Onze anos depois, Síria ainda tem a maior crise de deslocamento forçado do mundo

No período, países vizinhos receberam mais de 5,6 milhões de refugiados sírios – a grande maioria dos refugiados do mundo todo

A refugiada síria Fatima Al Mahmoud, no assentamento informal em Minyeh, norte do Líbano, onde sua família mora.
16 de Março, 2022 | 04:17 PM

Bloomberg Línea — Quinze de março de 2011. Esta é a data que marca o início da guerra na Síria, conflito que já causou quase meio milhão de mortes e pelo menos 13 milhões de deslocamentos forçados, seja para fora do país ou internamente.

De acordo com a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), 11 anos depois do início do conflito, a Síria continua sendo palco da maior crise de deslocamento forçado do mundo. No período, países vizinhos receberam mais de 5,6 milhões de refugiados sírios – a grande maioria dos deslocados em todo o mundo.

Os dados vêm na esteira dos deslocamentos causados pela guerra na Ucrânia, que, também segundo a ONU, já forçou 3 milhões de pessoas a saírem do país ao longo das fronteiras europeias. Nesta quarta-feira, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento fez o alerta: a guerra por lá ameaça jogar 90% da população do país para baixo da linha da pobreza.

O caso da Síria

A agência ressalta que a maioria das pessoas refugiadas sírias na região vive na pobreza, e que as condições são especialmente mais severas para mães solteiras, crianças e pessoas com deficiência.

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Dados das Nações Unidas mostram que, apenas em 2021, quase 900 crianças na Síria perderam a vida ou ficaram feridas, elevando o número total de mortos e feridos, desde o início da guerra, para perto de 13 mil.

No Líbano, a situação dos refugiados como um todo também é grave: mais de 90% dos sírios vivem em situação de extrema pobreza, juntamente com o número crescente de pessoas das comunidades que os acolhem.

País vizinho, a Turquia continua a abrigar a maior população de refugiados do mundo, incluindo mais de 3,7 milhões de sírios, seguidos do Líbano e Jordânia, países com o maior número de refugiados per capita globalmente.

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Resistência

Do outro lado, estão os que preferem retornar ou não deixar suas casas. Em 2021, cerca de 36 mil refugiados retornaram à Síria, também de acordo com a ACNUR. Entre os motivos citados estão a segurança, direitos de propriedade e oportunidades de subsistência.

Ao mesmo tempo, muitos dos sírios deslocados dentro do próprio país voltaram para casa, aumentando as necessidades de reintegração.

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Fora do país, a agência destaca também que a situação poderia ser ainda pior, isso se países de acolhida não estivessem tomando algumas medidas como permitir o acesso dos refugiados ao mercado de trabalho, cuidados de saúde pública e diversos outros serviços.

Ainda assim, internamente, no ano de 2021 ao menos três quartos de todas as famílias que seguem no país disseram não conseguir atender às suas necessidades mais básicas – 10% a mais do que no ano anterior.

“Há também a necessidade de aumentar as oportunidades de reassentamento para os refugiados sírios mais vulneráveis”, diz a nota da Agência da ONU para Refugiados.

No último ano, menos da metade do financiamento necessário para o Plano Regional de Refugiados e Resiliência para responder à crise de refugiados na Síria foi recebido. Com isso, organizações humanitárias têm exigido urgentemente mais recursos necessários para fortalecer o trabalho dentro do país.

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Melina Flynn

Melina Flynn é jornalista naturalizada brasileira, estudou Artes Cênicas e Comunicação Social, e passou por veículos como G1, RBS TV e TC, plataforma de inteligência de mercado, onde se especializou em política e economia, e hoje coordena a operação multimídia da Bloomberg Linea no Brasil.