Condenação do banco por lavagem de dinheiro e subsequente melhoria de seus processos de due diligence deve colocá-lo em linha com as práticas do setor
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Bloomberg Opinion — Manejar o dinheiro de um lutador que acabou virando traficante não é exatamente o negócio que você deveria fazer como gestor de patrimônio internacional. A condenação por lavagem de dinheiro do Credit Suisse (CS) na Suíça foi vergonhosa, embora não dispendiosa, com multa total de pouco mais de US$ 20 milhões.

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A defesa do banco suíço foi a mesma utilizada para as revelações recentes sobre clientes suspeitos ou falhas de due diligence: são problemas antigos da época em que as coisas eram feitas de maneira diferente. Seus líderes já nos dizem há algum tempo que o banco mudou.

Essa afirmação não se encaixa muito bem com sua decisão de entrar em risco, compliance e tecnologia apresentada a investidores esta semana. O plano do banco para melhorar estas funções centrais continha uma confissão tácita de como elas eram mal administradas até o banco se deparar com problemas.

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Falemos de uma parte óbvia: gestão de risco de clientes. O diretor de compliance do banco, Rafael Lopez Lorenzo, delineou como o banco garantiria que todas as pessoas e transações fossem revisadas a partir de agora de forma eficiente e eficaz. Os principais critérios a serem examinados incluíam o risco de sanções, pessoas politicamente expostas e pessoas condenadas por crimes. O banco também garantirá que fará um trabalho contínuo para analisar clientes e uma due diligence avançada para clientes com maior risco.

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Ele disse que isto colocaria o Credit Suisse em linha com as “melhores práticas do setor”. Isso sempre parece um eufemismo para “não fazer mais que a obrigação”. Trabalhar com as pessoas mais ricas do mundo sempre vai envolver riscos políticos e de corrupção, mas o Credit Suisse provavelmente tinha esse envolvimento há anos, se não décadas.

A mudança abrange alterar o modus operandi do banco de oferecer liberdade para que seus banqueiros consigam as melhores taxas e a maior receita – sem importar a origem – para conceder a sede do banco, em Zurique, muito mais controle sobre o que pode ser vendido e a quem.

Isso promete mais eficiência e melhor controle de risco, mas significa renunciar a alguns negócios. Além de sair do prime finance – negócio de empréstimos para fundos de hedge – o Credit Suisse reduziu os empréstimos para super iates em mais de 20% em 2021, reduziu os empréstimos para compra de private equities em 25%; e reduziu o risco de empréstimos com margem de retorno em ações. Alguns cortes devem ser cíclicos: os empréstimos alavancados estão passando em um momento ruim para todos os bancos, por exemplo. No entanto, alguns negócios serão cortados permanentemente.

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A centralização do controle do Credit Suisse também deve garantir que toda sua tecnologia seja adquirida e administrada de forma mais consistente e eficiente. Joanne Hannaford, diretora de tecnologia que veio do Goldman Sachs (GS) este ano, disse estar muito surpresa com as oportunidades de redução de custos que encontrou em uma auditoria de gastos. Segundo ela, a economia será de cerca de US$ 200 milhões neste ano e mais US$ 400 milhões no futuro. Entretanto, analistas, incluindo Anke Reingen, da RBC Capital Markets, ficaram decepcionados com a ausência de uma nova meta para cortar os custos do grupo.

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Para os investidores, a pergunta é a mesma: quanto tempo vai demorar para que o Credit Suisse se reabilite? O trauma de 2021 diminuiu, mas tem muito a ser reconstruído em termos de tecnologia, pessoal e práticas comerciais. Todo esse processo irá retardar suas operações normais inicialmente. E enquanto o Credit Suisse se ocupa disso, concorrentes como o UBS Group (UBS) ou o Morgan Stanley (MS) estão investindo em tecnologia para oferecer melhores produtos e serviços que são mais rápidos e fáceis de usar. O Credit Suisse afirma que 2022 será seu ano de transição. Mas, para os acionistas, o banco provavelmente vai ficar para trás por um tempo.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Paul J. Davies é colunista da Bloomberg Opinion e escreve sobre bancos e finanças. Trabalhou para o Wall Street Journal e o Financial Times.

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--Este texto foi traduzido por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.

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