Preços de energia disparam após Rússia atacar alvos na Ucrânia

A crise coloca o abastecimento de combustível na Europa - que já está no meio de uma crise de energia - em risco ainda maior

Una columna de humo se eleva del aeropuerto de Chuguyev en Ucrania
Por Anna Shiryaevskaya
24 de Fevereiro, 2022 | 10:00 AM

Bloomberg — Os preços da energia dispararam depois que as forças russas atacaram alvos em toda a Ucrânia em um esforço para desmilitarizar o país. O Ocidente prometeu mais sanções.

Os futuros de referência holandeses ganharam até 41% em seu quarto avanço diário consecutivo. A energia alemã para março subiu até 31%. Os preços subiram ao longo da semana à medida que as tensões sobre a Ucrânia se intensificaram. O carvão também subiu.

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A Rússia lançou uma enxurrada de ataques com mísseis na quinta-feira (24), desencadeando a pior crise de segurança que a Europa testemunhou em décadas. O Ministério do Interior da Ucrânia alertou que a capital, Kiev, estava sendo alvo e pediu aos cidadãos que fossem para abrigos. A guarda de fronteira da Ucrânia avisou que estava sendo bombardeada em cinco regiões, incluindo a Crimeia, ao sul, e a Bielorrússia, ao norte.

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Em um discurso televisionado nacionalmente antes da ofensiva, Putin disse que a Rússia não planeja “ocupar” seu vizinho do sul, mas que a ação era necessária depois que os Estados Unidos e seus aliados cruzaram a “linha vermelha” da Rússia ao expandir a aliança da OTAN. O presidente dos EUA, Joe Biden, chamou a ação de Putin de “um ataque não provocado e injustificado” e disse que “o mundo responsabilizará a Rússia”.

Biden disse que se reuniria com seus colegas do Grupo dos Sete na quinta-feira (24) e depois falaria com o povo americano para anunciar novas punições que seriam impostas a Moscou. Quaisquer sanções que restrinjam o acesso da Rússia à moeda estrangeira podem derrubar os mercados de commodities, de petróleo e gás a metais e alimentos.

“O quadro maior dependerá fortemente de como a Europa e os EUA responderão”, disse Hans van Cleef, economista sênior de energia do ABN Amro. “Eles vão aplicar sanções contra o setor de petróleo e gás ou não?”

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Se esse setor for poupado, o rali pode perder força em breve, disse ele. Os preços do petróleo Brent saltaram acima de US$ 100 o barril pela primeira vez desde 2014 em meio aos últimos desenvolvimentos.

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A crise coloca o abastecimento de combustível na Europa - que já está no meio de uma crise de energia - em risco ainda maior. O continente depende da Rússia para mais de um terço de seu suprimento de gás, e os baixos estoques do combustível no ano passado levaram os preços a níveis recordes. A Rússia pretende manter seu fornecimento de gás no exterior “ininterrupto”, segundo afirmou o ministro da Energia, Nikolai Shulginov, no início desta semana.

Fornecimento de combustível

“Se o Ocidente decidir cortar a Rússia do SWIFT, os pagamentos pelo fornecimento de gás russo se tornarão impossíveis”, disse Katja Yafimava, pesquisadora sênior do Instituto Oxford de Estudos de Energia, referindo-se à rede de mensagens usada pelos bancos.

“Isso seria uma causa de força maior contratual, levando a uma interrupção no fornecimento, com consequências dramáticas para os consumidores europeus em termos de disponibilidade física e perspectivas de preço”, disse ela.

A Alemanha já suspendeu a certificação do gasoduto Nord Stream 2, que enviaria gás diretamente da Rússia para a Europa. Os EUA adicionaram na quarta-feira (24) o projeto às suas sanções contra a Rússia. É improvável que o oleoduto comece a médio prazo por causa do ataque russo, disse o vice-chanceler da Alemanha, Robert Habeck, na quinta-feira (24).

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Em meio à maior incerteza sobre os fluxos de gás russos, analistas do Goldman Sachs, do Wood Mackenzie e da Rystad Energy prevêem que os preços mais altos durem até o final deste ano devido a um déficit do combustível usado na geração de energia, indústria e aquecimento. Os fluxos russos já foram contidos desde o segundo semestre do ano passado.

“Depois desta manhã sombria, temos que estar preparados para que o gás russo se destine apenas para países selecionados da União Europeia”, disse Thierry Bros, professor do Instituto de Estudos Políticos de Paris. “Isso colocará mais pressão na UE, tanto na perspectiva energética quanto diplomática.”

Os contratos futuros de gás de referência na Holanda chegaram a 125 euros por megawatt-hora, o nível mais alto desde 23 de dezembro. Eles foram negociados 19% mais altos a 106,11 euros por megawatt-hora às 9h10, em Amsterdã. A energia alemã para março atingiu 260 euros por megawatt-hora, a maior desde 7 de janeiro. O carvão europeu para o próximo ano ganhou até 13%, para US$ 145 a tonelada na ICE Futures Europe.

Fluxos da Ucrânia

A União Europeia está planejando uma cúpula de emergência presencial dos líderes do bloco na quinta-feira (24) para discutir a crise. A Europa terá que competir com a Ásia por gás natural liquefeito caso os fluxos de gasodutos da Rússia sejam interrompidos como resultado da crise.

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O exportador de gás russo, Gazprom PJSC, declarou na quinta-feira (24) que o envio do gás para a Europa via Ucrânia está normalizado.

No entanto, cerca de um terço do gás da Rússia para a Europa normalmente flui via Ucrânia, e analistas disseram que qualquer escalada do conflito pode interromper esses fluxos.

“No caso de interrupção prolongada, o estoque de gás não poderia ser repostos durante o verão”, disse Kateryna Filippenko, analista principal de pesquisa de gás na Europa da WoodMac, em nota enviada por e-mail na quarta-feira (23). “Estaríamos diante de uma situação catastrófica de armazenamento de gás próximo de zero para o próximo inverno. Os preços seriam altíssimos. As indústrias precisariam fechar. A inflação entraria em espiral. A crise energética europeia pode muito bem desencadear uma recessão global”.

– Com a colaboração de Isis Almeida, Jesper Starn e Stephen Stapczynski.

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– Esta notícia foi traduzida por Marcelle Castro, localization specialist da Bloomberg Línea.

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