Chernobyl não é a maior ameaça nuclear na Ucrânia no momento

País conta com 15 reatores ativos, que, devido à sua fragilidade, podem causar acidentes com a escalada dos conflitos

Local abrigava a usina de Chernobyl, que teve um acidente nuclear em 1986
Por Jonathan Tirone
27 de Fevereiro, 2022 | 07:05 AM

Bloomberg — As forças russas assumiram o controle da extinta usina nuclear da Ucrânia em Chernobyl, provocando especulações de que o local do colapso de 1986 poderia ser novamente a fonte de um perigoso incidente radioativo. Mas os especialistas estão mais preocupados com os 15 reatores atômicos operacionais da Ucrânia.

Chernobyl permanece no imaginário em todo o mundo por causa do acidente de 1986, que levou a muitas mortes e subsequentes tentativas soviéticas de encobrir os danos e o impacto. Hoje, a usina desativada está no coração de uma vasta zona de exclusão e um sarcófago protetor envolve o mais atingido dos quatro reatores.

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A radiação residual da usina continuará perigosa por séculos. Mas especialistas afirmam que a ameaça da liberação de radiação por incêndios florestais que lançam plumas de material irradiado na atmosfera é possivelmente tão grande quanto os riscos representados pelo conflito atual.

Chernobyl fica em uma rota estratégica usada pelas forças russas que se deslocam para o sul saindo da Bielorrússia rumo à capital ucraniana, Kiev. As forças russas lá “não conseguirão causar um desastre, mesmo usando os explosivos mais fortes possíveis”, escreveu Dana Drabova, chefe do escritório estatal de segurança nuclear da República Tcheca.

Qualquer contaminação só se espalharia por cerca de 30 km, bem dentro da ampla zona de exclusão de 2,6 mil km² criada em torno dos reatores desativados, disse ela.

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Por outro lado, 15 outros reatores nucleares ainda funcionam em quatro usinas diferentes espalhadas pelo país.

São 15 ativos; todos da época da União Soviética

O risco muito maior são as atividades militares que podem afetar esses reatores geradores de energia no meio de uma guerra. Alguns são antigos modelos soviéticos frágeis que não teriam permissão para operar na União Europeia por razões de segurança.

Esses reatores estão cheios de combustível nuclear fresco com potencial para transformar uma conflagração regional em um pesadelo continental se um foguete perdido, projétil ou ato de sabotagem criasse um incidente de segurança.

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James Acton, analista nuclear do Carnegie Endowment for International Peace, escreveu em um relatório na quinta-feira (24) que ataques à infraestrutura elétrica da Ucrânia podem trazer graves consequências para a segurança nuclear. Os reatores requerem fornecimento constante de eletricidade e água, os quais podem ser colocados em risco por uma ação militar. Além disso, há o fator humano.

“Para a equipe da usina nuclear ucraniana, apenas chegar ao trabalho pode ser um ato perigoso – tornando possivelmente um problema garantir que o reator possa operar com segurança”, disse Acton em nota. “No caso de um acidente, o pessoal de apoio, como bombeiros, pode não conseguir chegar à usina – até porque podem estar envolvidos em auxílio a civis.

Os perigos decorrentes dos combates em torno das quatro usinas nucleares ativas da Ucrânia – que contêm 15 reatores e não estão dentro de grandes zonas de exclusão – são quase certamente maiores do que em Chernobyl.

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Monitores da Agência Internacional de Energia Atômica, ou AIEA, afirmam estar gravemente preocupados com a situação e continuam em contato com os reguladores de segurança nuclear ucranianos. “A AIEA está monitorando de perto os acontecimentos na Ucrânia com foco especial na segurança e proteção de suas usinas nucleares”, disse o diretor-geral Rafael Mariano Grossi.

--Com a colaboração de Peter Laca e Jeremy Diamond.

--Este texto foi traduzido por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.

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