Mercados reagem e sobem, mas cautela dá o tom em dia carregado de macro

Balanços corporativos também adicionarão volatilidade aos negócios, além das conjecturas sobre uma temida recessão econômica global

Conheça os eventos que vão orientar os investidores nesta terça-feira, 5 de julho
15 de Julho, 2022 | 06:45 AM

Barcelona, Espanha — A macroeconomia, sobretudo os indicadores dos Estados Unidos, tem posição de destaque na pauta dos investidores hoje. Os dados medirão a temperatura da atividade industrial à disposição dos consumidores em comprar. Os balanços corporativos, que vêm asseverando o mau momento pelo qual atravessa o setor bancário, também serão acompanhados de perto.

A volatilidade marca o passos dos mercados de renda variável, que esta manhã já oscilaram entre perdas e ganhos. Com tanta macro e a proximidade das reuniões dos principais bancos centrais mundiais (Banco Central Europeu na semana que vem, 21, e Federal Reserve depois, no dia 27), a cautela deverá prevalecer, ainda que a tentação seja aproveitar os preços descontados.

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As ações na Europa subiam, com o Stoxx Europe 600 superando o 1% de alta. Nos EUA, os contratos futuros de índices reagiam com valorizações, depois de momentos no vermelho. Entre os títulos soberanos, o índice de referência da Itália se recuperava depois que o presidente do país rejeitou o pedido de renúncia do primeiro-ministro Mario Draghi. Os títulos europeus ganhavam valor, com o rendimento a 10 anos da Alemanha caindo para um mínimo de seis semanas.

Os títulos norte-americanos do Tesouro também se recuperavam e a curva de juros entre vencimentos de dois anos e 10 anos permanecia invertida, algo visto como um sinal de recessão.

🤨 Pouca alegria. O sentimento dos operadores está turvo, agitado pela onda inflacionária e pela perspectiva de que um aperto monetário ainda mais pronunciado mergulhe as economias em uma recessão. Cada vez mais os economistas concordam que a inflação alta e persistente, combinada com uma política monetária restritiva, corroerá o poder aquisitivo e freará as economias.

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• Leia o Breakfast, uma newsletter da Bloomberg Línea: Sinal de alerta para bancos brasileiros

→ Estes são os fatores que os investidores estão olhando com lupa:

🇪🇺 Europa em maus lençóis. Um indicador que acendeu o alerta na Europa hoje foram os licenciamentos de veículos, que prosseguem com sua tendência de queda no bloco. Caíram 15,4% em junho, na média, o pior junho, em termos de volume, desde 1996. Os problemas na cadeia de fornecimento estão limitando a produção. A Alemanha registrou a maior queda (-18,1%), seguida pela Itália (-15%), França (-14,2%) e Espanha (-7,8%).

Ontem, a Comissão Europeia cortou sua previsão de crescimento do PIB (de uma projeção anterior de +2,7% a +2,6% para 2022) e, ao mesmo tempo, subiu as perspectivas de inflação para a Zona do Euro (dos +6,1% estimados anteriormente a +7,6% para 2022).

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🇨🇳 Complicações na China. Em um momento de temor de uma recessão global, a economia chinesa contraiu-se acentuadamente no segundo trimestre, o que evidencia o enorme custo para a atividade dos isolamentos massivos para frear a Covid-19. O PIB chinês caiu -2,6% no segundo trimestre frente aos três meses anteriores, bem pior que as expectativas de um declínio de -1,5% e o +1,4% do trimestre anterior. Em termos interanuais, subiu ligeiramente, +0,4%, abaixo das previsões de aumento de 1,0%. Isso supõe uma forte desaceleração frente à alta de +4,8% de janeiro a março de 2022.

🐉 Falando no gigante asiático... o Banco Popular da China (PBOC) manteve inalteradas, pelo sexto mês consecutivo, suas taxas de juros de médio prazo. O juro para empréstimos de médio prazo e de ano, que incide sobre concessões no valor de 100 bilhões de yuans (US$ 14,8 bilhões), ficou em 2,85%.

👀 De olho nos balanços. Os resultados empresariais adicionam instabilidade aos negócios. Depois dos dados decepcionantes de JPMorgan e Morgan Stanley, hoje é a vez de instituições como Citigroup, Wells Fargo, BlackRock mostrarem como vai sua saúde financeira. Vale dizer que os analistas já esperavam um resultado ruim (apesar de que os de ontem ficaram aquém das previsões já pessimistas), pois a volatilidade nos mercados freou as operações em bolsas, emissões de bônus e os negócios com fusões e aquisições ao redor do globo.

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Um panorama do começo da manhã
🟢 As bolsas ontem: Dow Jones Industrials (-0,46%), S&P 500 (-0,30%), Nasdaq Composite (+0,03%), Stoxx 600 (-1,53%), Ibovespa (-1,40%)

O S&P 500 somou cinco dias consecutivos de queda, arrastado pela expectativa de que o Fed aperte ainda mais sua política monetária. O motivo é a inflação: os preços ao consumidor subiram em junho para níveis não vistos desde 1981 e alguns investidores já apostam na possibilidade de que o banco central dos EUA suba o juro em 100 pontos base em sua reunião no final do mês. Os índices contiveram suas quedas após os comentários de Christopher Waller e James Bullard, do Fed, de que apoiariam um aumento de 75 pontos de base da taxa agora em julho.

Na agenda

Esta é a agenda prevista para hoje:

EUA: Índice Empire State de Atividade Industrial/Jul, Vendas no Varejo e Projeções/Jun, Preços de Bens Exportados/Jun, Utilização da Capacidade Instalada/Jun, Produção Industrial e Vendas da Indústria/Jun, Expectativas de Inflação a 5 anos Michigan/Jul, Índice Michigan de Percepção do Consumidor/Jul

Europa: Zona do Euro (Balança Comercial/Mai); Alemanha, Reino Unido, França, Itália (Licenciamento de Veículos/Jun)

Ásia: China (PIB)

América Latina: Brasil (Empréstimos Bancários/Mar, Balanço Orçamentário/Mai); Colômbia (Índice de Vendas no Varejo/Mai); Peru (Índice de Atividade Econômica/Mai); Panamá (Índice de Preços ao Consumidor/Jun)

Bancos centrais: Ministros das Finanças do G-20 e banqueiros centrais se reúnem em Bali. Pronunciamentos de Raphael Bostic e James Bullard (Fed)

Balanços do dia: UnitedHealth Group, Citigroup, Wells Fargo, BlackRock, US Bankcorp, PNC Financial, Bank of NY Mellon

Michelly Teixeira

Jornalista com mais de 20 anos como editora e repórter. Em seus 13 anos de Espanha, trabalhou na Radio Nacional de España/RNE e colaborou com a agência REDD Intelligence. No Brasil, passou pelas redações do Valor, Agência Estado e Gazeta Mercantil. Tem um MBA em Finanças, é pós-graduada em Marketing e fez um mestrado em Digital Business na ESADE.