Ônibus ou avião? Com reajuste da inflação, diferença por trecho chega a R$ 1.300

Mesmo que a inflação tenha atingido em cheio os combustíveis, demanda por viagens terrestres ajudou a compensar os custos das operações

Plane
21 de Abril, 2022 | 03:58 AM

Bloomberg Línea — Na cestas dos aumentos que o consumidor brasileiro tem encarado no últimos tempos está a passagem aérea que, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S), divulgado na última segunda-feira (18) pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), passou de 4,34% na primeira quadrissemana de abril para 7,04% na segunda do mesmo mês.

Em um cenário mais prolongado, uma pesquisa do site de buscas de viagens Kayak mostrou que, entre janeiro e março deste ano, o preço das passagens aéreas para voos domésticos subiu até 62% no Brasil, considerando os trechos de ida e volta.

Com esta amostra fica fácil entender o aumento pela procura de passagens rodoviárias no Brasil. Segundo dados da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), o número de passageiros subiu para cerca de 2,8 milhões em fevereiro de 2022 - um milhão a mais em comparação com o mesmo mês do ano anterior.

Um exemplo é a média de preço pelo trecho São Paulo-Rio. A conhecida ponte-aérea - a viagem feita de avião entre as duas capitais - variava entre R$ 865 e R$ 3.275 para esta quinta-feira (21), feriado de Tiradentes. O valor é com base nas 34 viagens oferecidas, no total, pelas três companhias aéreas que operam o trecho até o aeroporto Santos Dummont - Azul (AZUL4), Gol (GOLL4) e Latam -, em consulta na véspera, 20 de abril.

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Já o mesmo trecho, de ônibus, saía entre R$ 96 e R$ 359, de acordo com a plataforma Bus Bud, que compila os preços de passagens terrestres de seis companhias que operam o trajeto (Expresso Adamantina, FlixBus, Autoviação 1001, Catarinense, Águia Branca e Viação Rio Doce), em 60 viagens diárias.

Considerando a passagem mais barata em ambos os meios de transporte, a diferença chega a R$ 760 - valor considerável para quem precisa viajar de última hora, por exemplo, ou não consegue antecipar tanto os planos de viagem. Quando a mesma comparação é feita para o destino de Belo Horizonte, a diferença chega a R$ 1.327.

Confira, na tabela, a diferença dos valores entre ônibus e avião para algumas das principais capitais do país saindo da rodoviária do Tietê, em São Paulo, e do aeroporto de Congonhas:

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DestinoFaixa de preço de ônibusFaixa de preço de aviãoDiferença entre as passagens mais em conta
Rio de Janeirode R$ 96 a R$ 359de R$ 865 a R$ 3.275R$ 769
Belo Horizontede R$ 57 a R$ 205de R$ 1.384 a R$ 1.608R$ 1.327
Salvadorde R$ 577 a R$ 677de R$ 1.112 a R$ 1.433R$ 535
Curitibade R$ 89 a R$ 148de R$ 957 a R$ 1.712R$ 868
RecifeR$ 620de R$ 736 a R$ 2.632R$ 116
Goiâniade R$ 227 a R$ 275de R$ 1.448 a R$ 1.963R$ 1.221

Aumento da procura por ônibus

A porta-voz da Associação Brasileira das Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros, Letícia Pineschi, explica que as projeções para o setor de transporte rodoviário são otimistas, e menciona que os índices para o mês de abril, que tem dois feriados prolongados no calendário, devem ser praticamente iguais aos do mesmo período de 2019, antes da pandemia da covid.

“Muitas [empresas] estão promovendo ótimos descontos para a compra de passagens antecipadas. Alguns deles são até 800% mais baratos que trechos aéreos”, explica Pineschi. “O número de passageiros embarcados vem crescendo consistentemente este ano, já sendo quase certo que após dois anos de déficit chegaremos a embarcar até o fim do mês der abril a mesma quantidade de passageiros que abril de 2019″.

À Bloomberg Línea, a ANTT confirma que sim, a inflação e alta da gasolina afetou o setor de viagens rodoviárias. No entanto, Pineschi lembra que a demanda por viagens de ônibus está mais aquecida, o que ajuda a compensar os custos mais onerosos das operações.

“Vale ressaltar que viajar de ônibus representa uma economia de cerca de 80% no bolso do passageiro em relação ao carro particular. Essa porcentagem não contabiliza os gastos com seguro e pedágios, ou seja, se considerarmos esses fatores, a economia é ainda maior”, diz.

Aéreas mais salgadas

Com o preço das passagens aéreas pressionando o consumidor e o setor de viagens aéreas, na segunda-feira (11), a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (ABEAR) e companhias do setor se reuniram com os ministros da Casa Civil, Ciro Nogueira, da Economia, Paulo Guedes, e da Infraestrutura, Marcelo Sampaio, para a criação de uma mesa de diálogo para buscar soluções.

“As reuniões tiveram um objetivo comum: o de propor aos ministros a criação de uma mesa de diálogo permanente para que possamos, juntos, encontrar soluções para a superação da crise do setor aéreo, deflagrada em 2020 pela pandemia do novo coronavírus e que ficou mais aguda recentemente com a guerra na Ucrânia, que tem pressionado os custos estruturais das empresas aéreas, principalmente o preço do QAV, responsável por mais de um terço dos custos do setor”, afirmou, em nota, o presidente da ABEAR, Eduardo Sanovicz.

De acordo com o levantamento da Kayak, estes são os destinos domésticos que mais sofreram aumento entre janeiro e março deste ano:

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DestinoAumento em %Preço médio
Brasília (DF)62%R$1.058
Florianópolis (SC)51%R$1.149
São Paulo (SP)49%R$1.021
Navegantes (SC)49%R$1.150
Rio de Janeiro (RJ)47%R$1.037

A ABEAR justifica a alta dos preços das passagens principalmente pela alta do preço do querosene de aviação, que subiu 18% somente em abril deste ano. Em 2021, o QAV registrou aumento de 92% em relação a 2020 e, de 01 de janeiro a 01 de abril de 2022, o combustível acumula alta de cerca de 38%.

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Melina Flynn

Melina Flynn é jornalista naturalizada brasileira, estudou Artes Cênicas e Comunicação Social, e passou por veículos como G1, RBS TV e TC, plataforma de inteligência de mercado, onde se especializou em política e economia, e hoje coordena a operação multimídia da Bloomberg Linea no Brasil.