Summers: Histórico de ‘pouso suave’ do Fed não vale para os dias atuais

Para ex-secretário do Tesouro, no passado banco central dos EUA adotava “ação preventiva” e isso não aconteceu em 2020

Casos de pouso suave anteriores do Fed não são “precedentes muito relevantes”.
Por Chris Anstey
25 de Março, 2022 | 07:44 PM

Bloomberg — O ex-secretário do Tesouro americano Lawrence Summers disse que as vezes em que o Fed conseguiu um pouso suave para a economia dos EUA no pós-guerra oferecem pouco conforto para a tarefa que a autoridade monetária tem à frente.

O presidente do Federal Reserve Jerome Powell no início deste mês disse ao Congresso americano que “é mais provável que possamos alcançar o que chamamos de pouso suave do que não alcançar, e eles são muito mais comuns em nossa história do que geralmente se entende”. Economistas apontaram 1994, 1984 e 1969 como exemplos históricos.

“Não vejo como alguém pode considerar esses precedentes muito relevantes”, disse Summers no programa “Wall Street Week” da Bloomberg.

A inflação agora é notavelmente maior do que nos três episódios anteriores, e o mercado de trabalho está “historicamente apertado” de uma forma que não estava nesses casos, disse ele.

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Summers também fez uma distinção em relação à atual estrutura de política monetária do Fed, que desde meados de 2020 permite uma superação da meta de inflação de 2% para compensar inflação abaixo da meta no passado, e não vê um mercado de trabalho apertado automaticamente como motivo para um endurecimento.

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Nos episódios históricos, o objetivo do Fed era “uma ação preventiva para conter” a economia, disse Summers, colaborador da Bloomberg TV e professor da Universidade de Harvard. “E é isso que este Fed descartou em sua estrutura operacional de 2020.”

Summers disse que compartilha a “esperança de Powell de que um pouso suave seja possível, mas não acho que seja algo com o qual possamos contar”.

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Aperto agressivo

Enquanto Powell e seus colegas estão agora se comprometendo com um ciclo muito mais agressivo de aperto monetário para conter a inflação mais rápida em quatro décadas, Summers disse que ainda há “problemas” com a maneira como o Fed está pensando sobre o desafio à frente.

O aumento do emprego servirá para aumentar a demanda, disse Summers - fazendo pouco para neutralizar as pressões sobre os preços.

Um aumento no desemprego ajudaria a desacelerar os ganhos salariais, mas isso é algo que o Fed tem “se esforçado para prever que não acontecerá”, disse Summers.

“É provável que sejam necessários aumentos das taxas de juros significativamente maiores do que o Fed ou os mercados estão esperando agora”, disse o ex-chefe do Tesouro.

“Acho que precisamos de sinais claros de que estamos preparados para aceitar alguma desaceleração da atividade econômica, se esse for o preço da redução da inflação”, disse. “Caso contrário, estaremos cometendo os erros da década de 70, que acabarão criando a necessidade de uma recessão realmente catastrófica.”

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