Chefe da CIA disse a integrantes do governo que Bolsonaro não deveria questionar eleições

William Burns veio ao Brasil em julho e se encontrou com Bolsonaro, com os generais Heleno e Ramos e com o ex-diretor da Abin Alexandre Ramagem

Diretor da CIA disse a Bolsonaro que ele precisa parar de questionar a higidez do sistema eleitoral brasileiro, segundo a Reuters
05 de Maio, 2022 | 02:01 PM

Bloomberg Línea — O diretor da CIA, a Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos, William Burns, esteve no Brasil em julho do ano passado e se encontrou com o presidente Jair Bolsonaro (PL) e com integrantes do alto escalão do governo brasileiro. Nas conversas, disse que o presidente do Brasil precisa parar de questionar a higidez do sistema eleitoral brasileiro.

As informações são da Reuters, que ouviu duas pessoas próximas ao assunto sem identificá-las. As fontes não souberam dizer se o recado foi dado pelo próprio Burns ou se foram assessores que o acompanhavam, mas falaram num risco de crise institucional se Bolsonaro perder as eleições deste ano por uma margem apertada - o presidente está em segundo lugar em todas as pesquisas de opinião divulgadas desde o ano passado, atrás do ex-presidente Lula (PT).

Segundo a reportagem, Burns foi ao Palácio do Planalto e se encontrou com Bolsonaro, com o general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), e com Alexandre Ramagem, na época diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) - ele deixou o cargo para se candidatar a deputado pelo PL, partido do presidente. E jantou na casa do general Heleno, onde também estava o general Luiz Eduardo Ramos, chefe da Secretaria-Geral de Governo.

De acordo com as pessoas que falaram à Reuters, durante o jantar, os generais tentaram convencer o diretor da CIA de que as falas de Bolsonaro sobre fraude nas eleições não deveriam ser levadas a sério. Burns, no entanto, respondeu que o processo democrático é sagrado e que Bolsonaro não deveria falar daquele jeito.

PUBLICIDADE

“Burns deixou claro que as eleições não são um assunto que eles [integrantes do governo brasileiro] devessem mexer”, disse a fonte da Reuters, que não tem permissão para falar em público, de acordo com a agência. “Não foi um sermão, foi uma conversa.”

A Reuters afirma que não é comum que diretores da CIA façam comentários políticos, mas Burns foi escolhido pelo presidente dos EUA, Joe Biden, para ser um “porta-voz discreto” da Casa Branca.

Um mês depois da visita do diretor da CIA ao Brasil, diz a Reuters, o conselheiro de Segurança Nacional do governo dos EUA Jake Sullivan veio ao país e demonstrou preocupações semelhantes quanto aos comentários de Bolsonaro sobre as eleições. Mas o recado de Burns foi mais enfático que o de Sullivan, segundo a fonte.

PUBLICIDADE

“É importante que os brasileiros confiem em seu sistema eleitoral”, disse o Departamento de Estado dos EUA em nota enviada à Reuters, que também assegurou que o governo daquele país confia nas instituições brasileiras.

No sábado, no entanto, o diplomata norte-americano Scott Hamilton, que foi cônsul-geral dos EUA no Rio de Janeiro entre 2018 e 2021, disse num artigo no jornal O Globo que “os Estados Unidos deveriam deixar claro a Bolsonaro que uma tentativa de interferir na integridade do processo eleitoral brasileiro será objeto de sanções punitivas”.

Bolsonaro e Biden ainda não se encontraram. A expectativa é que se falem em junho, quando acontece a Cúpula das Américas, em Los Angeles.

Leia também:

Sem apoio do Itamaraty, TSE desiste de chamar missão de observação da UE

Pesquisa por telefone mostra menor distância entre Lula e Bolsonaro até agora