Os planos de crescimento e contratação desta healthtech mesmo em cenário adverso

Startup Alice mantém plano de expansão e aposta em teto de reajuste para clientes corporativos para avançar no segmento, conta o CEO à Bloomberg Línea

Casa da healthtech Alice em São Paulo para atendimento a pacientes: foco agora em clientes de empresas
07 de Junho, 2022 | 11:56 AM

Bloomberg Línea — A virada do mercado para unicórnios e empresas novatas não significa que não haja startups que não só não estejam realizando cortes como continuam contratando e com planos de crescimento, ainda que readequados à nova realidade mais desafiadora. É o caso da healthtech Alice, que acaba de acelerar a sua estratégia de crescimento voltada para planos corporativos de saúde para empresas.

Capitalizada com uma rodada Series C de US$ 127 milhões (cerca de R$ 730 milhões ao câmbio da época) anunciada no fim de 2021, liderada pelo SoftBank, a Alice tem nos planos corporativos o seu principal foco após dois anos de existência. Esse segmento representa cerca de 60% do mercado de planos de saúde.

O crescimento que planejamos para um ano levará mais tempo. Seremos menos agressivos, porque crescer mais rápido demanda mais investimentos para trazer usuários, e temos que atender a exigência regulatória de capital mínimo”, disse André Florence, CEO e cofundador da Alice, em entrevista à Bloomberg Línea.

“O mercado virou e o acesso a capital diminuiu muito. Trabalhamos com o cenário de que vai continuar assim pelo menos até o fim do ano que vem”, afirmou. Segundo ele, o plano de contratações será também menos agressivo, ainda que a startup continue com vagas abertas. Atualmente com cerca de 750 funcionários, a startup planeja encerrar o ano com algo entre 850 e 900 colaboradores.

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A startup acaba de lançar um plano com teto de reajuste para companhias com 30 ou mais funcionários, de olho em um segmento de mercado em que a ANS (Agência Nacional de Saúde) autoriza que os reajustes sejam definidos em livre negociação entre as partes, ou seja, entre a operadora e a empresa.

O teto estará limitado a duas vezes a variação do IPCA, o índice oficial de inflação ao consumidor, do ano de referência. No ano passado, ainda em fase beta, o reajuste ficou perto de 10,5%, quase a metade do acertado por grandes operadoras de saúde, cujos aumentos de preços estão tradicionalmente vinculados a fatores como a sinistralidade e a variação do custo médico-hospitalar do setor.

A explicação para conseguir limitar o reajuste e ainda fechar a conta, segundo o CEO da healthtech, passa pelo modelo de operação com foco na prevenção e na chamada atenção primária do paciente.

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A Alice conta atualmente com cerca de 10 mil clientes que são pessoas físicas, o que representa um crescimento da ordem de 40% em relação ao fim de 2021.

Outra novidade da startup é a adoção de um score com base em protocolos científicos que reflete a saúde e o bem-estar dos pacientes de empresas. Quanto melhores os resultados de indicadores, por exemplo, maior a nota.

O conceito, denominado Score Magenta, permite acompanhar a evolução do estado de saúde e bem-estar do paciente de forma agregada pela própria pessoa. A nota é calculada a partir do desempenho em pilares, incluindo atividade física, alimentação, saúde mental e qualidade do sono.

A adoção do indicador vai de encontro ao modelo de operação da healthtech, que trabalha com o que é conhecido como value-based health. Foi desenvolvido com base em estudos do americano Michael Porter, professor da Harvard Business School (HBS), um dos maiores especialistas em gestão do mundo.

O modelo, que está mais presente no mercado americano, entre outros países, parte da premissa de que o sistema de saúde - bem como as operadoras de planos no caso brasileiro - deve ser gerenciado com foco em resultados traduzidos pela melhora de indicadores de saúde e bem-estar dos pacientes, e não no número de procedimentos e consultas. Isso leva em tese a um ganho de eficiência do sistema, com alinhamento de incentivos para a prevenção e o foco na atenção primária dos pacientes.

“Há um entendimento crescente no mercado, principalmente de empresas de tecnologia, de que para gerar valor no longo prazo, é preciso ter o melhor time. E isso passa por oferecer um ambiente em que as pessoas sejam mais saudáveis”, disse Florence sobre os resultados dos primeiros meses da operação para empresas. A healthtech já tem cerca de 60 clientes corporativos e mais de 3.000 solicitações.

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Marcelo Sakate

Marcelo Sakate é editor-chefe da Bloomberg Línea no Brasil. Anteriormente, foi editor da EXAME e do CNN Brasil Business, repórter sênior da Veja e chefe de reportagem de economia da Folha de S. Paulo.