Games: pagar jogador em criptoativos é a nova onda na América Latina

Gamers conseguem ganhar até seis vezes mais jogando que trabalhando em seus empregos atuais

Fonte: Decentral Games
Por Ignacio Olivera Doll
22 de Março, 2022 | 07:47 PM

Bloomberg — A Argentina é o país latino-americano em que mais pessoas tentam ganhar criptoativos jogando na internet.

No ranking mundial, os argentinos estão em quinto lugar. Desde o começo do ano, foram 9,4 mil acessos à Decentral Games, a empresa do metaverso que reúne o maior número de jogadores no planeta. No ano passado, os argentinos responderam por apenas algumas centenas de visitas. O Brasil também subiu no ranking global da plataforma, chegando ao sétimo lugar.

Ambos os países enfrentam inflação de dois dígitos. Na Argentina, o aumento de preços passa de 50% em 12 meses e o reajuste dos salários ficou abaixo da inflação nos últimos quatro anos. No Brasil, a inflação dobrou no último ano e passa de 10% no acumulado em 12 meses.

“As tendências na Argentina e no Brasil mostram que os números vão continuar subindo”, disse Gabriel Mellace, diretor de relações com investidores da Decentral Games. “Os jovens não buscam apenas rentabilidade. Eles também querem diversão.”

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Argentina, Brasil e Venezuela são os países latino-americanos com o maior número de usuários na plataforma Axie Infinity, na qual jogadores ganham tokens quando vencem batalhas. Os latino-americanos em geral não têm dinheiro para abrir a própria conta e participam usando um tipo de conta que permite que joguem em nome de americanos, explicou Mauricio Ramos, responsável pela América Latina na Axie.

  Brasil e Argentina sobem no ranking de países com maior número de jogadores de jogos 'pay-to-earn'dfd

Diversas plataformas de games — como Decentral Games, Axie Infinity e Sandbox — exigem que os usuários tenham um token não fungível (NFT na sigla em inglês) para jogar. Por isso, muitos usuários compram “delegações NFT“, que seriam como um aluguel de NFTs. A Decentral Games, por exemplo, exige que os usuários tenham US$ 5,2 mil em NFTs para jogar, o que é muito dinheiro para argentinos e brasileiros, segundo Mellace. Em vez disso, eles jogam em nome de americanos e alemães.

É o caso de Franco Villaflor, de 28 anos. Ele joga pôquer no metaverso em nome de um americano. Fazendo isso três horas por dia, ele ganhou o equivalente a US$ 1,5 mil por mês, aproximadamente o mesmo que recebe como DJ. Esse é o valor líquido que ele embolsou após repassar 40% do ganho ao proprietário do NFT.

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Índice de Preços ao Consumidor no Brasil, EUA e Argentinadfd

O entusiasmo pelos games conhecidos como pay-to-earn não é novidade em países emergentes. O crescimento da Axie Infinity é mais rápido na Ásia, informou Yat Siu, fundador da Animoca Brands, proprietária da Sandbox. Mas a América Latina já responde por 25% dos usuários globais e é a segunda região de maior crescimento, de acordo com ele.

Os argentinos veem benefícios adicionais quando ganham dinheiro nesses jogos. O valor é pago em criptoativos em contas no exterior, permitindo que contornem controles de capital e regulem o quanto trazem para dentro do país.

Jogando pôquer três horas por dia no metaverso em nome de um americano, Javier Espeche ganha seis vezes mais do que fabricando artigos para animais de estimação.

“Minha mãe não entende porque gasto meu tempo jogando em vez de fazer algo útil”, disse Espeche, de 34 anos. “Mas por que trabalhar duro se eu posso ganhar mais assim?"

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