Trigo sobe 10% sem perspectiva de acordo entre Rússia e Ucrânia

No Brasil, moinhos descartam desabastecimento, mas passam a lidar com uma nova realidade de preços na compra do cereal

Preços em Chicago superam o valor do dia da invasão e moinhos do Brasil começam a se preocupar
28 de Fevereiro, 2022 | 04:56 PM

Bloomberg Línea — As cotações do trigo registraram uma valorização de 10,05% no pregão desta segunda-feira (28/02) na Bolsa de Chicago. O contrato com vencimento em março terminou o primeiro pregão da semana cotado a US$ 9,27 por bushel. O patamar alcançado hoje supera o valor do trigo na última quinta-feira (24/02), dia em que as tropas russas iniciaram a invasão à Ucrânia.

No caso do milho, o mercado também se manteve em alta. Os contratos com vencimento em março fecharam o dia com ganhos de 5,7%, cotados a US$ 6,97 por bushel. Sem uma relação direta, as cotações da soja seguiram na esteira dos cereais e também subiram. A entrega para março avançou 3,65% a US$ 16,48 por bushel.

A alta no mercado de commodities reflete a indefinição a respeito do conflito entre Rússia e Ucrânia. Apesar de ambos os países terem sinalizado que as negociações continuarão amanhã, ainda não há qualquer perspectiva para um acordo de cessar-fogo. Assim, o sentimento do mercado é que as retaliações dos Estados Unidos e da Europa sobre a Rússia, além de mantidas, podem ser ainda mais intensificadas. Do outro lado, a Rússia continuará revidando e dando respostas ao mundo ocidental.

Nesse embate, o comércio de commodities agrícolas na região do Mar Negro segue prejudicado. Os comerciantes já não conseguem mais financiar suas operações com os bancos russos impossibilitados de fazer operações comerciais e os demais ainda estão tentando entender os exatos limites para operar com empresas russas. Além disso, as empresas de seguro que tradicionalmente operam garantindo o transporte das cargas já não querem gerar novas apólices ou pedem prêmios elevados para o seguro. Com isso, os embarques no Mar Negro ficaram praticamente paralizados.

No Brasil, os moinhos não esperam por problemas no abastecimento doméstico e eventual falta do produto. Historicamente, as indústrias nacionais se abastecem na Argentina, onde a oferta segue estável e sem dificuldades na aquisição da matéria-prima. Contudo, os negócios fechados com a Argentina têm como base os preços praticados na bolsa de Chicago, que tendem a seguir em alta enquanto o conflito entre Rússia e Ucrânia se mantiver indefinido.

Alexandre Inacio

Jornalista brasileiro, com mais de 20 anos de carreira, editor da Bloomberg Línea. Com passagens pela Gazeta Mercantil, Broadcast (Agência Estado) e Valor Econômico, também atuou como chefe de comunicação de multinacionais, órgãos públicos e como consultor de inteligência de mercado de commodities.