De cerveja a semicondutores: entenda como uma guerra prolongada afeta a economia

Análise da Moody’s Analytics mostra que uma guerra prolongada prejudicaria os estados dos EUA de diferentes maneiras

Diante de uma guerra prolongada, os EUA poderiam evitar uma recessão - porém o cenário é incerto
Por Rich Miller
15 de Março, 2022 | 05:20 PM

Bloomberg — Um conflito mais prolongado entre a Rússia e a Ucrânia atingiria em cheio a economia dos Estados Unidos como um todo, com todos os 50 estados do país afetados diretamente, de acordo com uma análise da Moody’s Analytics.

Com os laços comerciais ainda mais limitados dos Estados Unidos com a Rússia e a Ucrânia, de cervejarias no Missouri até fábricas de semicondutores na Califórnia sentiriam um grande impacto, já que o combate prolongado e sanções mais duras restringiriam os suprimentos, aumentando os preços globais do petróleo e outros materiais fundamentais.

“As probabilidades são muito melhores do que até mesmo de vivermos realmente uma recessão nesse cenário”, disse o economista-chefe da Moody’s, Mark Zandi.

Alguns estados se sairiam melhor do que outros, de acordo com a análise baseada nos efeitos de um conflito militar até o próximo ano.

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Estados produtores de energia como Dakota do Norte e Alasca se destacam nesse aspecto, com um longo conflito elevando os preços do petróleo para US$ 150 o barril, com a Rússia reduzindo o fornecimento de energia para a Europa. Por outro lado, Alabama e Mississippi - os dois estados mais dependentes de carros e direção - sofreriam desproporcionalmente com um choque de energia.

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A análise, feita pelo economista regional sênior da Moody’s Analytics, Adam Kamins, mostra que uma guerra prolongada prejudicaria os estados e localidades do país de várias maneiras, algumas delas não imediatamente aparentes.

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  • As montadoras de Michigan seriam atingidas pela contínua escassez de chips, já que as fábricas de semicondutores lidam com cortes no fornecimento ucraniano de neônio, um elemento químico utilizado em lasers. Os preços mais altos do paládio, metal usado em catalisadores e um importante produto de exportação russo, também afetariam as montadoras.
  • Os preços dos condomínios de luxo na cidade de Nova York e no sul da Flórida podem cair, já que os oligarcas russos estão congelados fora desses mercados.
  • Os agricultores veriam efeitos mistos. Alguns se beneficiariam com os preços mais altos do trigo e do milho, já que os suprimentos da Ucrânia - o celeiro da Europa - seriam reduzidos. Eles teriam, no entanto, que pagar pelo fertilizante, uma importante exportação da região.
  • Com isso, os produtores de gado acabariam gastando mais em ração, enquanto os preços mais altos da cevada afetariam os fabricantes de cerveja nacionais e especificamente em St. Louis.
  • Estados com maior exposição aos mercados financeiros, como Nova York e Connecticut, estariam sob pressão, já que as hostilidades após a ocupação russa da Ucrânia aumentam a incerteza e prejudicam ainda mais os preços das ações.
  • Washington e Carolina do Sul, os dois estados que mais exportam proporcionalmente para Rússia e Ucrânia, seriam prejudicados. As remessas afetadas provavelmente incluiriam equipamentos de transporte de Washington e autopeças da Carolina do Sul.

Um modelo de computador da Moody’s Analytics sugere que os Estados Unidos como um todo seriam capazes de evitar uma recessão, mesmo que as hostilidades militares fossem prolongadas. Mas o economista-chefe da Moodys, Zandi, tem suas dúvidas.

“Modelos assim são muito bons em situações comuns”, diz Zandi. Já em momentos de alto estresse social e em cenários incomuns, “o mundo vai ao que eu chamaria de momento não-linear, com tudo saindo dos trilhos”.

– Esta notícia foi traduzida por Melina Flynn, Content Producer da Bloomberg Línea.

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