Com Selic e Fed, Ibovespa afunda em meio a preocupações com a inflação

Banco Central do Brasil elevou a taxa básica de juros para 12,75% ao ano e deixou a porta aberta para mais um aumento em junho

Sentimento de maior aversão ao risco contribuía para uma valorização do dólar, que era negociado a R$ 4,98.
05 de Maio, 2022 | 02:31 PM

Bloomberg Línea — O sentimento negativo toma conta dos mercados nesta quinta-feira (5), em uma sessão de cautela após as decisões de elevar os juros no Brasil e nos Estados Unidos na véspera. Por aqui, o Ibovespa (IBOV) afunda 3%, enquanto nos EUA as baixas ultrapassam os 4% na Nasdaq.

Após reagirem com otimismo às falas do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, de que o banco central americano não deve impor aumentos de 75 pontos-base, mas de 50 pontos, cresce hoje entre investidores as preocupações com a inflação e a possibilidade de um aperto mais agressivo nos próximos meses.

O sentimento de maior aversão ao risco contribuía para uma valorização do dólar, que era negociado a R$ 4,98.

“Mercado está em risk-off day e a Bolsa aqui está refletindo a queda lá de fora, com as empresas de tecnologia nos EUA caindo bem e emergentes sofrendo. Isso porque, em dia que investidores não aceitam tomar risco, eles fogem para mercados considerados mais seguros. O movimento também está ligado ao discurso mais rígido do banco inglês pela manhã, e às recompras do Fed anunciadas após a alta de juros ontem”, avalia Pedro Serra, chefe de pesquisas da Ativa Investimentos.

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Serra explica que no Brasil, o cenário é de desvalorização da moeda e reversão do fluxo estrangeiro, o que aprofunda as quedas. “No curto prazo, a Bolsa deve permanecer volátil, sem nenhum motor para alta relevante. Os valuations aqui estão muito descontados e, como o valor de mercado da Bolsa está baixo, a entrada e saída de recursos estrangeiros causa ainda mais volatilidade”, completa.

No Brasil, o Banco Central elevou a taxa Selic em um ponto percentual, para 12,75% ao ano, conforme esperado pelo mercado financeiro. A autoridade monetária, contudo, surpreendeu ao antever um aumento de menor magnitude na próxima reunião do Copom, em junho.

Os mercados também seguem monitoram a temporada de resultados do primeiro trimestre. Para André Meirelles, diretor de alocação e distribuição do escritório InvestSmart XP, as empresas seguem demonstrando recuperação após o período de pandemia. Segundo ele, cerca de 41% das empresas brasileiras que reportaram resultado até o momento surpreenderam positivamente o mercado.

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Confira o desempenho dos mercados na manhã desta quinta-feira (5):

  • Por volta das 14h30 (horário de Brasília), o Ibovespa caía 3,12%, aos 104.690 pontos;
  • O dólar à vista avançava 2,14%, negociado a R$ 5,03;
  • Entre os contratos de juros futuros, o DI para 2025 disparava 37 pontos-base, a 12,34%;
  • Nos EUA, o índice Dow Jones caía 2,88%, o do S&P 500 afundava 3,27%, enquanto o Nasdaq tinha forte baixa de 4,63%;
  • Na Europa, o índice FTSE, do Reino Unido, subia 0,13%, enquanto o Dax, da Alemanha, caía 0,49%;

Contexto

Os formuladores de políticas estão tentando conciliar a necessidade de conter a inflação mais rápida em quatro décadas contra o crescimento econômico duramente conquistado. Na Europa, as encomendas às fábricas alemãs despencaram, destacando o preço da guerra na Ucrânia. O aumento dos preços das commodities complica ainda mais os esforços para conter as pressões sobre os preços.

Ontem, o Federal Reserve fez um aumento de 50 pontos-base na taxa de juros dos EUA, o maior aumento de juros desde 2000. Powell sinalizou movimentos semelhantes para as próximas reuniões, mas recuou contra um aumento maior de 75 pontos-base, provocando um rali de alívio global.

Entre as commodities, os preços do petróleo subiam nesta quinta devido às preocupações com a oferta, com o petróleo bruto West Texas Intermediate (WTI) sendo negociado perto de US$ 109 o barril. O dia também foi de alta para o minério de ferro.

-- Com informações da Bloomberg News

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Mariana d'Ávila

Editora assistente na Bloomberg Línea. Jornalista brasileira formada pela Faculdade Cásper Líbero, especializada em investimentos e finanças pessoais e com passagem pela redação do InfoMoney.