Exclusivo: maior bilionário de cripto do mundo está de olho na América Latina

Sam Bankman-Fried, fundador da FTX, falou à Bloomberg Línea sobre seu interesse pela região e defendeu a regulamentação do mercado

Bilionário falou à Bloomberg Línea sobre o futuro dos criptoativos e o interesse na América Latina
20 de Julho, 2022 | 10:58 AM

Bloomberg Línea — O bilionário americano de cripto Sam Bankman-Fried, fundador e CEO da FTX, mostrou interesse sobre a abertura de mercados na América Latina, sem se referir a um plano específico, e também defendeu mais regulamentação para as criptomoedas. Segundo ele, isso poderia oferecer “mais confiança institucional no setor” em meio a recentes quedas de preços.

“Acredito que, definitivamente, precisamos de mais regulamentação para as moedas criptográficas globalmente e, principalmente, nos Estados Unidos. Eu realmente apoio as iniciativas da Securities and Exchange Commission, a SEC, e da Commodity Futures Trading Commission, a CFCT, nesse sentido”, disse Bankman-Fried em uma entrevista à Bloomberg Línea.

Segundo o bilionário, esse marco regulatório “pode ajudar a proporcionar mais proteção aos clientes” e “mais confiança institucional no setor”, disse ele em entrevista no Bloomberg Crypto Summit em Nova York, que reuniu vários dos principais representantes do setor.

Sam Bankman-Fried, de 30 anos, observou que a exchange de criptomoedas FTX, uma das maiores do mundo, vem focando no âmbito regulatório, pincipalmente na licença da CFTC, ao mesmo tempo em que mantém “conversas produtivas” com a SEC.

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O bilionário nascido na Califórnia também tem participação na Robinhood e recentemente houve boatos de uma possível aquisição de plataforma de investimentos pela FTX.

Bankman-Freid, no entanto, disse que no momento não há conversas sobre um plano de M&A (fusão e aquisição) com a Robinhood, mas reconheceu o interesse em encontrar maneiras de se associar com eles, ao mesmo tempo em que disse que é “um investimento realmente atraente”.

Ele ainda não descartou uma negociação nesse sentido e se mostrou aberto ao diálogo, desde que a iniciativa venha da Robinhood. Mas esclareceu que atualmente o foco da FTX é o investimento passivo.

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Plano para resgatar criptomoedas

Em meio às quedas nos valuations das principais criptomoedas, Bankman-Fried esteve disposto a apoiar as empresas do setor que “potencialmente precisam de capital ou resgate” para enfrentar o chamado inverno cripto.

Segundo o executivo, que planeja usar parte de sua fortuna para conter a atual queda dos preços injetando liquidez nas empresas em crise, como já fez com a BlockFi e a Voyager Digital, a estratégia visa evitar a disseminação dessa situação por todo o ecossistema.

Com fortuna estimada em US$ 11,4 bilhões, Sam Bankman-Fried está em 160º lugar no Bloomberg Billionaires Index e perdeu cerca de US$ 4,08 bilhões de seu patrimônio líquido até o momento neste ano.

Sobre a quantia de seu patrimônio a ser destinada para conter a situação atual de desvalorização, o líder da FTX disse “há alguma flexibilidade” sobre esse ponto e que “vai depender do caso“.

“Mas acredito que, em última instância vai estar na casa dos nove dígitos e que não conseguiremos sustentar todas as empresas”, disse.

Bankman-Fried complementou que a FTX gostaria de poder apoiar as empresas com “características possivelmente brilhantes” e nas quais os ativos dos clientes podem ser garantidos.

Cenário de baixa

Sobre o inverno cripto e suas causas, Bankman-Fried disse que o cenário atual é uma resposta a uma série de situações que se uniram, mas um elemento-chave tem sido o aumento das taxas de juros.

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Ele observa que isso “levou a uma queda generalizada nos preços dos ativos de risco, em geral nas ações mas principalmente na área de tecnologia, bem como nas criptomoedas”.

“A maior parte disso tem sido o clima macroeconômico em geral”, disse o empresário, referindo-se aos vários desafios trazidos pelo período pós-pandemia, pela guerra na Ucrânia, entre outros, que alimentam os ventos da recessão nos EUA.

Ele também associa esses aspectos macroeconômicos a alguns fatores específicos do mercado cripto que também levaram ao colapso da criptomoeda luna, cujo colapso teve afetou o mundo dos ativos digitais.

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O empresário não sabe com certeza quanto tempo o inverno cripto pode durar e indica que muito disso dependerá do momento em que o mercado parar de reagir a novas informações sobre taxas de juros e, em vez disso, começar a descontar nas expectativas existentes.

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Mesmo assim, ele acredita que já está ocorrendo uma estabilização, mas este cenário dependerá das expectativas pelas taxas de juros depois que o Federal Reserve dos EUA determinou o maior aumento em quase 30 anos, para uma faixa de 1,5% a 1,75%.

Demissões no mundo cripto

O inverno cripto trouxe uma onda de demissões em várias startups do setor de tecnologia, e o segmento de criptomoedas não foi exceção, com casos na América Latina como os da Buenbit, na Argentina, ou a Bitso, no México.

Sobre o assunto, Sam Bankman-Fried reconheceu que é claro que este fenômeno já está ocorrendo em empresas no mundo cripto, que estão começando a reduzir seu quadro de funcionários e que isto certamente continuará acontecendo, “principalmente em empresas que estavam em uma trajetória insustentável antes”.

“Acredito que isso terá um impacto significativo sobre as características dessas empresas (...) estamos caminhando para um mundo em que as práticas econômicas sustentáveis são mais enfatizadas que no passado, o que eu acho bastante saudável”, disse.

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Tal mudança de perspectiva implica, entre outras coisas, que as empresas operam em escala e sem a pressão de aumentar seu quadro de funcionários, visando um crescimento mais conservador.

De olho na América Latina

O alcance da FTX, sediada nas Bahamas e com valuation de US$ 32 bilhões, a levou a explorar diferentes alternativas de negócios, e Bankman-Fried reconheceu que vem fazendo negociações na América Latina.

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“Não creio que haja algo concreto no momento, mas adoraríamos e estamos conversando com possíveis parceiros na América Latina”, disse ele.

Sobre o assunto, ele disse que está analisando como as ofertas regulamentadas de criptos seriam feitas em mercados como Brasil, México e outros países da região, mas esclareceu que não está considerando ativamente quaisquer fusões ou aquisições no momento.

“Eu não ficaria surpreso se acabássemos fazendo uma, embora – mais uma vez – eu não acredite que há uma proposta específica de meu conhecimento que estamos considerando”, acrescentou ele na entrevista.

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Ainda sobre o tema, o bilionário destacou que, em regiões como a América Latina, as criptomoedas não estão apenas sendo mais utilizadas mas também há uma maior demanda, principalmente no que diz respeito às remessas.

“Acredito que o volume vai aumentar com o tempo e veremos cada vez mais uso em remessas na América Latina, e as criptomoedas também começarão a ser usada para pagamentos”, observou.

Além disso, ele considerou que o fluxo poderia ocorrer por meio de uma “criptomoeda nacional”, provavelmente stablecoins lastreadas nas moedas oficiais dos países, disse ele.

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Futuro das criptomoedas

Olhando para o futuro do mercado, Bankman-Fried observou que as moedas digitais dos bancos centrais (CBDCs, na sigla em inglês) e as stablecoins desempenharão um papel mais importante nas economias dos países; sua adoção como método de pagamento internacional pode até se espalhar para mais áreas sem que elas substituam as moedas oficiais.

Quanto aos NFTs, ele destacou o entusiasmo gerado pelo negócio, mesmo que enxergue os desafios em encontrar o caminho para a sustentabilidade no longo prazo, algo que “ainda deve ser determinado”, dado o grande número de possíveis usos.

“Acredito que o que mais me anima é existirem integrações realmente atrativas com outros sites, mas creio que isso deve ocorrer; é questão de tempo. Acho que será necessária uma certa reestruturação para tanto, mas já estamos vendo isso acontecer”, disse ele.

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Durante sua viagem a Nova York, ele reforçou que sua mensagem principal é que, apesar do momento atual do setor de cripto, ele está “animado com o futuro. Acho que, como em muitos setores, passamos por um período de provações nos últimos meses, mas isso está nos preparando para o sucesso no longo prazo, e o que me anima é que estamos em uma posição em que podemos começar a explorar muitos usos realmente poderosos e convincentes que acredito que as criptomoedas podem ter”.

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Daniel Salazar

Profissional de comunicação e jornalista com ênfase em economia e finanças. Participou do programa de jornalismo econômico da agência Efe, da Universidad Externado, do Banco Santander e da Universia. Ex-editor de negócios da Revista Dinero e da Mesa América da Efe.