Cogna aposta em hub para startups e lança plataforma de cursos

Exclusivo: iniciativa do grupo de educação nasce com 19 teses ativas, que recebem apoio em modelo conhecido como venture builder

Students work on campus at the George Washington University School of Business in Washington, D.C., U.S., on Thursday, Sept. 9, 2021. The Bloomberg Businessweek 2021-22 Best B-Schools MBA ranking created a Diversity Index for U.S. business schools that for the first time measures race, ethnicity, and gender. Photographer: Stefani Reynolds/Bloomberg
06 de Junho, 2022 | 07:05 AM

Bloomberg Línea — O apetite de fundos de venture capital (VC) por startups perdeu força neste ano diante da virada do mercado, com a alta global das taxas de juros e a perspectiva de retração econômica. Isso não significa, no entanto, que outras fontes de recursos tenham também desacelerado. Uma das alternativas tem sido o investimento de empresas consolidadas em modalidades como o venture builder, em que são aportados recursos por meio de suporte em diferentes áreas para operacionalizar os projetos.

No Brasil, esse movimento acaba de ser dado pela Cogna (COGN3), maior grupo de educação do país. A companhia acaba de lançar um hub de inovação que já nasce com quase duas dezenas - 19, para ser exato - de teses ativas de negócios lançadas por startups. A iniciativa, denominada Hubble Startup Studio, pretende funcionar como um ponto de convergência de projetos em estágio mais avançado ao mesmo tempo em que fomenta a inovação descentralizada nas verticais do grupo, como na Kroton, de ensino superior.

O hub funciona com três linhas estratégicas: uma com soluções voltadas para o core business do grupo em educação; outra para soluções adjacentes; e a terceira para categorias futuras, com o propósito de causar disrupção no mercado. “É uma estrutura não só para pensar e fomentar a inovação dentro e fora da companhia mas também para nos conectarmos com o mercado e dar escala às soluções”, disse Gabriela Diuana, diretora de Inovação da Cogna, à Bloomberg Línea.

A descentralização acontece por meio das ideias apresentadas por colaboradores, que são submetidas à avaliação de viabilidade e, posteriormente, a um comitê de investimento, em um modelo que remete também ao que é conhecido como CVC (Corporate Venture Capital), de aportes de empresas em startups.

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Não que o hub represente a entrada da Cogna no mundo das startups. O grupo tem desde 2018 uma área dedicada à inovação, que inclui uma parceria de três anos com o Cubo, o hub de startups do Itaú (ITUB4), na vertical de educação. Projetos relevantes para o grupo já têm sido desenvolvidos desde então de forma independente, uma das das quais justamente uma das teses ativas do Hubble.

É o caso do marketplace da Cogna para cursos e soluções educacionais no modelo B2C, ou seja, voltados diretamente para alunos e clientes finais. O projeto denominado Voomp, que acaba de entrar em estágio de MVP (Mínimo Produto Viável), oferece cursos de graduação, pós-graduação, de idiomas e cursos livres, que formam o primeiro dos quatro “braços” da plataforma. Em breve será lançada a fintech. E, no segundo semestre, as frentes de infoprodutores e a de empregabilidade.

Além do Voomp, outras três teses ativas estão na fase de MVP. Superada essa etapa, os produtos entrarão em fase de crescimento e geração de receita significativa para o investimento, para que possam ganhar tração. Segundo Gabriela, o plano prevê que as startups continuem a ser desenvolvidas “dentro de casa”. “Quem sabe em cinco anos não teremos um unicórnio em educação dentro da Cogna?”, questiona, em referência às startups que atingem um valuation de US$ 1 bilhão ou mais.

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O investimento da Cogna no Hubble Startup Studio, de valor não revelado, simboliza o interesse crescente de grandes empresas e de fundos de VC por edtechs, como são chamadas as startups que desenvolvem soluções de tecnologia para a educação.

A própria Cogna tem em uma startup internalizada, a Ampli, outra de suas principais apostas para o crescimento nos próximos anos. A edtech da Kroton voltada para o ensino à distância (EaD) pelo celular ambiciona atingir o mercado para jovens e adultos - conhecido como EJA -, estimado em 60 milhões de pessoas. Há um ano, a Kroton acertou uma parceria com a TIM (TIMS3) para que a empresa de telecomunicações possa distribuir a plataforma para a sua base de clientes.

O Yduqs (YDUQ3), segundo maior grupo de educação do país, também tem ampliado o investimento em tecnologia e acaba de lançar um programa de inovação aberta para acelerar a colaboração com startups, depois de ter feito aquisições em áreas como ensino preparatório médico.

No mercado mundial em educação, o investimento em edtechs quase triplicou de 2019 para 2021, saltando de US$ 7 bilhões para mais de US$ 20 bilhões, segundo dados da Crunchbase.

No ano passado, empresas como Coursera e Udemy, plataformas digitais de cursos de graduação e certificações e de cursos livres, respectivamente, e Duolingo, de idiomas, abriram o capital em IPOs (ofertas públicas iniciais) concorridos: a primeira na NYSE, a Bolsa de Nova York, e as outras na Nasdaq.

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Marcelo Sakate

Marcelo Sakate é editor-chefe da Bloomberg Línea no Brasil. Anteriormente, foi editor da EXAME e do CNN Brasil Business, repórter sênior da Veja e chefe de reportagem de economia da Folha de S. Paulo.