclo deve se encerrar em 14,0% e Selic deve ficar parada até, pelo menos, o terceiro trimestre de 2023

Mirella Hirakawa, economista AZ Quest

  • Principal mudança da comunicação é que BC opta por neste momento olhar horizonte acumulado de seis trimestres à frente, que seria 12 meses acumulados até primeiro trimestre de 2024
  • Deixa a porta completamente aberta para uma alta adicional de 0,25pp ou manutenção
  • Economista vê mais uma alta adicional de 0,25pp em setembro e ciclo fechando em 14%

Brendan McKenna, estrategista do Wells Fargo

  • Projeção atualizada é de 14% para o final deste ano; vê declaração mais no lado hawkish
  • Embora a inflação tenha dado sinais de moderação, o comitê ainda parece preocupado com a trajetória das expectativas
  • BC tenta dizer que os efeitos das medidas tributárias recentes são temporários e vão distorcer os dados de inflação nos próximos trimestres
  • Ao mesmo tempo, porém, ainda tomará medidas agora para conter as expectativas de inflação, especialmente se a política fiscal for consistente com essas expectativas de inflação se tornando desancoradas

Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter

  • “Copom não fechou as portas para uma nova alta na próxima reunião”
  • “Nova alta residual de 0,25pp em setembro não deve ser descartada nesse momento”
  • No balanço de riscos, pesa ainda as incertezas sobre potenciais medidas fiscais em 2023 que possam causar novas pressões inflacionárias

Laiz Carvalho, economista para Brasil do BNP Paribas

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  • BC um pouco mais dovish do que o esperado
  • Condições da economia, principalmente das expectativas de inflação, vão impedir o Banco Central de parar neste momento
  • “Cenário e as expectativas de inflação vão acabar se impondo a essas sinalizações de que o Banco Central vai parar. Ele vai ter que continuar subindo”
  • Vê Selic final em 14,25% em 2022
  • Banco Central inicia o processo de cortes no segundo semestre do ano que vem, terminando a Selic em 12%

Álvaro Frasson, economista do BTG Pactual

  • “Quando o BC vocaliza que vai avaliar a necessidade de um ajuste residual, ele fecha a porta para outubro e deixa entre 0 e 25 pbs para setembro”
  • “É dovish não só por cortar essa possibilidade, mas também porque o BC fez isso em um ambiente onde a expectativa de inflação é ascendente, bem acima da meta”

Ivo Chermont, economista-chefe da Quantitas

  • “BC foi mais dove do que eu esperava”, deixou mercado em dúvida entre zero e 0,25pp
  • BC passou a avaliar a inflação 12 meses entre março 2023 e março 2024, em razão das medidas de combustíveis, “que foi uma espécie de malabarismo e achou inflação de 3,5%”
  • “Isso contribui para achar que vai ter mais 0,25pp em setembro”
  • Na reunião de setembro, essa projeção de 12 meses provavelmente vai estar mais perto de 3,60%, 3,70%, se afastando ainda mais da meta

Mauricio Oreng, Santander

  • Revisa Selic final de 14,25% para 14%
  • Alta adicional de 0,25pp é dependente de dados

Roberto Secemski e Juan Prada, Barclays

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  • Mantêm Selic terminal em 13,75%, mas buscarão detalhes na ata, que sai no mesmo dia do IPCA de julho
  • 0,25pp adicional em setembro depende das expectativas de inflação até lá

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