Bloomberg — Os países da União Europeia aprovaram nesta semana um documento para eliminar as emissões de carbono dos carros novos até 2035, anunciando efetivamente o fim da era do motor a combustão interna.
Os ministros do Meio Ambiente dos países do bloco chegaram a um acordo sobre a proposta depois que a Itália, terra da Ferrari e da Lamborghini, desistiu de suas exigências de um adiamento de cinco anos no plano da UE para que as montadoras de automóveis “limpassem” sua frota.
O ministro italiano da Transição Ecológica, Roberto Cingolani, disse a seus pares que estava “satisfeito” com o acordo proposto pela Alemanha que poderia permitir o uso de combustíveis neutros na emissão de carbono após 2035.
O acordo define a posição de negociação dos estados-membros para novas reuniões com o Parlamento da UE e a Comissão Europeia, o braço executivo do bloco, sobre a forma final do histórico pacote de redução de gases de efeito estufa. Com as autoridades da UE já favoráveis ao fim dos combustíveis fósseis na indústria automobtiva, é muito provável que a maioria das empresas automobilísticas tenha que mudar para a produção de modelos elétricos em pouco mais de uma década.
“Tenho plena confiança de que a indústria automobilística europeia pode dar conta”, disse Frans Timmermans, vice-presidente executivo da comissão, aos ministros quando as discussões acaloradas estavam chegando ao fim na madrugada da quarta-feira (29). “Nossas montadoras estão entre as líderes do setor na Europa e podem continuar sendo ao abraçarem esta mudança global.”
Como parte do pacote, os governos também concordaram em fortalecer o Sistema de Comércio de Emissões da UE - o mercado de carbono - e reforçar seu mecanismo de controle de preços. Eles também querem adiar por um ano o novo mercado de carbono para combustível de aquecimento de casas e transporte rodoviário e criar um fundo climático para ajudar a mitigar os custos do novo programa de cap-and-trade, que negocia permissões extras de emissão de carbono, para os países mais vulneráveis.
“Graças a este acordo, a Europa está se colocando em uma posição de liderança em termos de abordar os desafios climáticos e a tecnologia”, disse a ministra francesa de Transição de Energia, Agnes Pannier-Runacher. “Também estamos assegurando uma transição justa para cada estado membro, cada território e cada cidadão.”
Junto com quatro outros estados-membros, a Itália havia pleiteado uma redução de 90% nas emissões de montadoras até 2035, ano em que a Comissão Europeia visou um corte total, bem como uma isenção mais longa para os pequenas empresas do setor. O país obteve algumas concessões para montadoras de nicho – como a Lamborghini –, que serão poupadas de metas interinas até o fim de 2035.
Em uma tentativa de viabilizar o compromisso, a Alemanha propôs um aditivo não vinculante à lei de emissões de automóveis que convida a comissão a propor o registro de veículos que funcionem exclusivamente com combustíveis neutros em carbono após 2035.
Sem mais detalhes sobre o uso de combustíveis sintéticos, o acordo dos ministros no Conselho da UE deixa muita incerteza para a indústria automotiva, de acordo com Hildegard Mueller, chefe da associação alemã de automóveis, a VDA.
“O acordo no Conselho ainda prevê uma proibição de fato dos motores a combustão em 2035″, disse ela em declaração por e-mail. “É necessário esclarecer o mais rápido possível se e até que ponto os motores a combustão neutros ao clima podem ser aprovados fora do regulamento da frota emissora de CO2.″
Os ministros também concordaram em endossar os principais parâmetros de uma ampla mudança no mercado de carbono, conforme proposto pela comissão, incluindo uma redução de 61% das emissões no programa de cap-and-trade até 2030 em comparação aos níveis de 2005.
Eles querem fortalecer um mecanismo que impeça aumentos excessivos nos preços para conter a especulação por parte do mercado automotivo e permitir a liberação de 75 milhões de licenças de carbono no mercado. Isso aconteceria se o preço médio de leilão das licenças em seis meses superasse 2,5 vezes o preço médio dos dois anos anteriores.
O acordo também limita o tamanho do Fundo Climático Social a US$ 62 bilhões, ante os US$ 75 bilhões propostos pela Comissão Europeia.
--Com a colaboração de Monica Raymunt.
--Este texto foi traduzido por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.
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