Preocupação com recessão atinge recorde entre empresas, revela pesquisa

Receio com efeitos da alta dos juros sobre a economia se espalha em divulgações de resultados no 2º tri, aponta levantamento da gestora global Schroders

NSYE
25 de Julho, 2022 | 04:15 AM

Bloomberg Línea — Uma nuvem de preocupações sobre a forte pressão inflacionária segue pairando sobre as empresas, com dúvidas sobre aumento de custos e salários. Mas, mais do que uma alta dos preços, a forma como o aperto monetário ao redor do globo pode levar a economia a uma recessão tem ganhado cada vez mais a atenção no mundo corporativo.

De acordo com um relatório publicado na última semana (19) pela Schroders, gestora global com mais de US$ 990,9 bilhões em ativos, o número de vezes que empresas usaram a palavra “recessão” durante as teleconferências de resultados do segundo trimestre foi a maior desde o início da pandemia de covid-19, em 2020.

O levantamento foi feito pela Unidade de Insights de Dados (DIU, na sigla em inglês) da gestora, usando o processamento de linguagem natural (PLN) para analisar milhares de transcrições de teleconferências das companhias nos Estados Unidos. Com essa ferramenta tecnológica, foi possível rastrear o número de documentos que mencionam uma determinada palavra ou frase ao longo do tempo.

De acordo com a Schroders, as empresas dos setores financeiro e industrial têm sido as mais ativas nos comentários sobre recessão, de modo que respondem por metade das menções documentadas sobre o tema.

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Ao mesmo tempo, o número de transcrições que menciona recessão junto com palavras como “preocupações” e “medos” saltou para um recorde histórico. “Não apenas as empresas estão falando sobre recessão mas também estão claramente preocupadas com isso”, destacou a estrategista da Schroders Tina Fong, que assina o relatório.

Embora análise atual só possa ser comparada a duas recessões desde 2005, a Schoders destaca que o aumento no número de ocorrências de recessão é “bastante preocupante”. No passado, quando essa leitura foi alta, a economia dos EUA esteve de fato em recessão (considerando as recessões registradas oficialmente pelo National Bureau of Economic Research, dos Estados Unidos).

Ao mesmo tempo, a gestora destaca que os lucros corporativos estão sólidos no ano até agora, já que algumas empresas com poder de precificação conseguiram repassar os custos mais altos. “As empresas estão cada vez mais confrontadas com o aumento dos salários e dos preços das commodities. Devemos ver ainda mais menções de recessão entre as empresas nesta próxima temporada de resultados”, escreve Fong.

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Palavras mais usadas

Na seleção de palavras-chave, “cadeias de suprimentos” continuaram sendo as palavras mais mencionadas por empresas entre abril e junho, assim como no primeiro trimestre do ano. Isso foi verificado apesar da flexibilização dos prazos de entrega dos fornecedores, de acordo com os índices dos gerentes de compras (PMIs, na sigla em inglês), dos Estados Unidos.

No período, o risco de novos lockdowns na China continuaram em evidência, diante da busca contínua das autoridades locais para conter a pandemia por meio da política “covid zero”. Além disso, a Schroders cita que pode haver mais interrupções por causa da guerra em curso da Rússia na Ucrânia. “Não é à toa que as empresas ainda estão preocupadas com os problemas da cadeia de suprimentos”, escreve Fong.

A palavra “inflação” apareceu na sequência, seguida por “recessão”, que ultrapassou o termo “salário” em relação ao primeiro trimestre do ano.

“Olhando para esta temporada de resultados nos EUA, será interessante ver se as empresas deixam de falar sobre inflação para falar mais sobre recessão. Isso sugere que as empresas estão ficando mais preocupadas com o crescimento e com as perspectivas de lucros”, completa a estrategista.

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Mariana d'Ávila

Editora assistente na Bloomberg Línea. Jornalista brasileira formada pela Faculdade Cásper Líbero, especializada em investimentos e finanças pessoais e com passagem pela redação do InfoMoney.