OTAN quer evitar ser arrastada para uma guerra com a Rússia por engano

Autoridades ocidentais estão preocupadas que um episódio mais sério possa desencadear uma escalada e colocá-los em conflito com a Rússia

Un funcionario ruso dijo que habría consecuencias políticas y militares si los países se unían a la alianza
Por Natalia Drozdiak
18 de Março, 2022 | 06:02 PM

Bloomberg — Comandantes militares de países da OTAN estão dialogando por telefone com seus homólogos russos para garantir que os Estados Unidos e seus aliados não sejam arrastados para uma guerra devido a um mal-entendido na fronteira ucraniana.

Nas últimas 24 horas, mísseis russos caíram perto de Lviv, a cidade no oeste da Ucrânia que tem sido um ponto de encontro para pessoas que fogem do conflito. No fim de semana, a Rússia atingiu uma instalação militar na região a cerca de 35 quilômetros da Polônia e na semana passada um drone de reconhecimento sobrevoou vários países do leste europeu antes de cair na capital croata Zagreb.

Autoridades ocidentais estão preocupadas que um episódio mais sério - se digamos que um míssil russo atingir o território da OTAN - possa desencadear uma escalada e colocá-los em conflito com a Rússia.

Um confronto entre as duas maiores potências nucleares do mundo é o cenário de pesadelo que os planejadores militares têm se empenhado para evitar desde que a União Soviética adquiriu sua primeira bomba atômica no início da Guerra Fria. A invasão da Ucrânia trouxe essa perspectiva para os cálculos dos líderes de ambos os lados pela primeira vez em uma geração.

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O presidente russo, Vladimir Putin, colocou suas forças nucleares em alerta máximo no final de fevereiro e alertou a OTAN para não interferir na Ucrânia. O secretário de Estado Antony Blinken disse repetidamente que os EUA estão prontos para defender qualquer incursão da Rússia no território da OTAN.

Mas as autoridades dizem que não querem ser arrastadas para um conflito porque alguém cometeu um erro.

“Com mais atividades militares no ar, com drones, com aviões, há um risco”, disse o secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, a repórteres nesta semana antes de uma cúpula de ministros da defesa da aliança. “Temos que empenhar todos os esforços para evitar incidentes e acidentes dessa natureza e, se acontecerem, garantir que não saiam do controle.”

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As forças russas até agora não tentaram provocar ou engajar forças aliadas, dizem oficiais da OTAN, mesmo enquanto continuam a bombardear cidades ucranianas e tentam se reagrupar depois de falhas e de avanços iniciais retardados pelas tropas ucranianas.

Ainda assim, os comboios de armas que os EUA e seus aliados da OTAN enviam para a Ucrânia são “alvos legítimos” para os militares da Rússia, disse o vice-chanceler Sergei Ryabkov, em 12 de março na televisão estatal, chamando as entregas de “movimento perigoso”.

Isso ocorreu após um alerta anterior do vice-ministro das Relações Exteriores, Alexander Grushko, sobre os perigos do confronto entre a Rússia e a OTAN. “Riscos surgem”, disse Grushko à TV Rossiya 24, em 2 de março.

Do lado da OTAN, Stoltenberg disse que os aliados intensificaram o monitoramento de seu espaço aéreo e fronteiras como resultado do aumento do risco.

A maioria dos países vizinhos da Ucrânia são membros da OTAN, que reune as nações para se defenderem no caso de um ataque. Portanto, um erro de cálculo do lado russo poderia arrastar todos os 30 aliados para o conflito e, mais significativamente, os EUA.

Os aliados estão implantando aviões de vigilância e novas baterias de mísseis Patriot como parte da presença reforçada em suas fronteiras orientais.

Enfrentamos uma nova realidade para nossa segurança devido à invasão ilegal da #Rússia na #Ucrânia. Em resposta, a #OTAN reforçou sua presença defensiva na parte leste da Aliança com mais tropas, aviões e navios. Aqui está a visão geral

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— Oana Lungescu (@NATOpress) 17 de março de 2022

Os Patriots podem derrubar mísseis de ataque e também têm sensores de alta tecnologia que ajudam a identificar o que está no ar, o que é fundamental para evitar mal-entendidos, disseram altos funcionários militares da OTAN. Além disso, os aliados já têm patrulhas aéreas de combate vasculhando os céus para que não precisem sair do solo caso haja a necessidade de reagir rapidamente, disseram as autoridades.

As conversas entre comandantes militares dos dois lados não são fáceis, de acordo com um diplomata europeu sênior. Mas as autoridades trocam informações sobre movimentos de tropas e outros planos, contou o diplomata.

Os EUA criaram um mecanismo semelhante na Síria para evitar conflitos com as forças russas. Em agosto de 2020, após relatos de uma colisão com veículos russos, o Pentágono disse que as tropas dos EUA seriam acionadas como resultado do comportamento agressivo da Rússia, que violou esse acordo e elogiou seu pessoal no terreno por atenuar o encontro por meio de contenção.

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Em momentos de tensão como este, a história pode servir de gatilho para os julgamentos e a compostura de um único indivíduo.

Durante a crise dos mísseis cubanos em 1962, um submarino chegou perto de lançar um míssil nuclear nos EUA. Quando os EUA lançaram explosivos destinados a forçar o submarino à emergir na superfície para identificação, seu capitão acreditou que a guerra poderia ter estourado. O ataque nuclear foi evitado por outro oficial que se recusou a dar sua autorização.

Se um projétil russo pousasse dentro das fronteiras de um país da OTAN, haveria uma cuidadosa investigação militar para determinar se o incidente foi acidental ou intencional, disse um diplomata europeu. Se os aliados concluíssem que foi um ataque deliberado, isso poderia ser suficiente para eles desencadearem o artigo 5 da carta da OTAN, o que significa que os EUA e seus aliados estariam em guerra com a Rússia.

No caso da queda do drone e do recente ataque com mísseis na Ucrânia, há uma diferença significativa entre os dois incidentes, disse o ministro da Defesa holandês, Kajsa Ollongren, em entrevista.

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A investigação sobre o episódio do drone está em andamento, mas “todos presumimos que foi acidental”, disse Ollongren na quarta-feira (16). O ataque aéreo russo perto da fronteira polonesa teve como alvo uma instalação militar na Ucrânia “portanto, não foi inesperado”.

Washington e seus aliados da OTAN também estão tentando impedir Moscou de cometer um erro de cálculo estratégico.

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Os EUA e outros membros da OTAN intensificaram sua presença com mais tropas terrestres, marítimas e aéreas na parte leste da aliança, incluindo a Polônia. A OTAN também consolidou suas forças sob o comando do Comandante Supremo Aliado da Europa, Tod Wolters, um ex-piloto de caça que lutou no Iraque e no Afeganistão.

“Ninguém quer ver essa guerra se intensificar além de onde já está”, disse o porta-voz do Pentágono, John Kirby, quando questionado sobre o risco do envolvimento dos países da OTAN, em uma entrevista à Bloomberg Television na quinta-feira (17). “É por isso que nossa mensagem foi muito clara: vamos garantir que possamos defender o território da OTAN.”

– Com a colaboração de John Follain, Piotr Skolimowski, Anthony Halpin e Maria Tadeo.

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– Esta notícia foi traduzida por Marcelle Castro, Localization Specialist da Bloomberg Línea.

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